São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

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SUCESSÃO NA UNICAMP

Universidade responde por 15% da produção científica do país e 10% da pós-graduação nacional

Reitoráveis querem aproximação com sociedade

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é responsável por cerca de 15% da produção científica feita no Brasil, 10% da pós-graduação nacional e tem em seu quadro de docentes 1.800 especialistas nas mais diversas áreas do conhecimento, sendo 90% deles doutores. Mas ainda não contribui de forma suficiente para a discussão e busca da solução de problemas políticos, sociais, econômicos e tecnológicos do país.
Essa visão é compartilhada pelos cinco candidatos à cadeira de reitor da terceira maior universidade pública de São Paulo. Todos dizem ser necessária uma maior aproximação da Unicamp com a sociedade e seus problemas.
O primeiro turno da "eleição" será nos dias 20 e 21, numa consulta à comunidade universitária, cerca de 33 mil pessoas entre alunos, professores e funcionários.
Os resultados da votação são encaminhados ao Conselho Universitário, que elabora uma lista com três nomes e a encaminha ao governador, a quem cabe a nomeação do novo reitor. Nem o governador nem o conselho têm de seguir o que diz a consulta, mas isso costuma acontecer.
Cinco professores concorrem à vaga ocupada por Hermano Tavares: Roberto Romano da Silva, 55, do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas); José Tomaz Vieira Pereira, 57, da Faculdade de Engenharia Mecânica; Carlos Henrique de Brito Cruz, 45, do Instituto de Física Gleb Wataghin; o atual vice-reitor, Fernando Galembeck, 59; e Vitor Baranauskas, 50, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.

Além dos muros
A preocupação de atuar mais efetivamente além dos muros da universidade reflete em parte a forma como os problemas estão transpondo esses muros e atingindo a comunidade acadêmica.
O crescimento da violência dentro do campus, por exemplo, levou a Unicamp a cercar a área e colocar policiais fazendo rondas.
Para Baranauskas, um dos desafios é achar um modo de "contribuir para que a Unicamp tenha uma maior integração com a região metropolitana de Campinas, para auxílio nos seus graves problemas sociais e da necessidade de uma convivência crítica com a chamada globalização".
A aproximação é prioritária também para Pereira. "A Unicamp tem uma história de inteligência que se torna cada vez mais importante frente aos contrastes de nossa sociedade."
"A Unicamp precisa reforçar sua posição institucional como entidade formuladora de idéias e políticas públicas em todas as áreas", diz Brito.
"Não tenho dúvida da demanda para emissão de opiniões, desenvolvimento de estudos e formulação de políticas em relação à Unicamp. Com relação a isso, não podemos ser modestos nem tímidos", afirma Galembeck.
Para o professor Romano, a responsabilidade da universidade é ainda maior porque, em meio à "crise de credibilidade das entidades que nos representam, a Unicamp é uma das poucas instituições que ainda tem a fé pública".
O atual reitor sustenta, porém, que nunca houve uma aproximação tão grande entre a universidade e as cidades da região de Campinas e cita como exemplo a oferta de cursos de graduação em pedagogia para 400 professores.
A abertura de portas para a comunidade externa significa também a intensificação de parcerias com a iniciativa privada, o que representa um reforço de caixa para a Unicamp, cujo Orçamento para 2002 é de cerca de R$ 630 milhões.
Além dos convênios com o SUS e a Receita Federal e da verba vinda de instituições de financiamento à pesquisa, há também os contratos para prestação de serviços a empresas, defendidos pelos reitoráveis desde que não signifiquem o cerceamento da liberdade acadêmica.
No ano passado, a reitoria da Unicamp estima que a receita extra-orçamentária tenha sido de R$ 215 milhões -o Orçamento oficial foi de R$ 524 milhões.

Fundo de previdência
Outro problema urgente é a necessidade da criação de um fundo de previdência. Hoje cerca de 17% do Orçamento vai para inativos. Embora o quadro não seja tão grave quanto o da USP -onde o comprometimento é de 25%-, é considerado ameaçador.
Depois da autonomia, declarada em 89, as universidades estaduais paulistas começaram a ter de arcar com os custos das aposentadorias, que vêm aumentando. Isso significa menos verba para gastos em infra-estrutura e aumento do número de vagas.


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