São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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VIOLÊNCIA

Cinco das vítimas, entre elas um garoto, moravam na favela; traficantes do CV tentaram, sem sucesso, retomar controle da área

Guerra do tráfico deixa 6 mortos na Rocinha

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma tentativa malsucedida de invasão de cerca de 40 traficantes à favela da Rocinha, na zona sul do Rio, resultou na morte de seis pessoas, entre elas cinco moradores sem ligação aparente com o tráfico. Foram presas 15 pessoas, e a polícia apreendeu seis fuzis, uma granada e duas pistolas.
Anteontem, apenas um dos mortos havia sido encontrado. O estudante Diego de Araújo Lima, 14, ainda vestia o uniforme escolar quando foi atingido por um tiro no peito, na laje de sua casa, na localidade conhecida por Vila Verde, também no alto do morro. Levado para o hospital Miguel Couto, ele não resistiu aos ferimentos.
A invasão, segundo a polícia, foi planejada por quatro traficantes do Comando Vermelho (CV) que foram expulsos da Rocinha em 2004, quando as bocas-de-fumo da favela foram tomadas por traficantes rivais, da ADA (Amigo dos Amigos). Eles se refugiaram no morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Foi dali, segundo a polícia, que os traficantes saíram em direção à Rocinha.
A invasão aconteceu por volta das 18h de anteontem, quando os cerca de 40 homens, com blusas pretas, entraram na Rocinha por ruas do alto da favela. As vias são acessadas pela estrada da Gávea e por uma mata que leva ao Leblon.
Houve intenso tiroteio por pelo menos três horas. Os transformadores da favela foram atingidos e a Rocinha ficou às escuras, dando mais chance de a ADA revidar o ataque, já que seus integrantes conhecem bem os becos e as ruelas da favela. Ontem pela manhã, a polícia fez buscas na favela e na mata. Homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM), dois helicópteros e pelos menos três blindados fizeram parte da operação. Por volta das 10h, encontraram mais cinco corpos.

Monitoramento
Os traficantes monitoravam a todo momento os passos dos policiais. Por meio de um radiotransmissor, a Folha conseguiu ouvir conversas de traficantes. Quando o blindado chegou, os traficantes informavam seu trajeto. "O "caveirão" [blindado] tá chegando no [largo] Boiadeiros. Vai entrar na bala [levar tiros] o dia todo".
O helicóptero da polícia também era monitorado. Um dos traficantes chegou a pedir que levassem para ele maconha. "Pede a um menor aí para trazer um baseado para mim, porque minha onda já passou", disse.
Entre a madrugada e a manhã de ontem, a polícia conseguiu prender nove pessoas. Um homem e uma mulher foram detidos na parte alta da favela com três fuzis e um lança-rojões na madrugada. Quatro foram presos depois de invadir o prédio 699 da rua Timóteo da Costa, no Alto Leblon. Eles teriam ficado parte da madrugada ali, até que fizeram o síndico e o porteiro do prédio reféns. A PM foi acionada por moradores e conseguiu capturá-los.
A mulher de um deles, uma adolescente de 17 anos que estava num táxi e teria ido resgatá-los, tentou subornar policiais que os prendeu e foi detida. Com eles, a polícia apreendeu três fuzis, um lança-rojão e farta munição.

Pavão-Pavãozinho
Uma Pajero foi encontrado à tarde no morro Pavão-Pavãozinho. Dentro do carro, a polícia encontrou uma calça suja de sangue. No bolso, havia um mapa com o plano de ação dos traficantes.
No mapa havia todo o detalhamento da localização dos acessos à favela, das bocas-de-fumo, divididas por seus respectivos donos (QG do Nem, QG do Joca, QG do Cabeça Branca) e os locais onde ficam os carros da PM, identificados como "Gol [o carro] bola".
Logo depois de chegar ao morro, a polícia prendeu quatro pessoas, entre elas uma jovem de 16 anos, que saíam do local em um Corsa. Os detidos eram da Vila Cruzeiro, no morro do Alemão. No carro, havia os pertences do dono do Pajero.
O dono da calça seria o traficante Rogério Duarte Correia, o Rogerinho, um dos líderes do ataque. Ele é irmão do dono das bocas-de-fumo do Pavão-Pavãozinho, Paulo Henrique Duarte Correia, o Juca Bala.
Cães farejadores cheiraram a calça e foram usados nas buscas pelo traficante no morro. Mais dois homens foram presos no morro, acusados de tráfico.
Até a conclusão desta edição, os líderes do ataque não haviam sido presos.


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