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DESEDUCAÇÃO NO TRÂNSITO
Emissoras FM voltadas para jovens fazem promoção para turbinar veículo e exaltam velocidade
Rádios prometem carros "velozes e furiosos"
ALENCAR IZIDORO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A moda de equipar os carros para deixá-los mais potentes e com
visual extravagante levou duas
emissoras de rádio FM de São
Paulo a fazer promoções na contramão do que pregam os especialistas em segurança viária.
Quem vencer terá um veículo
personalizado, com pintura e faróis especiais, rodas e pneus esportivos, dentre outros acessórios, e turbinado -com kits turbo e nitro para aumentar a potência do motor, equipamentos tradicionalmente relacionados às
fortes arrancadas, altas velocidades e rachas automobilísticos.
O excesso de velocidade é uma
das principais causas de morte no
trânsito no Brasil e no mundo.
As promoções foram lançadas
por duas emissoras concorrentes,
voltadas ao público jovem, a Mix
e a Metropolitana, no embalo da
moda do tuning, que ganhou impulso em razão do filme "Velozes
e Furiosos", lançado em 2001, que
trata do submundo das corridas
de rua em Los Angeles.
O termo "carro tunado" -que
vem da palavra tuning- é uma
versão atualizada dos antigos
"carros envenenados". Trata-se
da instalação de equipamentos e
acessórios para torná-los radicais.
São Paulo teve seu primeiro salão de tuning em 2005, com 65 mil
visitantes e 96 expositores.
"O carro tunado é a grande febre da garotada", afirma Celso
Rodrigues, diretor de promoções
da Metropolitana, que fará as mudanças no carro do próprio ganhador, a ser sorteado no próximo dia 20. Com 87,4 mil ouvintes
por minuto, a rádio ficou na sétima posição do ranking de audiência do Ibope em agosto na Grande
São Paulo.
"A molecada gosta muito de
carro tunado", diz Marcos Vicca,
coordenador artístico da Mix,
sexta no ranking, com 92,5 mil
ouvintes por minuto, e que vai dar
no mês que vem um carro já equipado, com modelo a ser definido.
As promoções são abertas a menores de idade. A apologia à velocidade é feita também pelo teor
das propagandas.
"Tudo o que você sempre sonhou para ter um carro veloz e furioso", exalta a Mix. "O que
adianta ter tudo isso de equipamento [rodas esportivas, pintura
especial] pra deixar bonito sem
ter um motor bom, não é verdade? Então vamos turbinar seu carro também", diz a Metropolitana.
Sentido oposto
"O que será feito com um carro
turbinado? Não é para ficar parado no congestionamento", afirma
Ailton Brasiliense Pires, diretor-presidente do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
"Isso vai no sentido oposto da
educação no trânsito", avalia
Cristina Baddini, da ANTP (Associação Nacional de Transportes
Públicos). A contrariedade dos
especialistas aumenta pelo fato de
os jovens serem as principais vítimas do trânsito. No final dos anos
90, os que tinham de 18 a 30 anos
representavam 52% das mortes
em acidentes em São Paulo.
A polêmica é agravada pela dificuldade de ter um carro turbinado de forma regular e segura no
país. Não é à toa que as rádios incluem no regulamento ressalvas.
A lei não proíbe a instalação do
turbo, mas as exigências para fazer as mudanças levam a maioria
a dispensar as regras legais.
O procedimento correto abrange a autorização prévia do Detran
(Departamento Estadual de Trânsito), entrega das notas fiscais de
todos os equipamentos, realização de vistoria em oficina credenciada pelo Inmetro e alterações no
documento e no valor do IPVA
-com o pagamento de taxas.
O problema na oferta das rádios, apontado por especialistas
ouvidos pela Folha, é que a lei
proíbe alterações na suspensão de
carros de passeio ou de uso misto.
E, segundo eles, aumentar a potência do motor sem mudar o
freio e a suspensão só eleva os riscos. "Eu me recuso a dar um certificado de segurança veicular nessas condições", diz Roberto Petruci, engenheiro da Cetra, uma
das oficinas credenciadas a fazer
as vistorias em São Paulo.
Logo que tirou a carteira de habilitação, aos 18 anos, Celso já colocou turbo no seu carro. Por que
fez isso?. "Dá prazer em dizer:
meu carro é turbinado", conta.
Treze anos se passaram e o comerciante continua modificando
o motor do seu veículo. Agora,
Celso tem um Gol, que vale R$ 10
mil. Para colocar o turbo, ele gastou R$ 15 mil. "O que mais gosto é
o "espirro" [ruído] que faz quando
você troca as marchas. Isso é uma
coisa que seduz", relata.
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