São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Metrô vetou túnel mais fundo em obra

Pedido de consórcio para aprofundar escavações em busca de solo mais firme, por causa de problemas geológicos, foi negado

Mudança foi proposta há 2 anos, mas só após contrato ser assinado; estatal temia adiamento da conclusão da linha e aumento dos custos

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os problemas geológicos nas proximidades do acidente da última sexta-feira na linha 4 do Metrô de São Paulo haviam levado as empreiteiras da obra a tentar autorização formal, há dois anos, para fazer os túneis com maior profundidade, num nível onde há mais consistência do solo e menos obstáculos para a operação da máquina que faria a escavação, o "tatuzão".
O pedido, que já sinalizava os temores com os trabalhos subterrâneos, foi rejeitado pelo Metrô porque iria resultar em elevação do preço e do prazo da obra -de 42 para 64 meses.
A informação foi confirmada oficialmente ontem pelo Metrô, que diz ter aceitado uma outra solução técnica para esse problema: a mudança do método construtivo revelada em 2004 pela Folha, de shield (com o "tatuzão") para NATM (que usa máquinas menores para as escavações).
A solicitação do Consórcio Via Amarela para fazer túneis até 15 metros mais profundos envolvia a frente de escavação da Fradique Coutinho até a Vila Sônia, incluindo a região do Butantã e de Pinheiros, próxima à marginal, onde as dificuldades geológicas são de amplo conhecimento técnico.
Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de geologia e de planejamento do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) nas décadas de 80 e 90, diz que, se os túneis fossem mais profundos no entorno da futura estação Pinheiros, não haveria tantos problemas no solo porque ele seria mais consistente.
Santos e outros especialistas ouvidos de forma reservada pela Folha fazem uma ressalva: a situação não serve para as construtoras se isentarem do acidente. "Não é desculpa", diz.
Primeiro porque a solicitação foi feita há dois anos, só depois da assinatura contratual.
Segundo porque, mesmo sem aprofundar a escavação do túnel, haveria soluções de engenharia para superar as dificuldades técnicas no mesmo nível em que ele foi construído.
A opção definida pelo Metrô, de qualquer forma, significava uma alternativa da companhia estadual que deveria requerer medidas mais trabalhosas -e maior cuidado na fiscalização.
A situação rememora outros episódios em que, mesmo indiretamente, os valores da linha 4 podem ter contribuído para o acidente. O valor proposto pelo vencedor da licitação (R$ 1,8 bilhão, em valores de 2003) ficou abaixo da expectativa -levando ao aumento das pressões para haver medidas de economia no decorrer da obra.
O próprio pedido do grupo para aprofundar a escavação e elevar os gastos logo após a assinatura contratual, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), sinaliza parte da insatisfação das empresas com as condições originais do empreendimento.
Nos anos 90, na elaboração do projeto básico da linha 4, também havia diversos trechos com previsão de estações mais profundas que atualmente.
O Metrô fez modificações de lá para cá principalmente com propósitos econômicos, ainda que significasse maior dificuldade geológica. As estações mais profundas costumam representar gastos maiores tanto na construção como na operação, até com escada rolante.
A opção de não permitir aumento de custos mas autorizar a mudança de método construtivo também é vista como um possível agravante das condições de risco da obra.
Originalmente, as construtoras deveriam fazer escavações com duas máquinas. Diante do problema geológico no trecho, foi permitido o uso de só um "tatuzão" (cujo custo beira R$ 80 milhões) e a substituição do outro pela técnica NATM, com explosivos e máquinas menores. A decisão foi criticada dentro do próprio Metrô.
Especialistas dizem que, pelo sistema NATM, há acidentes com maior freqüência.
Representantes da gestão José Serra (PSDB) negam que a mudança na técnica tenha interferência na obra. Isso porque a escavação do poço da estação não havia sido programada em shield. Há indícios, entretanto, de que as causas do acidente possam ter origem no túnel -e houve autorização para essa mudança no trecho Fradique Coutinho-Vila Sônia.


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