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Advogado compra táxi para fugir de rodízio e de tráfego
Com o automóvel branco, comprado com incentivos fiscais, é possível usar as faixas exclusivas de ônibus
Para conseguir o alvará de motorista de táxi, que não é concedido há mais de 15 anos em SP, o advogado recorreu ao mercado ilegal
FILIPE MARCEL
DA REPORTAGEM LOCAL
Para tentar fugir do rodízio
municipal de veículos e conseguir trafegar livremente pelas
faixas exclusivas de ônibus de
São Paulo, um advogado tributarista de 56 anos, que pede para não ser identificado, resolveu comprar o seu próprio táxi.
Os engarrafamentos constantes, as restrições de estacionamento e os apertados horários de rodízio -das 7h às 10h e
das 17h às 20h, uma vez por semana-, não impedem agora o
Vectra branco (adquirido com
todos os incentivos fiscais),
chapa vermelha e taxímetro ligado "só para enganar os fiscais", de rodar toda a cidade, escapando das multas que levam
os outros dois carros da família.
"Quando fui verificar, descobri que era necessário ter apenas uma carteira de habilitação
e o Condutax, que nada mais é
que um cadastro na prefeitura.
Com esse registro pronto, eu só
precisei de um alvará para ter
um táxi", lembra o advogado.
Os cursos de direção defensiva e de primeiros-socorros
obrigatórios (R$ 127 nos centros de educação autorizados)
não precisaram nem sequer ser
freqüentados. Graças ao "jeitinho" dado, diz, sem mais detalhes revelados.
Com o certificado na mão,
bastou o desembolso de R$ 61
pelo Condutax, que é emitido
no mesmo dia pelo Departamento de Transportes Públicos, órgão ligado à Secretaria
Municipal dos Transportes,
com validade por cinco anos.
Para finalmente conseguir o
alvará de motorista de táxi (que
não é concedido há mais de 15
anos em São Paulo), o jeito foi
recorrer ao mercado ilegal.
"Todo mundo sabe que existe
um comércio clandestino destes alvarás. A prefeitura não
precisa criar licenças, devido à
grande quantidade de táxis na
cidade. O correto seria transferir para o nome de outra pessoa, mas todo mundo quer lucrar com isso hoje", afirma.
A Folha entrou em contato
com um Centro de Educação
de Trânsito autorizado, na Barra Funda (zona oeste), e recebeu da própria atendente o telefone de um suposto vendedor, que ofereceu um alvará de
2005 (válido para carros fabricados de 2006 em diante) por
R$ 60 mil, podendo ser pago
em até duas vezes.
"Consegui um alvará por R$
20 mil na época. Devo dizer
que foi um belíssimo investimento", conta o advogado, que
se aproveitou de uma lei que
permite que um alvará seja
compartilhado por dois condutores licenciados -no caso, seu
próprio motorista particular.
"A verdade é uma só: o trânsito ficou caótico. Ficava absolutamente parado no trânsito e
via os carrinhos [táxis levando
passageiros] passando na faixa
de ônibus. A gente sempre precisou de motorista no escritório porque estamos quase sempre atrasados para os compromissos, não tem como ficar
procurando vaga na rua. Ou você tem táxi, ou você tem motorista, ou você anda de táxi",
afirma ele, dizendo-se um "especialista em corredores".
"Persigo corredores. Rebouças, Nove de Julho, Santo Amaro. Dou voltas e chego ao corredor porque é a única maneira
de andar em São Paulo [a faixa
exclusiva de ônibus só é liberada para carros de passeio diariamente das 23h às 4h e das
15h de sábado às 4h de segunda]", diz. "Existe uma falta de
interesse da prefeitura em tentar resolver a questão. É um
acinte o que está sendo feito
com o trânsito nesta cidade."
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