|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARNAVAL
Agremiações, que chegam a reunir 10 mil foliões em uma noite, tornaram-se "point" de público que "quer curtir"
Ensaios de escolas de samba lotam em SP
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há poucos lugares para sentar,
os banheiros normalmente estão
longe de estarem limpos e é até difícil de se locomover. Mesmo com
tudo isso, os ensaios das escolas
de samba de São Paulo chegam a
concentrar cerca de 10 mil pessoas em um só local.
Esse é o caso da Vai-Vai. O número é estimado pela organização
da agremiação, uma das mais tradicionais do Carnaval paulistano,
com 12 títulos. Os ensaios são feitos na rua em frente à quadra da
escola, na Bela Vista (centro). Lá,
é possível ver a diversidade de
classes sociais e de raças que participam das festas das escolas.
O técnico em eletrônica José
Carlos Castro, 30, considera os
ensaios na agremiação da Bela
Vista como "a balada". "É baratinho para entrar [R$ 3] e tem gente
bonita." Ele diz gostar da heterogeneidade. "Tem japonês, preto,
branco, alemão. Todos na paz."
Para a advogada Gisele Gomes,
32, o preço da entrada não importa. Ela considera a festa um aquecimento -a advogada vai desfilar
pela escola. As fantasias estão na
casa dos R$ 300. "Essa mistura [de
classes] é muito legal."
Quando a bateria começa a tocar, até quem não samba começa
a dar uns passos para cá e para lá.
Como a bibliotecária Lucia Quinteiro, 36, estreante no local. "É
uma boa energia", disse, enquanto sacudia timidamente o corpo.
Os trajes também indicam a diversidade presente. Misturam-se
chinelos e bermudas a produções
como a da estudante Camila Tucunduva, 25: salto alto, saia, bolsa
rosa e uma blusinha que deixava à
mostra três tatuagens e um piercing no umbigo. "Não sou sambista. Venho só curtir."
Nas escolas em que os ensaios
são feitos dentro das quadras, a
força da bateria fica ainda mais
evidente. Conversar torna-se uma
missão praticamente impossível.
Para atenuar o volume, seguranças e até foliões usam protetores
auriculares.
"Sem isso, meu ouvido fica "apitando" uns três dias", conta o economista Wagner Merlan, 45, durante o ensaio na Império da Casa
Verde, na região norte. "Gosto
daqui, trago meus filhos com
tranqüilidade", completa Merlan.
O local comporta cerca de 4.000
pessoas e recebe perto de 2.000
nos ensaios.
Na Gaviões da Fiel, a queda para
o Grupo de Acesso no ano passado não influenciou a presença de
público, segundo o diretor da comissão de Carnaval da escola, Renato Rocha Viana. Ele afirma que
a agremiação recebe até 6.000 pessoas -mesmo número dos anos
anteriores. Os ensaios são às terças, às sextas e aos domingos.
Problemas
Como o nome diz, os ensaios seriam o momento de treinar a escola para o desfile. Como virou
uma festa, as agremiações encontram problemas para se preparar.
"Não sei se isso é bom ou ruim",
afirma a presidente da Rosas de
Ouro, Angelina Basílio. "Muitos
jovens bebem muito e atrapalham
nosso treinamento."
Durante os ensaios, treina-se
por exemplo a coreografia da comissão de frente e os passos do
mestre-sala e da porta-bandeira.
"O lado bom é o dinheiro. As escolas precisam encontrar meios
de se manter", diz Angelina. Os
ensaios da Rosas de Ouro atraem
até 5.000 pessoas, segundo ela.
Integrantes da Vai-Vai usam
uma camiseta com a frase "não
perturbe... estou ensaiando". Já
na Mancha Verde, uma fita delimita um quadrado no meio da
quadra, onde ficam a bateria e o
mestre-sala e a porta-bandeira.
Vizinhança
O Psiu (Programa de Silêncio
Urbano da Prefeitura de São Paulo) recebeu de novembro do ano
passado até o dia 10 deste mês 20
reclamações relacionadas ao barulho dos ensaios. As escolas que
mais despertaram reclamações
foram Leandro de Itaquera (6) e
Acadêmicos do Tatuapé (5).
De todos os chamados, o Psiu
multou apenas a escola do Tatuapé, em R$ 21.553. Para chegar à
multa, é preciso que a agremiação
seja reincidente e que seja provado que ela extrapolou os limites
estabelecidos pela lei.
Texto Anterior: Transporte: Balsas do litoral têm reajuste de 13,4% hoje Próximo Texto: Ingressos custam a partir de R$ 30 Índice
|