|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SP 450
Depois de muita espera, principal igreja de São Paulo foi aberta em 25 de janeiro de 54 com missa e mensagem do papa Pio 12
Inauguração da CATEDRAL atrasou mais de três décadas
KIYOMORI MORI
DA REPORTAGEM LOCAL
Das milhares de
missas de que participou, o padre Dario
Bevilacqua, 72, não
vacila ao apontar
aquela que lhe trouxe
mais satisfação: a
inauguração da Catedral da Sé, em 25 de
janeiro de 1954.
Não que outras tivessem menos valor,
mas nenhuma delas
havia demorado
mais de 30 anos para
acontecer.
"Foi um grande alívio, não apenas para
mim, mas para toda a
população de São
Paulo, que esperou
ansiosa por quase
meio século pela
inauguração dos trabalhos de construção", explica o eloquente Dario.
A inauguração da
Catedral da Sé, cuja
obra se havia iniciado
em 1913, estava planejada para o centenário da Independência, em 1922, mas a cerimônia acabou sendo adiada por
32 anos.
Falta de mão-de-obra especializada, material de construção e dinheiro foram alguns dos obstáculos enfrentados pelos engenheiros
da época.
Para agravar a situação, nesse
período São Paulo participou da
Revolução Constitucionalista
(1932) e ainda enviou praças para
lutarem na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Por conta desses
conflitos, o metal a ser utilizado
nas estruturas da obra foi considerado indispensável na construção de material bélico.
Projetada em estilo gótico pelo
arquiteto e professor da Escola
Politécnica Maximiliano Hehl, a
catedral, rica em detalhes, buscava atender aos anseios das famílias do ciclo do café de São Paulo
por uma igreja "à altura" da cidade, então com 400 mil habitantes.
A capacidade planejada para a
catedral era ambiciosa: 8.000 pessoas em uma única missa, ou 2%
da população de São Paulo daquela época.
Para juntar dinheiro, foi formada uma comissão executiva das
famílias ricas de São
Paulo. Além disso,
criou-se uma "Loteria Pró-Catedral" para angariar fundos
para a construção.
Nos anos que antecederam a inauguração, em vez de elogios, a catedral passou a receber críticas
e virou alvo de polêmica. O perfil de São
Paulo havia mudado: da cidade cuja
elite era formada por
fazendeiros cafeicultores para uma metrópole industrializada de 2,7 milhões
de habitantes.
Com isso, o projeto
em estilo gótico foi
considerado inadequado, pomposo demais para a cidade.
E, por pouco, a cúpula central não saiu
do papel.
Mesmo incompleta -as torres frontais só ficariam prontas no final da década de 50-, a catedral foi aberta ao público nas festividades do Quarto Centenário
de São Paulo. "Foi a mais esperada das celebrações, superando de
longe a inauguração do Ibirapuera", afirma o padre Dario.
A missa de inauguração, celebrada pelo arcebispo de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, começou às 9h. A
Dario, na época ainda apenas um
seminarista, coube a missão de
segurar a mitra de dom Carlos
Carmelo. "Éramos mais de 40 seminaristas, cada um com uma
missão. Ninguém ficava disputando o que queria fazer. O importante era participar do conjunto da cerimônia e que nada
desse errado", conta ele, que dois
anos mais tarde seria ordenado
no mesmo local.
Além das famílias mais tradicionais da cidade, Getúlio Vargas,
então presidente da República, e
Jânio Quadros, o prefeito de São
Paulo, assistiram à celebração da
missa, em que foi lida uma mensagem de bênção do papa Pio 12.
"Foi emocionante. Tudo acabou como planejado e pudemos
voltar ao seminário para almoçar
com aquele gosto de missão cumprida", afirma.
Texto Anterior: Curso da UFRJ teve 4 notas 100 Próximo Texto: Há 50 anos: Franceses reagem à advertência dos EUA Índice
|