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VIOLÊNCIA
Cinco das vítimas, entre elas um garoto, moravam na favela; traficantes do CV tentaram, sem sucesso, retomar controle da área
Guerra do tráfico deixa 6 mortos na Rocinha
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Uma tentativa malsucedida de
invasão de cerca de 40 traficantes
à favela da Rocinha, na zona sul
do Rio, resultou na morte de seis
pessoas, entre elas cinco moradores sem ligação aparente com o
tráfico. Foram presas 15 pessoas, e
a polícia apreendeu seis fuzis,
uma granada e duas pistolas.
Anteontem, apenas um dos
mortos havia sido encontrado. O
estudante Diego de Araújo Lima,
14, ainda vestia o uniforme escolar quando foi atingido por um tiro no peito, na laje de sua casa, na
localidade conhecida por Vila
Verde, também no alto do morro.
Levado para o hospital Miguel
Couto, ele não resistiu aos ferimentos.
A invasão, segundo a polícia, foi
planejada por quatro traficantes
do Comando Vermelho (CV) que
foram expulsos da Rocinha em
2004, quando as bocas-de-fumo
da favela foram tomadas por traficantes rivais, da ADA (Amigo dos
Amigos). Eles se refugiaram no
morro Pavão-Pavãozinho, em
Copacabana. Foi dali, segundo a
polícia, que os traficantes saíram
em direção à Rocinha.
A invasão aconteceu por volta
das 18h de anteontem, quando os
cerca de 40 homens, com blusas
pretas, entraram na Rocinha por
ruas do alto da favela. As vias são
acessadas pela estrada da Gávea e
por uma mata que leva ao Leblon.
Houve intenso tiroteio por pelo
menos três horas. Os transformadores da favela foram atingidos e
a Rocinha ficou às escuras, dando
mais chance de a ADA revidar o
ataque, já que seus integrantes conhecem bem os becos e as ruelas
da favela. Ontem pela manhã, a
polícia fez buscas na favela e na
mata. Homens do Bope (Batalhão
de Operações Especiais da PM),
dois helicópteros e pelos menos
três blindados fizeram parte da
operação. Por volta das 10h, encontraram mais cinco corpos.
Monitoramento
Os traficantes monitoravam a
todo momento os passos dos policiais. Por meio de um radiotransmissor, a Folha conseguiu
ouvir conversas de traficantes.
Quando o blindado chegou, os
traficantes informavam seu trajeto. "O "caveirão" [blindado] tá
chegando no [largo] Boiadeiros.
Vai entrar na bala [levar tiros] o
dia todo".
O helicóptero da polícia também era monitorado. Um dos traficantes chegou a pedir que levassem para ele maconha. "Pede a
um menor aí para trazer um baseado para mim, porque minha
onda já passou", disse.
Entre a madrugada e a manhã
de ontem, a polícia conseguiu
prender nove pessoas. Um homem e uma mulher foram detidos na parte alta da favela com
três fuzis e um lança-rojões na
madrugada. Quatro foram presos
depois de invadir o prédio 699 da
rua Timóteo da Costa, no Alto Leblon. Eles teriam ficado parte da
madrugada ali, até que fizeram o
síndico e o porteiro do prédio reféns. A PM foi acionada por moradores e conseguiu capturá-los.
A mulher de um deles, uma
adolescente de 17 anos que estava
num táxi e teria ido resgatá-los,
tentou subornar policiais que os
prendeu e foi detida. Com eles, a
polícia apreendeu três fuzis, um
lança-rojão e farta munição.
Pavão-Pavãozinho
Uma Pajero foi encontrado à
tarde no morro Pavão-Pavãozinho. Dentro do carro, a polícia
encontrou uma calça suja de sangue. No bolso, havia um mapa
com o plano de ação dos traficantes.
No mapa havia todo o detalhamento da localização dos acessos
à favela, das bocas-de-fumo, divididas por seus respectivos donos
(QG do Nem, QG do Joca, QG do
Cabeça Branca) e os locais onde
ficam os carros da PM, identificados como "Gol [o carro] bola".
Logo depois de chegar ao morro, a polícia prendeu quatro pessoas, entre elas uma jovem de 16
anos, que saíam do local em um
Corsa. Os detidos eram da Vila
Cruzeiro, no morro do Alemão.
No carro, havia os pertences do
dono do Pajero.
O dono da calça seria o traficante Rogério Duarte Correia, o Rogerinho, um dos líderes do ataque. Ele é irmão do dono das bocas-de-fumo do Pavão-Pavãozinho, Paulo Henrique Duarte Correia, o Juca Bala.
Cães farejadores cheiraram a
calça e foram usados nas buscas
pelo traficante no morro. Mais
dois homens foram presos no
morro, acusados de tráfico.
Até a conclusão desta edição, os
líderes do ataque não haviam sido
presos.
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