|
Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Até os 5 anos, crianças negras e pardas têm 67% mais chances de morrer que as brancas, diz estudo do IBGE
Mortalidade infantil é maior entre negros
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
A taxa de mortalidade entre
crianças negras e pardas brasileiras é dois terços superior à da população branca da mesma idade.
Em outras palavras, até os 5 anos
elas têm 67% mais chances de
morrer que uma criança branca.
A situação é tão grave que estariam melhor se morassem em alguns países africanos.
A taxa de mortalidade entre
crianças brasileiras pardas e negras de até 5 anos de idade é de 76
para cada mil nascidas vivas.
Para as brancas, de cada mil que
nascem vivas, 46 morrem antes de
completar 5 anos.
Na África do Sul e no Zimbábue,
por exemplo, as estatísticas das
Nações Unidas indicam que a taxa
de mortalidade na população até 5
anos é de 67/1.000 nascidos vivos e
de 74/1.000, respectivamente.
As informações sobre o Brasil
estão entre os Indicadores Sociais
Mínimos, uma coletânea feita pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), disponível na
página do órgão na Internet
(www.ibge.gov.br/estat.htm). Os
dados se referem a 1996.
Outro estudo, realizado pela
pesquisadora Estela Garcia da Cunha, também aponta que as desigualdades raciais entre crianças
estão aumentando no país desde
1980 (leia texto nesta página).
População branca
A desigualdade entre as chances
de sobrevivência das crianças no
Brasil não se deve a uma situação
excepcionalmente boa da população infantil branca. Ao contrário.
As crianças brancas brasileiras
ainda estão expostas a um risco de
morte superior ao de outras nascidas em países em pior situação social e econômica do que o Brasil,
como Paraguai (34/1.000) e El Salvador (40/1.000).
As chances ainda menores de sobrevivência das crianças negras e
pardas do país são consequência
da segregação socioeconômica a
que são submetidas suas famílias.
Isso ocorre em todo o território
nacional, em maior ou menor
proporção, dependendo da região.
Mas em todas elas a população infantil negra e parda corre mais risco de morrer que a branca.
Mesmo no Sul, onde as crianças
segregadas encontram mais chances de sobrevivência, sua taxa de
mortalidade ainda é 37% superior
à das crianças brancas: 48/1.000
contra 35/1.000.
No Sudeste, região economicamente mais desenvolvida do país,
a discrepância chega ao seu ponto
máximo: a mortalidade entre
crianças negras e pardas é 71%
maior do que a verificada entre as
brancas (53/1.000 e 31/1.000, respectivamente).
Nordeste
O oposto ocorre no Nordeste, a
região mais pobre. Ali, a diferença
de mortalidade é de 23%. Mas não
há razão para comemorar.
É nos Estados nordestinos que
tanto as crianças brancas
(83/1.000) quanto as negras e pardas (102/1.000) correm mais risco.
Para essas, tal taxa de mortalidade significa que, de cada 10 nascidas vivas, só 9 chegarão aos 5 anos.
Para o autor dessa parte do estudo do IBGE, o demógrafo Celso Simões, as diferenças regionais se
explicam pelos diferentes graus de
acesso das populações das 27 unidades da Federação a saneamento
básico, vacinação e cuidados básicos de saúde, como o exame
pré-natal.
Já os diferenciais entre brancos,
negros e pardos se explicam de
outro modo.
"A pobreza perpassa as questões social e racial, mas mesmo
entre os pobres os negros têm uma
taxa de mortalidade maior. É que
eles acumulam o peso de duas segregações, a de cor e a de renda",
afirma Simões.
Mortalidade
Problemas complexos como esses terão de ser enfrentados para o
país continuar diminuindo sua taxa de mortalidade infantil.
De cada mil nascidos vivos no
Brasil, 37 morrem antes de completar 1 ano de idade. Esse número, embora tenha caído muito desde 1960 (quando era de 118), ainda
continua alto.
Mesmo as crianças brancas do
Sudeste, que se beneficiam da menor taxa de mortalidade infantil
do país (25/1.000), ainda enfrentam um risco de morrer cinco vezes maior do que as crianças suecas.
"A redução (dessa taxa) é lenta
porque há uma resistência estrutural", diz Simões.
Nos lugares mais desenvolvidos
do país, estender a rede de esgoto
ou aumentar a cobertura de vacinação não são mais suficientes para reduzir a mortalidade infantil.
Nesse ponto, o problema deixa
de ser exclusivamente de saúde
pública e passa para o campo da
justiça social.
"A concentração de renda é um
entrave para que haja ganhos
maiores", sintetiza o demógrafo
do IBGE.
Próximo Texto | Índice
|