São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Para engenheiros, acidente em 2005 foi por falta de concreto

Investigação indica que Consórcio Via Amarela economizou material em túnel que rachou em obra do metrô de São Paulo

Metrô ocultou o resultado da perícia, segundo três especialistas; companhia afirma que somente vai se pronunciar sobre isso hoje

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Metrô sabe desde dezembro de 2005 que a economia de material além dos limites autorizados pelas normas técnicas provocou um acidente no entorno da estação Pinheiros, segundo três especialistas ouvidos pela Folha. Eles acompanham ou já acompanharam a obra que ruiu e falaram sob a condição de que seus nomes não fossem revelados.
A economia de concreto feita pelo Consórcio Via Amarela foi a causa principal do primeiro acidente registrado na construção da estação Pinheiros, em 3 de dezembro de 2005, quando uma casa da rua Amaro Cavalheiro, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, adernou. O local fica a duas quadras do poço que ruiu na última sexta. Outras quatro casas sofreram avarias. Todas foram demolidas.
O Metrô ocultou o resultado do laudo que apontava a economia de concreto como causa principal do afundamento, segundo os especialistas. Um deles participou da investigação e trabalha no Metrô. Ele diz que a espessura da camada de concreto que revestia o teto do túnel que rachou estava menor do que o previsto no projeto.
Sinal vermelho
Alterações na espessura do concreto podem ocorrer em função do solo encontrado. O problema, segundo um dos especialistas, é que o consórcio avançou o sinal vermelho ao buscar um gasto menor. Na opinião dele, a investigação foi omitida por duas razões: 1) Para não prejudicar o ritmo da obra -a expansão do metrô era uma das bandeiras de Geraldo Alckmin (PSDB) na sua campanha à Presidência; 2) Para que não se questionasse sobre o tipo de contrato e a forma de gestão da linha 4.
A linha 4 é a primeira a ser construída sob um tipo de contrato chamado de "turn key", que prevê que a empresa ou consórcio respondam por todas as fases da obra, inclusive fiscalização, por um preço fechado -no caso, R$ 1,8 bilhão. É como uma terceirização total. Daí, o nome "turn key" -"vire a chave", em tradução literal, ou "chave nas mãos", em versão livre. A idéia é que o cliente só se preocupe com a obra quando estiver pronta. O Metrô diz que não abdicou do papel de fiscalizador, mas não informa quantos engenheiros estão no processo. Segundo o sindicato de metroviários, são quatro profissionais.
O uso de menos concreto do que o recomendado teria causado o rompimento do teto de um túnel, na versão dos especialistas. Com isso, a membrana de concreto mais fina cedeu. No ponto em que houve a fissura, a terra começou a passar, como se fosse uma ampulheta. Sobre essa região, ocorreu o que os engenheiros chamam de "efeito funil": abriu um buraco, que tragou fundações de uma das casas e danificou quatro.
Em 2005, o consórcio deu duas explicações aos moradores. Para uns, disse que a chuva causara o acidente; para outros, atribuiu o buraco ao rompimento de um cano. O Metrô diz que só vai se pronunciar hoje. O Consórcio Via Amarela não quis comentar as informações -afirma que a sua prioridade é o resgate. Moradores da rua Amaro Cavalheiro só foram indenizados quase um ano depois. "Só recebemos a indenização no fim do ano passado e, mesmo assim, porque contratamos advogados. As pessoas que sofreram com o desabamento de agora não podem se acomodar", diz a dentista Marli Kuniyoshi, 43. Sua mãe teve de se mudar de lá após o acidente.


Colaborou FLÁVIA MANTOVANI , da Reportagem Local


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