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BATOM & COTURNO
Oficiais PMs dizem que nomeação de Fátima Ramos Dutra para cargo no governo Alckmin é inconstitucional
Mulher na Casa Militar irrita coronéis
Daniel Guimarães - 8.mar.2006/Folha Imagem
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A coronel Fátima Ramos Dutra ao lado do governador e presidenciável Geraldo Alckmin no dia de sua indicação para a Casa Militar |
LAURA CAPRIGLIONE
FERNANDO BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Virtual candidato à Presidência
pelo PSDB, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, achou
que estava marcando um golaço
para a platéia feminina ao indicar,
no último dia 8 de março, pela
primeira vez na história, uma mulher, a coronel Fátima Ramos Dutra, para chefiar a Casa Militar do
governo paulista. Deixou irados
muitos dos 56 oficiais coronéis da
PM preteridos com a indicação
do policial feminino.
Uma reunião da Comissão de
Segurança Pública da Assembléia
Legislativa foi convocada anteontem para debater a constitucionalidade da indicação. "É inconstitucional", diz o presidente da comissão, o deputado Afanasio Jazadji, do PFL.
Diz o artigo 141 da Constituição
paulista: "O chefe da Casa Militar
será escolhido pelo governador
entre oficiais da ativa, ocupantes
do último posto do quadro de oficiais policiais militares". "Ela é do
quadro de oficiais policiais femininos, não pertence ao quadro de
oficiais da PM, como exige a
Constituição", diz Jazadji.
As carreiras de oficial PM e de
oficial policial feminino são separadas. Mesmo que obtenha a patente de coronel, uma mulher pela
Constituição estadual vigente não
pode aspirar a ocupar a chefia da
Casa Militar nem exercer o comando geral da PM, prerrogativas dos oficiais do quadro masculino da corporação.
Segundo o comandante-geral
da PM de São Paulo, coronel
Eclair Teixeira Borges, não há inconstitucionalidade na nomeação
da coronel Fátima porque o Executivo usou um expediente: "A
coronel Fátima foi classificada na
vaga de coronel da Secretaria de
Segurança Pública e adida à Casa
Militar. Na prática, ela responde
pelo expediente da Casa Militar,
mas não tem status de secretária".
"O governo aplicou uma "cangalha" [passou para trás quem deveria ser promovido, na gíria militar]. Isso bagunça a hierarquia da
corporação", disse à Folha um coronel da ativa, com a condição de
não ser identificado.
O coronel da reserva Ubiratan
Guimarães (PTB), famoso por seu
envolvimento no massacre de 111
presos no Carandiru, em 1992,
disse que a nomeação da coronel
Fátima "foi lamentável".
Segundo Guimarães, em declaração registrada pelo "Diário Oficial do Poder Legislativo", a policial "está na corporação há 23
anos, enquanto os coronéis PM
preteridos têm, todos eles, mais
de 35 anos de serviços prestados".
"O governador comprou uma
briga boba com a corporação",
diz um sócio da Associação dos
Oficiais PMs.
Procurada no Palácio dos Bandeirantes, a nova chefe da Casa
Militar não quis dar entrevistas
ontem. Mas, em maio de 2000,
uma reportagem da revista "Marie Claire", com o título "Descubra o segredo dessas mulheres",
trazia um perfil da então tenente-coronel Fátima. No mesmo texto,
vinham as biografias de outras
mulheres -uma "dominatrix"
sadomasoquista, uma palhaça,
uma mãe-de-santo, uma tatuada,
uma juíza de futebol. "Fátima é
vaidosa, adora um vestido e não
dispensa batom e blush. "Antes de
tudo sou mulher'", ficava-se sabendo pela reportagem.
Dona de uma carreira "brilhante", segundo o coronel Eclair, a
coronel Fátima, uma mulher
"mignon" de 1,58 m, dirigia o Comando de Policiamento de Área
Metropolitana 4, na zona leste da
capital, antes de assumir a chefia
da Casa Militar. Também comandou o 30º Batalhão, que opera na
região do Grande ABC (SP).
"Dizer que uma pessoa pode comandar o policiamento de área, e
não a Casa Militar, só porque é
oficial policial feminino, e não
PM, é de um machismo a toda
prova", diz o coronel Eclair.
A deputada Rosmary Corrêa
(PSDB), primeira titular de uma
delegacia especializada em crimes
contra a mulher, perguntava ontem: "Por que ela não pode ser
nomeada? Só porque ela é
mulher?"
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