São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Antigos moradores reclamam de mais trânsito nas ruas

No Morumbi, percurso até a avenida Paulista, que levava 15 minutos há 30 anos, hoje chega a durar uma hora e meia

Cálculos da CET apontam que prédio de 25 andares e 50 apartamentos despeja 25 carros numa avenida de movimento na hora do rush

DA REPORTAGEM LOCAL

Junto com os 2.089 apartamentos que o Butantã, o bairro que mais cresce em São Paulo, ganhou veio o trânsito. E os bares, os restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. O crescimento (e o movimento) alerta moradores mais antigos, que temem perder o clima de tranqüilidade da região.
Cálculos de engenheiros de tráfego da CET apontam que um único prédio de 25 andares, com 50 apartamentos e cem vagas na garagem, despeja 25 carros na mesma hora numa via de grande movimento, nos horários de pico da tarde.
Há algumas décadas, a aposentada Corina Maria Leite, 64, levava cinco minutos para fazer o percurso da rua Pelotas, onde se reúne numa casa com algumas amigas para trabalhos beneficentes, até a Domingos de Moraes, na Vila Mariana, um dos dez bairros que mais crescem na capital. Hoje, o mesmo trajeto dura 30 minutos.
"Atrás de cada prédio vem o trânsito. E as ruas do bairro, que eram tranqüilas, estão cheias de ladrões", diz Leite.
A assistente social Fátima Pelippello Cruz, 58, que mora no Butantã desde que nasceu, tem receio de que o bairro perca o clima de cidade do interior.
"Não quero que o nosso bairro vire uma Moema (zona sul). Todos os comerciantes me conhecem pelo nome e compramos com ou sem dinheiro. O mercado entrega de bicicleta, como se fosse uma cidade do interior. Tenho medo de perder isso com os prédios", afirmou.

Associação
"Infelizmente não é o bairro que mais cresce, é o que mais destroem. Tem gente que não agüenta mais o trânsito. O crescimento tem de ser acompanhado de infra-estrutura. Só é favorável à construção quem quer comprar, vender e ir embora, os que não querem morar no bairro", diz Carlos Wang, vice-presidente da Sociedade dos Moradores do Butantã e residente do bairro desde 1955.
"É evidente que muitos desses bairros não poderiam adensar mantendo o mesmo tecido urbano. De onde saíram duas casinhas não pode entrar um edifício de dez andares", diz a urbanista Regina Meier, professora da FAU e coordenadora do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole) da USP.

Morumbi
No Morumbi, o bairro que mais cresceu no ano passado em área construída e o segundo em número de apartamentos, segundo a Embraesp, a situação é semelhante.
Morador do sexto andar do número 4.791 da avenida Giovanni Gronchi há 30 anos, o empresário Marcus Alfredo Falgetano Ferraresi via campos de futebol, várzeas, vacas pastando e gaviões da varanda do apartamento quando se mudou para lá. Hoje, o cenário é de prédios e trânsito parado.
"Há 30 anos tinha de comprar as coisas depois das pontes. Hoje faço tudo do lado de cá", diz Ferraresi, que levava 15 minutos para ir de carro até a avenida Paulista. Agora, o trajeto dura uma hora e meia.
Para o problema do tráfego no bairro, o Plano Diretor prevê a construção de uma terceira avenida, paralela à Giovanni Gronchi, que a prefeitura espera desafogar o trânsito na região. Batizada provisoriamente de Itapaiúna/Perimetral Paraisópolis, a via deverá ter cerca de 3,7 km de extensão.
"A região cresceu exageradamente. Se não fizeram nada, não sei como fica", afirma Ferraresi, que deixou de fazer ginástica no Clube Paulistano, na rua Honduras (Jardins), para fazer em casa e evitar o trânsito de quase uma hora e meia até lá. (VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


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