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Lutador Ryan Gracie é achado morto em cela
Atleta havia sido preso anteontem à tarde no Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo, por roubo e tentativa de roubo
Gracie estava sozinho na cela às 8h ao ser encontrado; exame apontou uso de drogas e de remédio, diz
seu médico particular
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O lutador de jiu-jítsu Ryan
Gracie, 33, foi encontrado morto por volta das 8h de ontem na
cela do 91º Distrito Policial, na
Vila Leopoldina (zona oeste de
SP). Médicos do IML (Instituto
Médico Legal) acreditam que a
causa mais provável da morte
tenha sido uma parada cardiorespiratória provocada por
overdose de cocaína.
Integrante da família precursora do jiu-jítsu no Brasil, Gracie havia sido preso anteontem
por roubar um Toyota Corolla e
tentar roubar outro carro e
uma motocicleta no Itaim Bibi
(zona oeste). Ele estava sozinho em uma cela do 91º DP desde as 3h de ontem.
Segundo o psiquiatra Sabino
Ferreira de Farias Neto, que
passou a acompanhar o lutador
após a prisão, Gracie tinha usado cocaína, maconha e Frontal
(medicamento contra ansiedade). Vestígios dessas substâncias foram encontrados em um
exame de urina feito no distrito
com um kit importado trazido
pelo próprio psiquiatra -a dependência química seria usada
pela defesa do lutador.
Farias Neto disse que Gracie
também lhe confidenciou que
tinha injetado e aspirado cocaína. O lutador usava medicamentos para dormir e controlar
a ansiedade causada pelo uso
de drogas, segundo o médico.
Na madrugada de ontem,
Gracie chegou a receber do psiquiatra seis medicamentos
(tranqüilizantes, antipsicóticos
e contra hipertensão) três horas antes de ser encontrado
morto. O atleta apresentava
confusão mental -por isso, foi
colocado sozinho em uma cela.
A Secretaria da Segurança
Pública afirmou que a causa da
morte só será conhecida com a
conclusão do laudo necroscópico, previsto para 30 dias.
Funcionários do IML acreditam, no entanto, que a causa da
morte não esteja relacionada
nem com a medicação fornecida pelo médico nem com a lesão na cabeça -o lutador foi
atingido ao ser rendido por motoboys, após o roubo do carro.
Para eles, o lutador foi vítima
de uma parada cardiorespiratória causada por overdose de
cocaína. Seu comportamento
alterado durante a prisão reforça essa hipótese -ele parecia
estar em surto de perseguição.
Na madrugada de ontem, antes de ser levado para a cela,
Gracie foi levado para o IML
para fazer exame toxicológico,
mas o resultado não foi divulgado. "Posso dizer que os sinais
no corpo apontavam parada
cardíaca", afirmou o delegado
Paulo William Bittencourt.
Foi ele quem encontrou o
corpo. O lutador estava deitado
em um colchão. Segundo Bittencourt, outros presos -três
da cela ao lado e dois de outra
mais à frente- afirmaram que
o lutador tinha respiração ofegante, mas não pediu socorro.
Um delegado da Corregedoria acompanhou ontem os depoimentos dos presos e do médico de Gracie no 91º DP. "A
morte ocorreu em uma dependência do Estado e, por isso, será apurada", disse Bittencourt.
"Foi uma fatalidade", disse
Rodrigo Souto, advogado do lutador. Para o psiquiatra Paulo
César Sampaio, do Condepe
(Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana), Gracie
foi vítima do próprio privilégio
que recebeu. "O padrão é que o
preso comum seja levado a um
hospital público, e não receba
médico particular na cadeia. Se
isso tivesse ocorrido, talvez essa morte tivesse sido evitada."
Segundo o delegado Bittencourt, os médicos são permitidos quando os presos fazem
tratamento há muito tempo.
Hanna Gracie, 21, irmã do lutador, disse que ele tinha síndrome do pânico e teve uma recaída anteontem. Ela contou
que ele se tratava com psicólogos. "Ele sempre foi muito carinhoso. Sempre ligava para saber como a gente estava. Eu estou arrasada. O meu pai já é
mais velho, ele está arrasado."
Gracie era um dos 12 filhos de
Carlos Robson Gracie, 72. A
Folha falou com o pai dele, que
não quis dar entrevista.
O enterro está previsto para
hoje, às 12h, no cemitério São
João Batista, no Rio.
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