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Jovens incorporam estilo "Betty, a Feia" como pop
Feiúra influencia moda e arte; modelos "fora do padrão" são aposta de agência inglesa
Diretor da Ugly Models, que agencia profissionais para grifes famosas, promete vir a São Paulo em 2009 em busca de "novos talentos"
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
Depois dos Beatles e da Madonna, pop mesmo é uma menina desengonçada, que usa
aparelho nos dentes e óculos
fundo de garrafa. A popularidade de "Betty, a Feia" -a novela
colombiana- hoje é medida
em 76 países.
O fenômeno Betty contaminou de vez a indústria do entretenimento e da moda, assim como as artes. Em São Paulo, os
sinais de que os feios foram coroados reis do pop está na multiplicação do visual nerd de
Betty pelas baladas afora.
Um empurrão erudito para a
aceitação foi dado pelo escritor
italiano Umberto Eco, que lançou, em 2007, "História da
Feiúra". Em um ano, foram
vendidas 10 mil cópias no Brasil. É o dobro do que vendeu no
primeiro ano a obra "História
da Beleza", do mesmo autor.
Ir na contracorrente do culto
à beleza é uma onda internacional. Para Marc French, diretor
da agência inglesa Ugly Models
-que, como diz o nome, aposta
no nicho dos que "fogem do padrão"-, a inclusão de pessoas
feias na indústria do entretenimento, da moda e da publicidade é uma "tendência mundial".
Um bom exemplo é a escolha
do inglês Del, 30, para protagonizar anúncios da Calvin Klein.
No lugar dos modelos de corpos
e rostos perfeitos, brilha uma
estrela da Ugly Models. Del é
magro, tem os dentes tortos e
uma expressão caipira.
"Usar os feios é algo fora do
comum, o que pode tornar uma
campanha bem mais excitante", explica Marc, que, depois
de abrir, em 2007, uma filial em
Nova York, anuncia para o ano
que vem a sua vinda a São Paulo
em busca de "novos talentos".
As agências tradicionais de
modelos também se aventuram
no novo nicho. Fizeram descobertas como a gaúcha Daiane
Conterato,17, dona de uma carreira sólida no exterior por sua
beleza não-convencional.
Com seu rosto assimétrico,
no estilo das atrizes preferidas
do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, Daiane caiu nas graças da rainha da moda Miuccia
Prada. Hoje, vive em Nova York
e está entre as 35 modelos mais
bem-sucedidas da atualidade.
Exagero na devoção
Todos esses exemplos são
brechas em uma cultura que
exagerou na devoção à beleza.
"Não é coincidência que isso
tudo esteja acontecendo justamente agora", diz a psicóloga
Joana Novaes, autora do livro
"O Intolerável Peso da Feiúra".
"É como se [as pessoas] dissessem: "Do que é que temos tanto
medo? Que horror é esse em relação aos feios?'"
O cantor e poeta Felipe Flip,
28, diz que já enxergou "tal brecha". "Fico feliz de ver que há
mais gente feia aparecendo na
mídia. Os feios, como eu, gostam disso, se identificam e se
sentem menos excluídos."
Para a psicóloga, o impacto
da falta de beleza na mulher é
maior porque há o discurso de
que a feia é menos feminina.
"Se um homem é feio, ele não é
menos homem", afirma ela.
Felipe chega a defender a
própria feiúra como arma de
sedução. "Por algum motivo, as
mulheres gostam mais dos
feios", afirma ele. Questionado
se já ficou com alguma menina
desprovida de beleza, no estilo
"Betty, a Feia", Flip se defende.
"Eu já sou feio demais, ficaria
poeticamente ruim."
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