São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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DANUZA LEÃO

Pedido de casamento


Isso me faz pensar na (quase) igualdade dos sexos. Nunca vi uma mulher pedir um homem em casamento

EU ADORO cinema; vejo filmes bons, ruins, maravilhosos, tudo que passa na TV quando não estou fazendo nada, e até filmes que já estão pela metade eu vejo. E fico espantada como em tantos deles a cena se repete: é quando o galã aparece com uma caixinha com um anel de noivado e a mocinha quase se derrete de tanta felicidade.
Isso me faz pensar na famosa (quase) igualdade dos sexos. Nunca vi, em nenhum deles, uma mulher pedir um homem em casamento -nem nos filmes nem na vida real.
O que me leva a pensar que este pequeno detalhe, apesar de tantas coisas já conseguidas pelas mulheres, demonstra que estamos a léguas de distância de atingir a tal igualdade.
Já pensou, se num filme a mocinha chega com um anel e o oferece ao homem, querendo com isso pedi-lo em casamento? E os olhos dele brilharem e ele dizer sim, sim, sim, e depois correr para contar aos amigos o que aconteceu? Seria ridículo, acho, todos acharíamos, e enquanto uma cena dessas nos parecer ridícula é sinal de que ainda falta muito para as mulheres chegarem ao fim desse difícil caminho que é o de se igualarem aos homens. Aliás, não sei porque elas -algumas- querem tanto ser iguais a eles.
O que já conseguimos -tirando a igualdade de salários- já está mais do que bom. Podemos sair sozinhas à noite, namorar, viajar, morar junto, separar quando nos dá na telha, ser mães solteiras, e fico imaginando o que mais podemos querer para sermos iguais a eles. O tal do pênis, será? Ah, dr. Freud, mas a gente vive tão bem sem ele, que não posso imaginar que alguma tenha inveja de não ter o famoso atributo do qual eles tanto se orgulham.
Eles não dizem, mas morrem de inveja de nós. Se não morressem, não haveria tantos, no Carnaval -só de brincadeirinha, claro-, que se vestem de mulher, põem uns peitões de borracha, salto alto, minissaia, peruca, capricham na maquiagem e saem sambando durante quatro dias seguidos. Só de brincadeirinha, claro. Mas nunca vi nenhuma mulher -nem no Carnaval- usar terno, camisa, gravata e sair para se divertir, fingindo que é homem. Não é engraçado?
Pensando bem, além do amor, do desejo de morar junto, de ter um companheiro, nenhuma mulher precisa de um homem para nada; melhor dizendo, para quase nada. Só para ser mais feliz, o que nem sempre acontece. Do imposto de renda o contador cuida, se o pneu do carro fura, é só ligar para o seguro e em minutos chega um motoqueiro, para ir a uma festa eles são perfeitamente dispensáveis; então, pra quê?
Mas digamos que algumas mulheres ainda sejam tão feministas -essa coisa tão fora de moda- que continuem empunhando a bandeira pela igualdade dos sexos. Algumas até acham que já chegaram lá e se consideram liberadas e bem resolvidas. São aquelas que têm seu trabalho, dividem as contas e sabem qual vai ser o impacto sobre a população com a queda da CPMF, palmas para elas.
Algumas dessas, mesmo assim, gostariam de morar junto com seus companheiros, por razões que nem vale a pena citar, tantas elas podem ser. Muito justo, justíssimo. Essas insinuam, dão toques sutis, mas nunca ouvi falar de nenhuma que tenha pedido um homem em casamento, assim, na lata.
E enquanto o mundo for assim, que ninguém venha me falar da igualdade dos sexos, pois esse pequeno detalhe mostra que quem comanda o rumo dos acontecimentos entre homem e mulher é sempre o homem. É sempre dele a iniciativa, o que aliás não tem a menor importância, pois temos o direito de dizer não ao que eles acham que é a maior homenagem que podem prestar a uma mulher.

danuza.leao@uol.com.br


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