São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2005

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EDUCAÇÃO SEXUAL

Católicos acham que projeto do governo de antecipar idade do público-alvo de campanha estimula o sexo precoce

Bispo propõe abstinência para jovens

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde deveria destinar 50% do investimento que faz na compra de preservativos para a elaboração de uma política de educação sexual voltada a adolescentes que inclua valores éticos e morais, como a abstinência sexual até o casamento.
É a contraproposta do bispo emérito de Jundiaí (interior de SP), dom Amaury Castanho, apoiada por organizações católicas, como Provida e CNBB, ao projeto do governo federal de implantar a educação sexual nas escolas a partir dos dez anos.
Para Castanho, do ponto de vista educativo, a abstinência sexual é mais eficaz para evitar as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), a gravidez e os abortos na adolescência. "[A abstinência] é mais positiva do que dizer transem à vontade, porém utilizem o preservativo."

Antinatural
A médica Alice Teixeira, da comissão de bioética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), concorda com Castanho e apóia a idéia da abstinência. "O que uma criança de dez anos vai entender de sexo? É antinatural." Para ela, as gravidezes precoces nessa faixa etária são, em geral, fruto de violência sexual.
Na avaliação do presidente da Provida, professor Humberto Leal Vieira, o projeto de educação sexual do governo é um "absurdo" e vai provocar um aumento das doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez na adolescência. "Será um desastre. A sociedade tem que impedir que isso aconteça. Essa decisão tira dos pais o poder de dar aos filhos a educação sexual em que acreditam, na hora certa."
Vieira é membro vitalício da Pontifícia Academia para a Vida, um escritório do Vaticano voltado para as questões éticas.
A proposta da abstinência sexual foi feita por Castanho diretamente ao ministro Humberto Costa, durante debate sobre aborto e célula-tronco, realizado pela Folha no último dia 7. Para Costa, a idéia de abstinência é "inócua" do ponto de vista de política pública destinada à juventude.
"A abstinência como forma de evitar a contaminação da Aids ou de prevenir a gravidez precoce não tem sido um instrumento eficaz em outros países. Eu, como gestor de saúde pública, tenho que me preocupar com os jovens que transam antes do casamento e dar a eles a possibilidade de prevenção. O início da vida sexual deve ser uma decisão individual, devidamente informada."
O procurador Paulo Leão, presidente da União dos Juristas Católicos, discordou argumentando que o combate à Aids em Uganda (África), que chegou a ter 20% da população contaminada pelo vírus HIV e que agora baixou para 6%, é fundamentado na abstinência sexual.
"Se o sexo é colocado como comer pipoca, é claro que vai ser tudo banalizado", afirma.


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