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Propaganda de alimentos deverá ser voltada aos pais
Para maiores de seis anos, as informações enfatizarão o uso de dietas balanceadas e saudáveis
A iniciativa, que entra em vigor agora, foi tomada após a assinatura de termo de compromisso europeu, que ocorreu em 2007
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir deste mês, diversas
indústrias alimentícias multinacionais presentes no país começaram a adotar regras mais
rígidas na publicidade dirigida
ao público infantil.
Entre as determinações, não
haverá mais nenhum tipo de
propaganda ou atividade de
marketing para crianças de até
seis anos. Nesse caso, as campanhas serão dirigidas a seus
pais. Para os maiores de seis
anos, as informações transmitidas enfatizarão o uso de dietas balanceadas e saudáveis.
A iniciativa, que entra em vigor agora, foi tomada após a assinatura do termo de compromisso europeu EU-Pledge, em
2007. O termo pretende fazer
com que as empresas se comuniquem de forma mais responsável com as crianças.
Onze empresas assinaram o
compromisso. Entre elas estão
Nestlé, Coca-Cola, PepsiCo,
Danone, Kellogg's, Kraft, Unilever e Burguer King Europa. O
compromisso, no entanto, atinge particularmente Nestlé e
Kellogg's, que já estão mudando sua comunicação no país.
As outras signatárias afirmaram que não fazem propaganda
para crianças ou que já tinham
adotado essa política anteriormente. A Danone e a área de
alimentos da PepsiCo, porém,
não responderam sobre as mudanças até as 23h30.
"Suspendemos as campanhas que tínhamos para as
crianças pequenas em janeiro e
fizemos várias reuniões com
nossas agências para esclarecer
as novas políticas que estão
sendo adotadas", diz Izael Sinem, diretor de comunicação e
marketing da Nestlé Brasil.
Entre os novos procedimentos, as campanhas não devem
gerar expectativas irreais sobre
sucesso nem usar personagens
de programas. Também não
poderão gerar a sensação de urgência no consumo ou criar dificuldades para que a criança
diferencie o conteúdo do produto e da propaganda.
Já as campanhas para crianças pequenas sairão dos canais
infantis, por exemplo, e serão
feitas para os pais, em programas adultos. As promoções
também envolverão os pais.
A iniciativa é uma resposta às
pressões que a indústria alimentícia têm enfrentado com
relação a sua comunicação em
todo o mundo. No Brasil, a situação não é diferente. Em
2008, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
abriu consulta pública para
criar uma regulamentação específica sobre o assunto.
O temor das empresas é de
que a regulamentação seja rígida a ponto de banir a propaganda de alimentos, a exemplo do
que aconteceu com os cigarros.
O Conar (Conselho Nacional
de Autorregulamentação Publicitária) também aumentou a
vigilância das propagandas de
alimentos, produtos e serviços
destinados a crianças. Essas categorias tiraram das propagandas de bebidas alcoólicas o posto de principal alvo do Conar.
Uma das ações no Conar, por
exemplo, envolvia a Nestlé. A
campanha do Nescau Nutri Junior tinha como slogan as frases "Você vê nutrientes -Seu filho só vê Nescau". O órgão considerou que o mote estimulava
as crianças a rejeitar os alimentos mais saudáveis e determinou a retirada do filme do ar.
"As mudanças são uma resposta à iniciativa da Anvisa",
diz João Mattar, professor de
marketing de produtos e serviços para crianças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e
Marketing). "Se as empresas
não se mobilizarem, acabarão
pressionadas por outros setores da sociedade, que interferirão de maneira mais radical."
Laís Fontenele Pereira, coordenadora de educação e pesquisa do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, diz
que a mudança é um avanço,
mas ainda há muito a ser feito.
"Seria melhor se suspendesse a
publicidade até os 12 anos, e
não só até os seis", diz ela.
Colaborou VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO da Reportagem Local
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