São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Lutador Ryan Gracie é achado morto em cela

Atleta havia sido preso anteontem à tarde no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo, por roubo e tentativa de roubo

Gracie estava sozinho na cela às 8h ao ser encontrado; exame apontou uso de drogas e de remédio, diz seu médico particular

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

O lutador de jiu-jítsu Ryan Gracie, 33, foi encontrado morto por volta das 8h de ontem na cela do 91º Distrito Policial, na Vila Leopoldina (zona oeste de SP). Médicos do IML (Instituto Médico Legal) acreditam que a causa mais provável da morte tenha sido uma parada cardiorespiratória provocada por overdose de cocaína.
Integrante da família precursora do jiu-jítsu no Brasil, Gracie havia sido preso anteontem por roubar um Toyota Corolla e tentar roubar outro carro e uma motocicleta no Itaim Bibi (zona oeste). Ele estava sozinho em uma cela do 91º DP desde as 3h de ontem.
Segundo o psiquiatra Sabino Ferreira de Farias Neto, que passou a acompanhar o lutador após a prisão, Gracie tinha usado cocaína, maconha e Frontal (medicamento contra ansiedade). Vestígios dessas substâncias foram encontrados em um exame de urina feito no distrito com um kit importado trazido pelo próprio psiquiatra -a dependência química seria usada pela defesa do lutador.
Farias Neto disse que Gracie também lhe confidenciou que tinha injetado e aspirado cocaína. O lutador usava medicamentos para dormir e controlar a ansiedade causada pelo uso de drogas, segundo o médico.
Na madrugada de ontem, Gracie chegou a receber do psiquiatra seis medicamentos (tranqüilizantes, antipsicóticos e contra hipertensão) três horas antes de ser encontrado morto. O atleta apresentava confusão mental -por isso, foi colocado sozinho em uma cela.
A Secretaria da Segurança Pública afirmou que a causa da morte só será conhecida com a conclusão do laudo necroscópico, previsto para 30 dias.
Funcionários do IML acreditam, no entanto, que a causa da morte não esteja relacionada nem com a medicação fornecida pelo médico nem com a lesão na cabeça -o lutador foi atingido ao ser rendido por motoboys, após o roubo do carro.
Para eles, o lutador foi vítima de uma parada cardiorespiratória causada por overdose de cocaína. Seu comportamento alterado durante a prisão reforça essa hipótese -ele parecia estar em surto de perseguição.
Na madrugada de ontem, antes de ser levado para a cela, Gracie foi levado para o IML para fazer exame toxicológico, mas o resultado não foi divulgado. "Posso dizer que os sinais no corpo apontavam parada cardíaca", afirmou o delegado Paulo William Bittencourt.
Foi ele quem encontrou o corpo. O lutador estava deitado em um colchão. Segundo Bittencourt, outros presos -três da cela ao lado e dois de outra mais à frente- afirmaram que o lutador tinha respiração ofegante, mas não pediu socorro.
Um delegado da Corregedoria acompanhou ontem os depoimentos dos presos e do médico de Gracie no 91º DP. "A morte ocorreu em uma dependência do Estado e, por isso, será apurada", disse Bittencourt.
"Foi uma fatalidade", disse Rodrigo Souto, advogado do lutador. Para o psiquiatra Paulo César Sampaio, do Condepe (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana), Gracie foi vítima do próprio privilégio que recebeu. "O padrão é que o preso comum seja levado a um hospital público, e não receba médico particular na cadeia. Se isso tivesse ocorrido, talvez essa morte tivesse sido evitada."
Segundo o delegado Bittencourt, os médicos são permitidos quando os presos fazem tratamento há muito tempo.
Hanna Gracie, 21, irmã do lutador, disse que ele tinha síndrome do pânico e teve uma recaída anteontem. Ela contou que ele se tratava com psicólogos. "Ele sempre foi muito carinhoso. Sempre ligava para saber como a gente estava. Eu estou arrasada. O meu pai já é mais velho, ele está arrasado."
Gracie era um dos 12 filhos de Carlos Robson Gracie, 72. A Folha falou com o pai dele, que não quis dar entrevista.
O enterro está previsto para hoje, às 12h, no cemitério São João Batista, no Rio.


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