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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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Depois de 15 horas, garoto é resgatado

Oto Cristiano Machado/"Hoje em Dia"
Bombeiros e integrantes da Defesa Civil buscam sobreviventes no Morro das Pedras, em Belo Horizonte


FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Demorou 15 horas o resgate de Felipe Laurêncio dos Santos, 10, uma das nove crianças soterradas no Morro das Pedras, em Belo Horizonte. Ironicamente, das vítimas da noite de tragédias na cidade, o menino talvez tenha sido quem esteve mais perto de ser salvo ainda na manhã de ontem.
Felipe deu o primeiro sinal de que poderia haver vida sob os escombros no Morro das Pedras.
O garoto foi ouvido às 11h, após quatro horas de trabalhos de escavações que envolveram bombeiros e moradores da área.
Quando seu choro foi ouvido, todos passaram a trabalhar com cuidado redobrado, usando as mãos em vez de ferramentas, para evitar que a terra cedesse.
Não houve como estabelecer contato visual, mas, por pouco mais de 20 minutos, foi possível conversar com o menino e tranquilizá-lo. Os bombeiros pediam calma, e o salvamento parecia iminente.
Foi quando ouviu-se um estrondo, que indicava que o barranco não havia resistido ao peso da água e começara a se deslocar novamente.
"Piedade, meu Deus", gritou um dos bombeiros, enquanto a lama descia sobre a fenda pela qual era mantido contato com a criança. Todo o trabalho fora perdido. Desconsolados, bombeiros e moradores choraram.
O lavador de carros Antônio José Laurêncio, pai e tio das crianças, perguntava aos jornalistas, chorando muito, o que seria feito da sua vida. "Todos os meus filhos morreram", repetia. "Que tragédia é essa minha vida."
A criança foi dada como morta até as 15h30, quando sua voz voltou a ser ouvida por debaixo da lama. Felipe reclamava de fome e de frio, e suas pernas estavam presas entre uma laje e um corpo.
Aplaudido por bombeiros, Felipe foi retirado dos escombros por volta das 18h. Ele foi levado ao hospital João 23.

Sem perigo
Em meio à revolta, Laurêncio afirmou que um técnico da prefeitura havia visitado sua casa na quarta-feira e dito que o local estava "fora de perigo".
Por meio de uma nota, a Urbel (Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte), responsável pela fiscalização de áreas de risco, informou que a visita foi feita, mas que não havia risco iminente de desabamento no local.
O volume de chuva que atingiu a cidade durante a noite, e não a falta de prevenção, teria sido a causa de todos os acidentes registrados em Belo Horizonte, segundo a prefeitura.
A Secretaria de Coordenação de Política Urbana e Ambiental de Belo Horizonte vai abrir uma auditoria para saber se houve falha na avaliação técnica realizada anteontem sobre as condições da área do aglomerado. (LW)


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