São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Jovens incorporam estilo "Betty, a Feia" como pop

Feiúra influencia moda e arte; modelos "fora do padrão" são aposta de agência inglesa

Diretor da Ugly Models, que agencia profissionais para grifes famosas, promete vir a São Paulo em 2009 em busca de "novos talentos"

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

Depois dos Beatles e da Madonna, pop mesmo é uma menina desengonçada, que usa aparelho nos dentes e óculos fundo de garrafa. A popularidade de "Betty, a Feia" -a novela colombiana- hoje é medida em 76 países.
O fenômeno Betty contaminou de vez a indústria do entretenimento e da moda, assim como as artes. Em São Paulo, os sinais de que os feios foram coroados reis do pop está na multiplicação do visual nerd de Betty pelas baladas afora.
Um empurrão erudito para a aceitação foi dado pelo escritor italiano Umberto Eco, que lançou, em 2007, "História da Feiúra". Em um ano, foram vendidas 10 mil cópias no Brasil. É o dobro do que vendeu no primeiro ano a obra "História da Beleza", do mesmo autor.
Ir na contracorrente do culto à beleza é uma onda internacional. Para Marc French, diretor da agência inglesa Ugly Models -que, como diz o nome, aposta no nicho dos que "fogem do padrão"-, a inclusão de pessoas feias na indústria do entretenimento, da moda e da publicidade é uma "tendência mundial".
Um bom exemplo é a escolha do inglês Del, 30, para protagonizar anúncios da Calvin Klein. No lugar dos modelos de corpos e rostos perfeitos, brilha uma estrela da Ugly Models. Del é magro, tem os dentes tortos e uma expressão caipira.
"Usar os feios é algo fora do comum, o que pode tornar uma campanha bem mais excitante", explica Marc, que, depois de abrir, em 2007, uma filial em Nova York, anuncia para o ano que vem a sua vinda a São Paulo em busca de "novos talentos".
As agências tradicionais de modelos também se aventuram no novo nicho. Fizeram descobertas como a gaúcha Daiane Conterato,17, dona de uma carreira sólida no exterior por sua beleza não-convencional.
Com seu rosto assimétrico, no estilo das atrizes preferidas do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, Daiane caiu nas graças da rainha da moda Miuccia Prada. Hoje, vive em Nova York e está entre as 35 modelos mais bem-sucedidas da atualidade.

Exagero na devoção
Todos esses exemplos são brechas em uma cultura que exagerou na devoção à beleza. "Não é coincidência que isso tudo esteja acontecendo justamente agora", diz a psicóloga Joana Novaes, autora do livro "O Intolerável Peso da Feiúra". "É como se [as pessoas] dissessem: "Do que é que temos tanto medo? Que horror é esse em relação aos feios?'"
O cantor e poeta Felipe Flip, 28, diz que já enxergou "tal brecha". "Fico feliz de ver que há mais gente feia aparecendo na mídia. Os feios, como eu, gostam disso, se identificam e se sentem menos excluídos."
Para a psicóloga, o impacto da falta de beleza na mulher é maior porque há o discurso de que a feia é menos feminina. "Se um homem é feio, ele não é menos homem", afirma ela.
Felipe chega a defender a própria feiúra como arma de sedução. "Por algum motivo, as mulheres gostam mais dos feios", afirma ele. Questionado se já ficou com alguma menina desprovida de beleza, no estilo "Betty, a Feia", Flip se defende. "Eu já sou feio demais, ficaria poeticamente ruim."


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