|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Antigos moradores reclamam de mais trânsito nas ruas
No Morumbi, percurso até a avenida Paulista, que levava 15 minutos há 30 anos, hoje chega a durar uma hora e meia
Cálculos da CET apontam que prédio de 25 andares e 50 apartamentos despeja 25 carros numa avenida de movimento na hora do rush
DA REPORTAGEM LOCAL
Junto com os 2.089 apartamentos que o Butantã, o bairro
que mais cresce em São Paulo,
ganhou veio o trânsito. E os bares, os restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. O
crescimento (e o movimento)
alerta moradores mais antigos,
que temem perder o clima de
tranqüilidade da região.
Cálculos de engenheiros de
tráfego da CET apontam que
um único prédio de 25 andares,
com 50 apartamentos e cem vagas na garagem, despeja 25 carros na mesma hora numa via de
grande movimento, nos horários de pico da tarde.
Há algumas décadas, a aposentada Corina Maria Leite, 64,
levava cinco minutos para fazer
o percurso da rua Pelotas, onde
se reúne numa casa com algumas amigas para trabalhos beneficentes, até a Domingos de
Moraes, na Vila Mariana, um
dos dez bairros que mais crescem na capital. Hoje, o mesmo
trajeto dura 30 minutos.
"Atrás de cada prédio vem o
trânsito. E as ruas do bairro,
que eram tranqüilas, estão
cheias de ladrões", diz Leite.
A assistente social Fátima
Pelippello Cruz, 58, que mora
no Butantã desde que nasceu,
tem receio de que o bairro perca o clima de cidade do interior.
"Não quero que o nosso bairro vire uma Moema (zona sul).
Todos os comerciantes me conhecem pelo nome e compramos com ou sem dinheiro. O
mercado entrega de bicicleta,
como se fosse uma cidade do
interior. Tenho medo de perder
isso com os prédios", afirmou.
Associação
"Infelizmente não é o bairro
que mais cresce, é o que mais
destroem. Tem gente que não
agüenta mais o trânsito. O crescimento tem de ser acompanhado de infra-estrutura. Só é
favorável à construção quem
quer comprar, vender e ir embora, os que não querem morar
no bairro", diz Carlos Wang, vice-presidente da Sociedade dos
Moradores do Butantã e residente do bairro desde 1955.
"É evidente que muitos desses bairros não poderiam adensar mantendo o mesmo tecido
urbano. De onde saíram duas
casinhas não pode entrar um
edifício de dez andares", diz a
urbanista Regina Meier, professora da FAU e coordenadora
do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole) da USP.
Morumbi
No Morumbi, o bairro que
mais cresceu no ano passado
em área construída e o segundo
em número de apartamentos,
segundo a Embraesp, a situação é semelhante.
Morador do sexto andar do
número 4.791 da avenida Giovanni Gronchi há 30 anos, o
empresário Marcus Alfredo
Falgetano Ferraresi via campos
de futebol, várzeas, vacas pastando e gaviões da varanda do
apartamento quando se mudou
para lá. Hoje, o cenário é de prédios e trânsito parado.
"Há 30 anos tinha de comprar as coisas depois das pontes. Hoje faço tudo do lado de
cá", diz Ferraresi, que levava 15
minutos para ir de carro até a
avenida Paulista. Agora, o trajeto dura uma hora e meia.
Para o problema do tráfego
no bairro, o Plano Diretor prevê a construção de uma terceira
avenida, paralela à Giovanni
Gronchi, que a prefeitura espera desafogar o trânsito na região. Batizada provisoriamente
de Itapaiúna/Perimetral Paraisópolis, a via deverá ter cerca de
3,7 km de extensão.
"A região cresceu exageradamente. Se não fizeram nada,
não sei como fica", afirma Ferraresi, que deixou de fazer ginástica no Clube Paulistano, na
rua Honduras (Jardins), para
fazer em casa e evitar o trânsito
de quase uma hora e meia até
lá.
(VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)
Texto Anterior: Prédio de luxo vende 22 andares em duas horas Próximo Texto: Advogado compra táxi para fugir de rodízio e de tráfego Índice
|