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JUVENTUDE ENCARCERADA
Verba passa de R$ 66,6 mil por interno ao ano para R$ 59,6 mil; no período, ocorreram 74 rebeliões
Alckmin reduz gasto per capita na Febem
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Após quatro anos sob a responsabilidade do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a Febem de
São Paulo reduziu o gasto per capita com os jovens infratores. De
2001 a 2004, as verbas totais usadas pela Fundação para o Bem-Estar do Menor passaram de R$
66,6 mil por adolescente a cada
ano para R$ 59,6 mil.
É uma redução de 10,5% num
período marcado por 74 rebeliões
-uma a cada 20 dias, em média- e mais de 1.500 fugitivos.
Os dados são da própria Febem,
apenas corrigidos pela inflação do
período pelo IPC-Fipe (índice que
usa como base a capital paulista).
O presidente da Febem, Alexandre de Moraes, diz que a redução
de custos dos adolescentes reflete
a economia feita pelo governo e
nega relação com o número de rebeliões (leia texto nesta página).
Com a morte do governador
Mário Covas, em março de 2001,
Alckmin assumiu uma Febem
com 4.439 internos. Desde então,
já trocou diversas vezes a direção
da fundação e vem entregando a
cada ano novos prédios no interior do Estado para desafogar as
unidades mais problemáticas
-Vila Maria e Tatuapé, na zona
leste da capital paulista, Franco da
Rocha e Raposo Tavares.
Esse esforço não é suficiente.
Em quatro anos, a população de
internos teve um salto de 49,5%,
com um acréscimo de 2.189 adolescentes infratores. Já as verbas
totais destinadas à fundação tiveram aumento menor: 33,7%.
Com menos recursos, o governo tucano descumpriu promessas
e adotou soluções paliativas em
diversas situações emergenciais,
como a transferência provisória
de meninos para presídios em casos de rebeliões que destruíram
prédios da fundação -contrariando o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
"É difícil mudar a Febem sem
alterar o modelo prisional vigente, que pouco tem de educativo",
critica Aline Yamamoto, advogada do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente).
Um exemplo de promessa não
cumprida ocorreu na desativação
da Febem de Parelheiros. Em
março de 2001, Alckmin se comprometeu a fechar a unidade
-que vinha registrando diversas
rebeliões- em dois meses. Só
cumpriu a palavra 16 meses depois. E muitos desses menores foram transferidos para unidades
consideradas inadequadas por
entidades de defesa da criança.
Um exemplo de colapso no sistema aconteceu em 2003, quando
a relatora especial das Nações
Unidas Asma Jahangir foi impedida de visitar a unidade de atendimento inicial do Brás. A direção
da Febem alegou que havia superlotação -655 internos para 62
vagas- e falta de segurança.
Alckmin planeja construir nove
unidades no Estado neste ano.
Mas a verba para investimentos
da Febem caiu para menos de um
terço desde 2002.
Naquele ano, com R$ 50 milhões para investir, o governo entregou nove unidades. No ano seguinte, sete. Já em 2004, com apenas R$ 14 milhões, apenas uma.
"Investimentos são essenciais
para prevenir problemas futuros", diz o especialista em administração pública Adalberto
Fischmann, da Faculdade de Economia da USP. "Senão, o governante fica queimando dinheiro
num modelo falido", completa.
Para ele, é essencial verificar a
utilização da verba. Em 2004, a
manutenção de um interno custava ao governo R$ 2.318 por mês
-mais de três vezes o custo de
um preso mantido pelo Estado.
Também é o triplo do rendimento
médio mensal do trabalhador
brasileiro, segundo o IBGE.
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