São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Piero Ciabattoni, medicina e resistência armada

MARCELO COELHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Com a família, ele costumava brincar dizendo que tinha acesso, no consultório, a uma coleção única de fotos de celebridades: o fêmur de um banqueiro, o coração de um senador, o estômago de uma atriz de novela...
Nascido em Gênova, Itália, em 1926, Piero Ciabattoni veio ao Brasil logo depois de formar-se médico, com especialização em radiologia.
Chegou sozinho a São Paulo, sem contar com nenhuma rede de parentes ou amigos que facilitasse sua inserção no ambiente profissional. Em pouco tempo, montava seu próprio instituto de radiologia, sediado, durante muitos anos, na avenida Angélica.
Tornou-se professor titular e publicou vários trabalhos científicos aqui e no exterior, tendo editado em livro, pela Faculdade Bandeirante de Medicina de Bragança Paulista, as apostilas de seu curso de radiologia.
Apaixonado conhecedor da arte e da literatura italianas, também reviu e editou a gramática "Língua Italiana para Brasileiros", em dois volumes, uma das obras de sua mãe, como homenagem póstuma à herança cultural que dela recebeu.
Não era apenas o humor amistoso que caracterizava sua conversa em família; Ciabattoni tinha gosto especial em surpreender o interlocutor, pelo recurso ao paradoxo irrespondível e pelas frases desencantadas, mas sempre cheias de bonomia, com que identificava os males do país e as falhas, que não o revoltavam, da alma humana.
Para quem, aos 17 anos, engajara-se na resistência armada à ocupação nazista, as mazelas do cotidiano brasileiro podiam ser objeto de algum inconformismo irônico, mas nunca de desespero. Foi com essa invulgar força de ânimo que soube enfrentar, a partir de 2003, o câncer pulmonar que o vitimou, no dia 12 de dezembro, aos 81 anos.


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