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Caçadores matam guia do Ibama em tocaia
Equipe foi atacada a tiros por traficantes de tartarugas quando navegava em rio de Roraima; 2 pessoas ficaram feridas
Criminosos fugiram com a lancha onde estava o corpo; PF investiga se o ataque foi uma reação ao aumento da fiscalização na região
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Uma equipe do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis) foi alvo de emboscada de caçadores ilegais de
tartarugas anteontem em Roraima. Uma pessoa morreu e
duas ficaram feridas.
O grupo formado por dois
servidores do instituto e três
guias locais contratados como
colaboradores navegava no rio
Água Boa do Univini (afluente
do rio Branco), área de difícil
acesso em Caracaraí (RR),
quando foi atacado a tiros.
A superintendente do Ibama
em Roraima informou que a
Polícia Federal investiga se o
conflito foi uma reação contra a
fiscalização na área.
Os funcionários atacados integram o projeto do Ibama
Quelônios da Amazônia -de
manejo e proteção dos principais quelônios da região. Quelônios são uma ordem (que inclui tartarugas, cágados e jabutis) dentro da classe dos répteis.
O executor do projeto, o analista ambiental e veterinário do
Ibama Raimundo Pereira Cruz,
integrava o grupo e é um dos feridos -o outro baleado é o guia
Josué Silva, que está em estado
grave. O guia José Santos Cruz
foi morto. A equipe estava na
região desde segunda.
A superintendente do Ibama
de Roraima, Nilva Baraúna,
disse que a equipe sofreu a emboscada quando seguia, de lancha, para o acampamento.
"Eles estavam dentro do barco
quando fizeram uma curva e foram atacados a tiros. Eles [caçadores] estavam de tocaia. O pessoal do Ibama não estava armado e não revidou."
Segundo Nilva, os sobreviventes relataram que foram
obrigados a pular na água -inclusive os feridos-, enquanto
os atacantes fugiam com a lancha, onde estava o corpo do
guia José Santos Cruz.
Nesse momento, o grupo se
separou. Raimundo Cruz nadou até uma praia fluvial, onde
se escondeu. Ele foi encontrado
ontem, ferido na perna.
O piloto da lancha e chefe
substituto do escritório do Ibama em Caracaraí, José Silva
Araújo, e dois guias -entre eles
Josué Silva, que ficou ferido-
conseguiram chegar, por volta
das 6h de ontem, a um hotel de
selva próximo ao local do conflito, na região do baixo rio
Branco, onde foram socorridos.
Um gerente do hotel acionou o
Ibama via rádio.
O guia Josué Silva foi levado
de avião até Boa Vista, onde foi
internado em estado grave.
Até a conclusão desta edição,
a lancha e o corpo do guia José
Santos Cruz não tinham sido
encontrados.
Investigação
Dois aviões e um helicóptero
do governo de Roraima partiram de Boa Vista na tarde de
ontem para a região do conflito.
As aeronaves transportavam
equipes das polícias Federal e
Militar para a investigação do
caso e busca dos caçadores, que
seriam seis homens.
Uma das hipóteses é que o
ataque tenha sido uma reação
contra a fiscalização na área.
Há 15 dias, uma equipe da 15
fiscais da Femact (órgão ambiental de Roraima), acompanhada por cinco policiais militares, está na região do baixo
rio Branco em ação de combate
à captura de quelônios.
Na última sexta-feira, o Ibama apreendeu dez tartarugas
no porto fluvial de Caracaraí.
Chamados de tartarugueiros,
os caçadores praticam comércio ilegal de quelônios para as
cidades de Manaus (AM) e Belém (PA). Eles capturam as tartarugas -muitas delas filhotes- e as mantêm em criadouros clandestinos até que barcos
façam o traslado.
A direção nacional do Ibama
informou ontem que o crime
em Roraima não foi o primeiro
envolvendo funcionários do órgão. Como exemplo, a assessoria do Ibama citou o assassinato, em 2001, de João Dantas de
Brito, então chefe da unidade
de Floresta Nacional do Ibama
em Nísia Floresta (RN).
As operações de combate ao
tráfico de tartarugas na região
amazônica são realizadas com
freqüência pelas polícias Federal e Militar e pelo Ibama.
Na região do baixo rio Branco, em Roraima, 680 tartarugas
foram apreendidas em criadouros clandestinos durante operação em dezembro de 2005.
Naquela área, traficantes de
tartarugas aproveitam a vazante (período em que um rio apresenta o menor volume de águas) do rio Branco para aprisionar os quelônios.
Colaboraram JOSÉ EDUARDO RONDON, da
Agência Folha, e a Sucursal de Brasília
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