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Buscas só foram retomadas após pressão
Para a cúpula do governo Serra, era possível continuar o resgate sem colocar em risco as equipes envolvidas na operação
Consórcio afirmou que, na madrugada, houve avanços nas obras para a sustentação das paredes, permitindo a retomada dos trabalhos
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário dos Transportes
Metropolitanos, José Luiz Portella, disse ontem que o governo pressionou os técnicos do
Consórcio Via Amarela a retomar as buscas pelas vítimas.
Na avaliação do governo, era
possível continuar os trabalhos
sem colocar em risco a equipe
de resgate. A pressão foi feita
após a concessionária anunciar
que teria de paralisar as buscas
por três ou quatro dias.
"A construtora disse que precisava de três dias. Passamos a
noite negociando para que fosse mais rápido. Eles conseguiram fazer as obras necessárias
de contenção para dar possibilidade de entrada dos bombeiros, sem que haja risco de vida",
disse de manhã.
O reinício das buscas ocorreu
às 11h de ontem, dez horas depois do anúncio da paralisação.
Na nota, divulgada às 0h40 de
ontem, o consórcio informou
que as buscas seriam interrompidas devido ao risco de novos
deslizamentos.
Segundo a Folha apurou,
Serra ficou preocupado com o
impacto da decisão sobre os parentes e também com as conseqüências políticas da medida.
Para o governador, as razões
técnicas deveriam ser respeitadas, mas uma outra solução
precisaria ser encontrada.
Imediatamente, interlocutores do Palácio dos Bandeirantes foram destacados para negociar com as empresas. Eles
informaram às empreiteiras
que o governo não aceitava o
uso da palavra "parar". "Enquanto houver gente lá embaixo, nada vai parar", disse um
membro do governo.
A assessoria do consórcio
destacou que o prazo máximo
era de quatro dias, mas que foram feitos esforços para reduzi-lo. "Face aos trabalhos e
avanços alcançados na noite e
madrugada [de segunda e terça-feira] e à nova avaliação dos
consultores e projetistas, concluiu-se que o estágio atual de
concretagem e sustentação das
paredes, bem como a estabilidade alcançada, permitem a retomada das buscas imediatamente na Frente Faria Lima,
dentro das circunstâncias de
momento. Em razão do exposto, atestamos que o Corpo de
Bombeiros pode reiniciar os
trabalhos de resgate, nessa
frente, com segurança", diz a
nota divulgada pela manhã.
O anúncio da suspensão tinha ocorrido após reunião dos
representantes do consórcio,
em local próximo da obra, com
os secretários Ronaldo Marzagão (Segurança Pública), Luiz
Antonio Marrey (Justiça), Hubert Alquéres (Comunicação) e
o presidente do Metrô, Luiz
Carlos David, além do comandante-geral da Polícia Militar
Roberto Diniz, e o delegado-geral, Mário Jordão. Também representante da secretaria dos
Transportes participaram.
As famílias de desaparecidos
no desabamento tinham sido
as últimas a saber da suspensão
das buscas por até quatro dias.
A informação chegou por meio
dos jornalistas que os procuraram perto das 2h da manhã de
ontem para saber o que achavam da decisão.
Contrariados, os parentes
acusaram o consórcio Via
Amarela de escolher a madrugada para o anúncio, quando
boa parte dos familiares já descansava, para fugir da reação.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, FÁBIO TAKAHASHI, FABIANE LEITE E KLEBER TOMAZ)
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