São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2005

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TRANSPORTE

Governo diz que houve "atos criminosos" para acabar com bilhete único e cogita diminuir autorizações para circular

Gestão Serra ameaça reduzir frota legalizada

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Policial militar agride manifestante caído durante o protesto de perueiros na região central de SP


DA REPORTAGEM LOCAL

Os protestos dos perueiros levaram a administração José Serra (PSDB) a endurecer seu discurso, ameaçando retirar autorizações da categoria para trabalhar e cogitando diminuir a quantidade de operadores em São Paulo.
O prefeito e seus auxiliares deram declarações de que a mobilização seria uma ameaça ao bilhete único. A gestão tucana também condicionou as negociações à normalização do transporte.
Em nota oficial, a prefeitura afirmou que "as cooperativas que não voltarem ao trabalho até a primeira hora desta quinta-feira estão sujeitas à rescisão dos contratos, sendo seus serviços pagos diretamente aos perueiros (eliminando-se sua intermediação) ou substituído pelos ônibus".
A Secretaria dos Transportes chegou a enviar notificação extrajudicial às cooperativas adiantando a possibilidade de rescisão contratual, por considerar a paralisação como um locaute.
"Uma coisa é reivindicar, outra é fazer vandalismo, que prejudica a própria população. São métodos violentos e inaceitáveis numa cidade como São Paulo e em qualquer outro lugar. Na verdade, o que muita gente quer, e muitas entidades de perueiros, é o fim do bilhete único. E nós não vamos acabar com o bilhete único", disse Serra ao SPTV, da TV Globo.
Guilherme Correa Filho, presidente da Transcooper, afirmou que a categoria é favorável ao bilhete único e que as declarações de Serra são uma "desculpa" para fazer mudanças no benefício.
Quatro secretários tucanos foram deslocados para dar esclarecimentos aos jornalistas: Frederico Bussinger (Transportes), Aloysio Nunes Ferreira (Governo), Mauro Ricardo Costa (Finanças) e Francisco Luna (Planejamento).
Ferreira chegou a apresentar um projétil que teria sido lançado por perueiros nos PMs. "Se atingisse a cabeça de alguém, mataria", afirmou. "Houve atos criminosos, feitos por indivíduos encapuzados", disse Ferreira.
Ele afirmou que existem hoje 6.500 perueiros, mas que a licitação previa 5.000. Questionado se cogita reduzir essa quantidade, admitiu a possibilidade, mas disse que haverá definições conforme mudanças nas linhas do transporte de ônibus e lotações, cujos estudos serão concluídos em abril.
A ameaça agrada empresários de ônibus e preocupa os perueiros. A reorganização das linhas vai resultar em alterações de trajetos. As lotações que circulam hoje inclusive em áreas centrais devem ficar restritas aos bairros da periferia, em percursos menores.
"Os entendimentos foram suspensos em razão do locaute [paralisação determinada por proprietários]. As negociações foram brutalmente interrompidas", afirmou Ferreira. Ele e Bussinger admitem que os valores que começaram a ser pagos no dia 5 de março precisam de revisão, mas alegam que ela deve ser acompanhada da reformulação das linhas. Enquanto isso, aceitam uma forma de pagamento temporária, mas não que os perueiros fiquem com a tarifa integral de R$ 2,00 cobrada dos usuários.
O secretário dos Transportes afirma que a intenção é manter em março um patamar de pagamento aos operadores próximo dos meses anteriores -de R$ 70 milhões. Diz que, a partir de abril, poderia haver alguma elevação.
Os perueiros dizem ser preciso no mínimo R$ 98 milhões mensais -valor que iria requerer aporte de subsídios de R$ 7 milhões, algo descartado por Serra. O montante de R$ 224 milhões em subvenções reservado no Orçamento de 2005 deverá ser dado prioritariamente às viações.


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