São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Buscas só foram retomadas após pressão

Para a cúpula do governo Serra, era possível continuar o resgate sem colocar em risco as equipes envolvidas na operação

Consórcio afirmou que, na madrugada, houve avanços nas obras para a sustentação das paredes, permitindo a retomada dos trabalhos

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, disse ontem que o governo pressionou os técnicos do Consórcio Via Amarela a retomar as buscas pelas vítimas.
Na avaliação do governo, era possível continuar os trabalhos sem colocar em risco a equipe de resgate. A pressão foi feita após a concessionária anunciar que teria de paralisar as buscas por três ou quatro dias.
"A construtora disse que precisava de três dias. Passamos a noite negociando para que fosse mais rápido. Eles conseguiram fazer as obras necessárias de contenção para dar possibilidade de entrada dos bombeiros, sem que haja risco de vida", disse de manhã.
O reinício das buscas ocorreu às 11h de ontem, dez horas depois do anúncio da paralisação. Na nota, divulgada às 0h40 de ontem, o consórcio informou que as buscas seriam interrompidas devido ao risco de novos deslizamentos.
Segundo a Folha apurou, Serra ficou preocupado com o impacto da decisão sobre os parentes e também com as conseqüências políticas da medida.
Para o governador, as razões técnicas deveriam ser respeitadas, mas uma outra solução precisaria ser encontrada.
Imediatamente, interlocutores do Palácio dos Bandeirantes foram destacados para negociar com as empresas. Eles informaram às empreiteiras que o governo não aceitava o uso da palavra "parar". "Enquanto houver gente lá embaixo, nada vai parar", disse um membro do governo.
A assessoria do consórcio destacou que o prazo máximo era de quatro dias, mas que foram feitos esforços para reduzi-lo. "Face aos trabalhos e avanços alcançados na noite e madrugada [de segunda e terça-feira] e à nova avaliação dos consultores e projetistas, concluiu-se que o estágio atual de concretagem e sustentação das paredes, bem como a estabilidade alcançada, permitem a retomada das buscas imediatamente na Frente Faria Lima, dentro das circunstâncias de momento. Em razão do exposto, atestamos que o Corpo de Bombeiros pode reiniciar os trabalhos de resgate, nessa frente, com segurança", diz a nota divulgada pela manhã.
O anúncio da suspensão tinha ocorrido após reunião dos representantes do consórcio, em local próximo da obra, com os secretários Ronaldo Marzagão (Segurança Pública), Luiz Antonio Marrey (Justiça), Hubert Alquéres (Comunicação) e o presidente do Metrô, Luiz Carlos David, além do comandante-geral da Polícia Militar Roberto Diniz, e o delegado-geral, Mário Jordão. Também representante da secretaria dos Transportes participaram.
As famílias de desaparecidos no desabamento tinham sido as últimas a saber da suspensão das buscas por até quatro dias. A informação chegou por meio dos jornalistas que os procuraram perto das 2h da manhã de ontem para saber o que achavam da decisão.
Contrariados, os parentes acusaram o consórcio Via Amarela de escolher a madrugada para o anúncio, quando boa parte dos familiares já descansava, para fugir da reação.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, FÁBIO TAKAHASHI, FABIANE LEITE E KLEBER TOMAZ)


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