São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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Moradores voltam a área de risco no Rio

Obras emergenciais reabriram vias, mas há encostas expostas e habitação social não começou a ser construída

Atraso na recuperação de Teresópolis desanima população, à véspera de nova temporada de chuvas

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A TERESÓPOLIS

De sua varanda, Deodora da Conceição tem uma vista que lembra aqueles filmes sobre o dia seguinte a uma explosão nuclear: esqueletos de construções destelhadas, troncos retorcidos, blocos de pedra imensos, e a lama envolvendo tudo.
A marca vermelha numa parede lateral indica que a casa em Campo Grande, em Teresópolis, na região serrana do Rio, é uma das condenadas depois da tromba-d'água de 12 de janeiro. A tempestade fez o morro desabar, o rio do Príncipe mudar de leito, e destroçou o bairro em que moravam cerca de 1.200 pessoas.
Conceição passou três meses pagando aluguel. Depois, foi à Justiça para que a luz fosse religada, e diz que nem ela nem os dois filhos sairão outra vez do conjunto de três moradias que ficou de pé apesar de tudo.
"Marcaram porque são bestas. Pobre leva muito tempo para fazer casa. Vão desmanchar assim?"
Como a dela, mais cerca de 70 famílias voltaram à área de risco em que vivia parte das vítimas do pior desastre já ocorrido na serra, que matou mais de 900 pessoas em sete cidades.
Elas se queixam do atraso no pagamento da indenização negociada com o Estado, da especulação que desvalorizou o aluguel social de R$ 500, e, no caso dos mais pobres, da demora no início da construção das 6.840 casas do programa Minha Casa, Minha Vida prometidas.
"Quem não morreu voltou", diz Maximiliano Cardoso, que era dono da pousada Pedra do Sino.
Sem medo das chuvas do verão que se aproxima, Cardoso mora com a mulher no que restou do hotel de 16 quartos. Não conseguiu que religassem a água. Mas tem luz e até internet. "Não deixei interditar. Querem derrubar, mas não pagam."
O Instituto Estadual do Ambiente afirma que os R$ 15 milhões para as indenizações que lhe cabem já foram liberados, e o pagamento começa em novembro.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Rio estimou o custo da reconstrução da serra em R$ 4,1 bilhões. Segundo seu relatório, um décimo do valor foi liberado pelos governos estadual e federal até setembro.
Foram feitas obras emergenciais de desobstrução de vias e limpeza de rios. Mas em locais como o bairro Fisher, na zona rural de Teresópolis, as encostas barrentas continuam expostas.
Em junho, foi anunciado que a construção das casas populares começaria neste mês, mas o programa ainda está na fase de chamamento, para que as construtoras apresentem os projetos.
Nina Benedito, da Associação de Vítimas das Chuvas, diz que o desânimo foi acentuado pela crise política.
O prefeito na época da tempestade, Jorge Mário (ex-PT), foi afastado sob a suspeita de desvio de verbas. Seu vice e sucessor morreu, e o presidente da Câmara, Arlei Rosa (PMDB), assumiu em agosto.
A Controladoria Geral da União bloqueou o que restava dos R$ 7 milhões repassados em janeiro pelo Ministério da Integração. Agora, examina a prestação de contas reenviada pelo novo prefeito.



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