São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Idosa que testemunhou acidente diz que sempre teve pavor de avião

Laurinda Ramos Joaquim, 91, sofreu um infarto ao presenciar queda do Learjet

Marcelo Justo/Folha Imagem
Laurinda Joaquim, que sofreu infarto após queda de Learjet


AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela tem pavor de avião -a única vez que teve de enfrentar o medo de entrar em uma aeronave foi há cerca de dez anos, quando o filho, que morava em Curitiba, ficou muito doente. "Sempre dizia que um avião ia me pegar", diz dona Laurinda Ramos Joaquim, 91.
Há 12 dias, isso quase ocorreu. Ela sofreu um infarto ao ver um Learjet despencar sobre casas na rua Bernardino de Sena, na zona norte de São Paulo, e matar oito pessoas no dia 4 de novembro.
"Ouvi um barulho muito alto e vi o avião com uma lava de fogo embaixo. Tentei gritar e correr, mas fiquei paralisada", lembra ela, que mora numa rua vizinha à atingida. Seu corpo começou a tremer muito e dona Laurinda sentiu uma dor forte no peito. Era o infarto.
"Foi um susto muito grande. Eles [vizinhos] não mereciam morrer daquele jeito", diz.
Até o acidente, dona Laurinda diz que nunca havia sofrido nem sequer de uma dor de cabeça. Muito ativa, andava a pé e de ônibus para visitar suas igrejas preferidas -a de Santana, onde se casou, e a de São Judas Tadeu, no Jabaquara. E tomava religiosamente uma "pinguinha com Coca-Cola".
Quando teve alta, na terça-feira passada, queria chegar logo à casa da filha para comer caldo de feijão com macarrão. "A nutricionista do hospital era tão simpática, mas a comida... Preferia comer pão puro."
Ela não tem mais nenhuma reclamação do período em que ficou internada. Prometeu ao médico que cuidou dela e à sua equipe que levará lasanha e queijadinha quando estiver mais disposta. Enquanto tem de ficar de repouso, a dona-de-casa exemplar aproveita para ver jogos de futebol. É fanática pelo Corinthians. "Não faz mal que ele esteja ruim agora."
Também adora ir para uma chácara em Capela do Alto, na região de Sorocaba. "Lá não se ouve nada. Nem carro. Nem avião." Outro de seus hobbies é devorar jornais e revistas. Um dos últimos textos que leu foi uma reportagem sobre a mãe de Renan Calheiros. "Fiquei com dó dela. Mãe é mãe."
Seu maior desejo é que os filhos não a "tranquem em casa" e que ela possa voltar às atividades normais. Isso inclui ir à feira, cozinhar, lavar e passar. "Eu sou capaz de passar roupa por cinco horas seguidas", diz.
Neta de dona Laurinda, a advogada Daniela Mattiussi, 31, pretende entrar com uma ação de indenização contra a empresa Reali Táxi Aéreo.


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