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Procuradoria investiga Naya por fraude trabalhista
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
A Procuradoria da República no
Distrito Federal começou a investigar suspeitas de fraudes cometidas pela construtora Sersan, do
deputado Sérgio Naya (sem partido-MG), para demitir operários
sem pagar encargos trabalhistas.
Naya é acusado de participar da
principal fraude apontada contra
a empresa -a demissão de operários em Brasília sob a alegação de
que eles abandonaram o emprego
após recusarem oferta de transferência para Osasco (Grande SP).
O envolvimento de Naya nessas
demissões é citado em depoimento prestado pelo funcionário da
Sersan Erival Mariano Passos, em
maio de 97, ao juiz da 6ª Junta da
Justiça do Trabalho em Brasília,
Mauro Goés.
Ele foi convidado a depor a favor
da empresa, mas acabou acusando
o dono da construtora de forjar
transferência para demitir operários. Em resposta a uma pergunta
do juiz sobre a rotina de desligamento de pessoal na Sersan, Passos disse que "o sr. Sérgio Naya
não manda nenhum empregado
embora e sim transfere."
Segundo a testemunha, Naya comunica pessoalmente as transferências aos empregados. No depoimento, afirma: "Apenas o dono da empresa (Sérgio Naya) tem
poderes para dispensar pessoal."
Passos depôs em ação trabalhista
movida pelo operário Roberto
Mendes. Ele foi demitido no dia 14
de abril de 97, com outros 13 operários que trabalhavam no edifício
que a Sersan está construindo ao
lado do Hotel St. Paul, um dos
imóveis do deputado em Brasília.
"Não recebi nenhuma proposta
de transferência", afirmou Mendes à Folha.
O juiz interpretou a revelação de
Passos como uma prática ilegal
para livrar a empresa do pagamento dos encargos trabalhistas
relativos à demissão sem justa
causa, como a multa de 40% sobre
o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Segundo o juiz, essa prática de
demissão se inclui entre os crimes
contra a organização do trabalho
previstos no Código Penal.
Um dos indícios da suposta
fraude trabalhista é a inexistência
de obras em andamento em Osasco. As obras estão embargadas há
dois anos. Por isso, os operários
não poderiam ser transferidos. O
juiz comunicou o depoimento de
Passos à Procuradoria Regional do
Trabalho, que instaurou inquérito
civil público para apurar as irregularidades apontadas contra a Sersan. No dia 13 de fevereiro passado, a procuradora regional do
Trabalho, Evany Selva, encaminhou o caso à Procuradoria da República.
A Polícia Federal deverá instaurar inquérito na próxima semana.
Para ouvir o deputado, a PF precisará obter autorização do Supremo Tribunal Federal.
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