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EDUCAÇÃO
Ranking do Provão, feito com base na média de pontos obtidos no exame, enquadra maioria nos conceitos D e E
MEC "reprova" 70,1% dos cursos em 2003
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o argumento de que o Provão é insuficiente para apontar a
qualidade dos cursos de ensino
superior, o Ministério da Educação (MEC) deu ênfase neste ano à
divulgação da média dos alunos
de cada área em detrimento dos
conceitos, que variam de A a E.
Pelo critério utilizado em 2003,
58,2% dos 5.897 cursos avaliados
tiveram média variando de 20 a 40
pontos, em uma escala de zero a
cem, o que equivale ao conceito D. E 11,9% ficaram abaixo de 20 pontos (o
equivalente ao conceito E). Nenhum obteve média acima de 80,
o que representaria o conceito A.
Se forem divididos por área de
conhecimento, apenas 2 das 26
obtiveram média geral acima de
50: odontologia, com 56, e fonoaudiologia, com 55,7. A pior
média geral foi de letras (19,7).
No ano passado, de 24 áreas
analisadas, apenas odontologia
obteve média acima de 50 pontos.
Distorção
O Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais (Inep),
responsável pelo Provão, optou
por enfatizar as médias, ou conceito absoluto, pois elas mostram
que, mesmo o curso obtendo conceito A, não significa excelência
em qualidade, diz Dilvo Ristoff,
diretor de Estatísticas e Avaliação
da Educação Superior do órgão.
"É um equívoco interpretar os
conceitos como indicadores de
padrão único de qualidade, capaz
de ser comparado entre as diferentes áreas", diz o documento
com os resultados do Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão,
divulgado ontem.
Com os conceitos, a classificação é feita por área. Dentro de cada área específica, calcula-se a
média dos cursos. Com base nessa média, aplicam-se fórmulas,
que dividem os cursos da área entre as faixas (de A a E). Portanto,
se em determinada área a média
for baixa, o seu conceito A poderia requerer até menos pontos do
que o conceito D de outra área.
Ristoff citou o caso das áreas de
administração e odontologia. Na
primeira, um curso, para obter A,
apresentou nota de 46,3. Já para
odontologia, um curso com 49,7
está enquadrado no conceito D.
Com essa interpretação, o Inep
decidiu divulgar os cursos em ordem alfabética, não mais por conceitos. Os dados estão disponíveis
na internet (www.inep.gov.br).
Levando em consideração os
conceitos, os índices gerais ficaram praticamente estáveis em relação ao ano passado.
Dos cursos avaliados neste ano,
41,6% obtiveram nota C e 27,3%
receberam conceito A ou B. Em
2002, esses índices foram de 42%
e 27%, respectivamente.
"Durante anos a sociedade enxergou o conceito A como sendo
de excelência. Mas, pelas médias,
nenhuma área recebeu nota nove
ou dez. Por isso, o Provão é insuficiente para ser o pilar da avaliação", disse o presidente do Inep,
Luiz Araújo. "Para analisar a qualidade, é preciso levar em consideração outras variáveis, como o governo pretende fazer a partir do
Índice de Desenvolvimento do
Ensino Superior [o Ides]", disse.
O novo índice terá quatro indicadores, que terão notas separadamente. A proposta depende de
aprovação do Congresso.
Politização
Para Maria Helena Guimarães
de Castro, ex-presidente do Inep
(durante a gestão FHC), há uma
tendência de politização dos resultados do Provão.
"Concordo que os resultados do
Provão isoladamente não são suficientes, mas tínhamos também
a avaliação das condições de ensino, que trazia dados sobre corpo
docente, estrutura. [...] Não faz
sentido comparar a média de todos os cursos", disse Castro, que
atualmente é secretária da Assistência e Desenvolvimento Social
do Estado de São Paulo.
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