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Alunos de engenharia são pagos apenas para estudar
Estudantes ganham bolsas de empresas sem trabalhar, devido à disputa no mercado
Uma fabricante de tubos paga R$ 750 para 40 alunos da USP, ITA e FEI, apenas para que eles mantenham contato com a empresa
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a uma intensa disputa no mercado por estagiários e recém-formados em engenharia, alunos da área têm
recebido uma proposta tentadora: auxílio financeiro em troca apenas da manutenção de
um relacionamento com a empresa. Sem precisar trabalhar.
O benefício é oferecido, por
exemplo, pela TenarisConfab,
fabricante de tubos de aço soldado, que fornece material para a Petrobras. Aos melhores
estudantes do ITA, USP e Centro Universitário da FEI, a empresa dá uma bolsa mensal de
R$ 750. Neste ano, são 40 alunos participantes do programa.
Os beneficiados não precisam cumprir carga horária nem
se comprometer a seguir na
empresa após a formatura. A
única contrapartida é continuar o curso. Podem até estagiar em outros lugares.
"Queremos apresentar a empresa aos alunos com bom desempenho e também ajudá-los
a manter os estudos", afirma
Ivani Silveira, gerente de seleção da TenarisConfab.
"Aqui na Poli as empresas
caem matando atrás de estudantes", disse Rafael Bechelli
Paviato, 23, que está no quinto
ano da Escola Politécnica da
USP e é um dos beneficiados
pelo programa. "A bolsa é uma
forma de a Confab se apresentar aos alunos. Ajuda a pagar a
república onde moro."
A aproximação que a empresa pretende fazer com os estudantes já surtiu efeito para Álvaro Guilherme Junqueira dos
Santos, 22, da USP. Após ganhar a bolsa, ele se inscreveu no
programa de estágio da empresa e passou. Agora, acumula
dois auxílios financeiros. "Com
a bolsa, conheci como funciona
a empresa e me interessei."
Diferentemente do caso da
TenarisConfab -que possui
um programa articulado de
bolsas que não exigem carga
horária de trabalho-, outras
empresas adotam iniciativa semelhante, de forma esporádica.
"Tive alunos que foram fazer
estágio de dois meses e a empresa, para garantir que eles seguissem lá depois de se formarem, estenderam a ajuda até o
final do ano, sem que precisassem cumprir uma carga horária", diz o coordenador do curso de engenharia mecânica da
Unesp, Edson Del Rio Vieira.
"Como o mercado está muito
aquecido, as empresas estão
tentando pegar o engenheiro
ainda dentro da escola", afirma
o vice-diretor da Poli-USP, José Roberto Cardoso.
A intensa procura por engenheiros e estagiários da área está ligada ao crescimento econômico do país nos últimos anos,
que chegou em 5,4% em 2007,
após um período de estagnação. Com a expansão, cresce a
necessidade de contratação de
profissionais em diversas áreas.
"O problema é que temos
poucas pessoas formadas em
áreas ligadas à engenharia. Isso
se reflete na busca pelos nossos
estudantes", afirma o reitor do
Centro Universitário da FEI,
Marcio Rillo.
Dados internacionais reforçam a análise de Rillo. Segundo
a OCDE (organização que reúne os países desenvolvidos),
4,5% dos brasileiros com título
de graduação se formaram na
área de engenharia. A proporção na Coréia do Sul é de 27,1%,
e no Chile, de 15,6%.
"Não temos uma quantidade
suficiente de estudantes saindo
da universidade na especialização que precisamos", afirma o
gerente do programa de especialização da Embraer, Sidney
Lage. A solução da empresa foi
chamar engenheiros de áreas
diferentes da aeronáutica para
treinar dentro da empresa.
O mercado aquecido traz reflexos nos salários. De acordo
com o Confea (Conselho Federal dos Engenheiros), a média
de vencimentos de engenheiros recém-formados subiu da
faixa de R$ 1.000 a R$ 1.500 em
2006 para R$ 4.000 a R$ 6.000
neste ano.
A disputa acirrada por estagiários beneficia não apenas os
alunos no final do curso.
"Como os estudantes do terceiro e quartos anos estão todos com estágio, as empresas
vão atrás dos que estão no segundo e terceiros anos", afirma
o diretor da Escola de Engenharia do Instituto Mauá, Mário Cavaleiro Fernandes Garrote. Segundo dados da escola, o
número de alunos com estágio
subiu 20% entre 2006 e 2007.
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