São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Promotor afirma que PMs participaram de extermínio

Francisco Cembranelli diz que trabalha em 7 ações contra policiais na zona norte

Entre as acusações citadas está a morte de sem-teto; corregedoria da polícia também investiga os crimes

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Francisco Cembranelli, o promotor responsável pelas condenações do casal Nardoni e de um dos assassinos do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, pretende voltar ao júri em 2011 para uma tarefa mais complicada.
Em entrevista exclusiva à Folha, ele antecipa que tentará condenar policiais militares suspeitos de envolvimento com grupos de extermínio na zona norte de São Paulo e fala sobre suspeita de envolvimento de PMs na morte de sem-teto.
Cembranelli ressalta, porém, que os casos de desvio são exceções dentro da corporação, considerada por ele uma "aliada" do Ministério Público. A corregedoria da Polícia Militar também investiga os casos.

 


Folha - Como andam as investigações sobre grupos de extermínio, supostamente com PMs, na zona norte?
Francisco Cembranelli
-
Seis ou sete ações penais envolvem policiais. São PMs que se envolvem em execuções. A investigação é difícil, pois é lenta e há intimidação de testemunhas.

De que tipo?
Não são raros os casos de testemunhas que são ouvidas e aparecem, misteriosamente, mortas crivadas de balas.

Quando os primeiros PMs devem ser julgados?
Em 2011, pelo menos uma meia dúzia será levada a júri. Quando PMs são julgados, é difícil conseguir a condenação de todos. A PM, em vez de expurgá-los, cria dificuldade para se chegar a provas.

Como atuam os grupos de extermínio na zona norte?
Os policiais escolhem pequenos viciados ou sem-teto alojados debaixo de viadutos. Chegam lá e matam todos. Aconteceu no viaduto do Parque Novo Mundo.

É para "limpar" a área?
Exato. Existem ainda máfias que exploram jogo e conluio de policiais com grupos marginais nos pontos de vendas de droga. Claro que isso é exceção. A PM é uma aliada do Ministério Público.

É tão difícil quanto processo envolvendo políticos?
No caso Celso Daniel, nosso propósito nunca foi abalar partidos. Minha ideia era de que ninguém mais sentasse no banco dos réus que não fossem os assassinos.

Foi criticado por falar em corrupção em Santo André?
Temos vários depoimentos e provas documentais de que havia desvio de dinheiro ali. Em nenhum momento fui leviano. Está nos autos.

Quanto tempo os assassinos de Isabella ficarão presos?
Em 15 anos os Nardoni [condenados a 30 anos de prisão] estarão soltos. As pessoas que matam logo voltam ao convívio social. Isso, sim, pode ser considerado uma condenação perpétua.

Os meios-irmãos de Isabella também são vítimas?
Sempre fui categórico sobre não fazer uso do depoimento deles.
Eu não conseguiria viver com a ideia de que usei uma criança para condenar os próprios pais.

Já se habituou a ser pop?
Ainda me param nas ruas. Algumas pessoas pedem para tirar foto. Fico sem jeito.

E o assédio feminino? Já viu a página Eu Amo Cembranelli?
Nunca acessei esses blogs e sites. Recebo e-mails, cartas. Coisas normais quando se aparece um pouco mais.

E as críticas?
Os que disseram que o promotor celebridade está de olho em cargo político queimaram a língua. Continuo no mesmo lugar, fazendo júri.


Texto Anterior: Em MG, alerta de enchente é dado pelo sino da igreja
Próximo Texto: Frases
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.