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Metrô vetou túnel mais fundo em obra
Pedido de consórcio para aprofundar escavações em busca de solo mais firme, por causa de problemas geológicos, foi negado
Mudança foi proposta há 2
anos, mas só após contrato ser assinado; estatal temia adiamento da conclusão da linha e aumento dos custos
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os problemas geológicos nas
proximidades do acidente da
última sexta-feira na linha 4 do
Metrô de São Paulo haviam levado as empreiteiras da obra a
tentar autorização formal, há
dois anos, para fazer os túneis
com maior profundidade, num
nível onde há mais consistência
do solo e menos obstáculos para a operação da máquina que
faria a escavação, o "tatuzão".
O pedido, que já sinalizava os
temores com os trabalhos subterrâneos, foi rejeitado pelo
Metrô porque iria resultar em
elevação do preço e do prazo da
obra -de 42 para 64 meses.
A informação foi confirmada
oficialmente ontem pelo Metrô, que diz ter aceitado uma
outra solução técnica para esse
problema: a mudança do método construtivo revelada em
2004 pela Folha, de shield
(com o "tatuzão") para NATM
(que usa máquinas menores
para as escavações).
A solicitação do Consórcio
Via Amarela para fazer túneis
até 15 metros mais profundos
envolvia a frente de escavação
da Fradique Coutinho até a Vila Sônia, incluindo a região do
Butantã e de Pinheiros, próxima à marginal, onde as dificuldades geológicas são de amplo
conhecimento técnico.
Álvaro Rodrigues dos Santos,
ex-diretor de geologia e de planejamento do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas) nas
décadas de 80 e 90, diz que, se
os túneis fossem mais profundos no entorno da futura estação Pinheiros, não haveria tantos problemas no solo porque
ele seria mais consistente.
Santos e outros especialistas
ouvidos de forma reservada pela Folha fazem uma ressalva: a
situação não serve para as
construtoras se isentarem do
acidente. "Não é desculpa", diz.
Primeiro porque a solicitação foi feita há dois anos, só depois da assinatura contratual.
Segundo porque, mesmo
sem aprofundar a escavação do
túnel, haveria soluções de engenharia para superar as dificuldades técnicas no mesmo
nível em que ele foi construído.
A opção definida pelo Metrô,
de qualquer forma, significava
uma alternativa da companhia
estadual que deveria requerer
medidas mais trabalhosas -e
maior cuidado na fiscalização.
A situação rememora outros
episódios em que, mesmo indiretamente, os valores da linha
4 podem ter contribuído para o
acidente. O valor proposto pelo
vencedor da licitação (R$ 1,8
bilhão, em valores de 2003) ficou abaixo da expectativa -levando ao aumento das pressões para haver medidas de
economia no decorrer da obra.
O próprio pedido do grupo
para aprofundar a escavação e
elevar os gastos logo após a assinatura contratual, na gestão
Geraldo Alckmin (PSDB), sinaliza parte da insatisfação das
empresas com as condições
originais do empreendimento.
Nos anos 90, na elaboração
do projeto básico da linha 4,
também havia diversos trechos
com previsão de estações mais
profundas que atualmente.
O Metrô fez modificações de
lá para cá principalmente com
propósitos econômicos, ainda
que significasse maior dificuldade geológica. As estações
mais profundas costumam representar gastos maiores tanto
na construção como na operação, até com escada rolante.
A opção de não permitir aumento de custos mas autorizar
a mudança de método construtivo também é vista como um
possível agravante das condições de risco da obra.
Originalmente, as construtoras deveriam fazer escavações
com duas máquinas. Diante do
problema geológico no trecho,
foi permitido o uso de só um
"tatuzão" (cujo custo beira R$
80 milhões) e a substituição do
outro pela técnica NATM, com
explosivos e máquinas menores. A decisão foi criticada dentro do próprio Metrô.
Especialistas dizem que, pelo
sistema NATM, há acidentes
com maior freqüência.
Representantes da gestão
José Serra (PSDB) negam que a
mudança na técnica tenha interferência na obra. Isso porque a escavação do poço da estação não havia sido programada em shield. Há indícios, entretanto, de que as causas do
acidente possam ter origem no
túnel -e houve autorização para essa mudança no trecho Fradique Coutinho-Vila Sônia.
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