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Para engenheiros, acidente em 2005 foi por falta de concreto
Investigação indica que Consórcio Via Amarela economizou material em túnel que rachou em obra do metrô de São Paulo
Metrô ocultou o resultado da perícia, segundo três especialistas; companhia afirma que somente vai se pronunciar sobre isso hoje
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Metrô sabe desde dezembro de 2005 que a economia de
material além dos limites autorizados pelas normas técnicas
provocou um acidente no entorno da estação Pinheiros, segundo três especialistas ouvidos pela Folha. Eles acompanham ou já acompanharam a
obra que ruiu e falaram sob a
condição de que seus nomes
não fossem revelados.
A economia de concreto feita
pelo Consórcio Via Amarela foi
a causa principal do primeiro
acidente registrado na construção da estação Pinheiros, em 3
de dezembro de 2005, quando
uma casa da rua Amaro Cavalheiro, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, adernou. O local fica a duas quadras do poço
que ruiu na última sexta. Outras quatro casas sofreram avarias. Todas foram demolidas.
O Metrô ocultou o resultado
do laudo que apontava a economia de concreto como causa
principal do afundamento, segundo os especialistas. Um deles participou da investigação e
trabalha no Metrô. Ele diz que
a espessura da camada de concreto que revestia o teto do túnel que rachou estava menor
do que o previsto no projeto.
Sinal vermelho
Alterações na espessura do
concreto podem ocorrer em
função do solo encontrado. O
problema, segundo um dos especialistas, é que o consórcio
avançou o sinal vermelho ao
buscar um gasto menor. Na
opinião dele, a investigação foi
omitida por duas razões:
1) Para não prejudicar o ritmo da obra -a expansão do
metrô era uma das bandeiras
de Geraldo Alckmin (PSDB) na
sua campanha à Presidência;
2) Para que não se questionasse sobre o tipo de contrato e
a forma de gestão da linha 4.
A linha 4 é a primeira a ser
construída sob um tipo de contrato chamado de "turn key",
que prevê que a empresa ou
consórcio respondam por todas as fases da obra, inclusive
fiscalização, por um preço fechado -no caso, R$ 1,8 bilhão.
É como uma terceirização total. Daí, o nome "turn key"
-"vire a chave", em tradução literal, ou "chave nas mãos", em
versão livre. A idéia é que o
cliente só se preocupe com a
obra quando estiver pronta.
O Metrô diz que não abdicou
do papel de fiscalizador, mas
não informa quantos engenheiros estão no processo. Segundo
o sindicato de metroviários, são
quatro profissionais.
O uso de menos concreto do
que o recomendado teria causado o rompimento do teto de
um túnel, na versão dos especialistas. Com isso, a membrana de concreto mais fina cedeu.
No ponto em que houve a fissura, a terra começou a passar, como se fosse uma ampulheta.
Sobre essa região, ocorreu o
que os engenheiros chamam de
"efeito funil": abriu um buraco,
que tragou fundações de uma
das casas e danificou quatro.
Em 2005, o consórcio deu
duas explicações aos moradores. Para uns, disse que a chuva
causara o acidente; para outros,
atribuiu o buraco ao rompimento de um cano.
O Metrô diz que só vai se pronunciar hoje. O Consórcio Via
Amarela não quis comentar as
informações -afirma que a sua
prioridade é o resgate.
Moradores da rua Amaro Cavalheiro só foram indenizados
quase um ano depois. "Só recebemos a indenização no fim do
ano passado e, mesmo assim,
porque contratamos advogados. As pessoas que sofreram
com o desabamento de agora
não podem se acomodar", diz a
dentista Marli Kuniyoshi, 43.
Sua mãe teve de se mudar de lá
após o acidente.
Colaborou FLÁVIA MANTOVANI , da Reportagem Local
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