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Piero Ciabattoni, medicina e resistência armada
MARCELO COELHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Com a família, ele costumava brincar dizendo que tinha acesso, no consultório, a
uma coleção única de fotos
de celebridades: o fêmur de
um banqueiro, o coração de
um senador, o estômago de
uma atriz de novela...
Nascido em Gênova, Itália,
em 1926, Piero Ciabattoni
veio ao Brasil logo depois de
formar-se médico, com especialização em radiologia.
Chegou sozinho a São Paulo, sem contar com nenhuma
rede de parentes ou amigos
que facilitasse sua inserção
no ambiente profissional.
Em pouco tempo, montava
seu próprio instituto de radiologia, sediado, durante
muitos anos, na avenida Angélica.
Tornou-se professor titular e publicou vários trabalhos científicos aqui e no exterior, tendo editado em livro, pela Faculdade Bandeirante de Medicina de Bragança Paulista, as apostilas
de seu curso de radiologia.
Apaixonado conhecedor
da arte e da literatura italianas, também reviu e editou a
gramática "Língua Italiana
para Brasileiros", em dois volumes, uma das obras de sua
mãe, como homenagem póstuma à herança cultural que
dela recebeu.
Não era apenas o humor
amistoso que caracterizava
sua conversa em família; Ciabattoni tinha gosto especial
em surpreender o interlocutor, pelo recurso ao paradoxo
irrespondível e pelas frases
desencantadas, mas sempre
cheias de bonomia, com que
identificava os males do país
e as falhas, que não o revoltavam, da alma humana.
Para quem, aos 17 anos, engajara-se na resistência armada à ocupação nazista, as
mazelas do cotidiano brasileiro podiam ser objeto de algum inconformismo irônico,
mas nunca de desespero. Foi
com essa invulgar força de
ânimo que soube enfrentar, a
partir de 2003, o câncer pulmonar que o vitimou, no dia
12 de dezembro, aos 81 anos.
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