São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2005

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SEGURANÇA

Major perde cargo no PR por considerar "acidente de trabalho" morte de rapaz

Comandante cai após agressão de PMs

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O comandante da Polícia Militar em Londrina (PR) foi afastado ontem pelo governo do Estado após declarar a morte de um rapaz de 20 anos, espancado por PMs no sábado à noite, foi um "acidente de trabalho" .
Outros 30 policiais também foram afastados das suas funções. Dois deles, apontados como os agressores, estão detidos no quartel da PM da cidade.
O carregador de verduras Jamys Smith da Silva morreu dentro de um veículo da PM após apanhar dos policiais em casa por, segundo testemunhas, se recusar a abaixar o volume do aparelho de som.
O então comandante do batalhão da cidade, major Manuel da Cruz Neto, foi destituído após uma entrevista à TV Paranaense em que chamou de "acidente de trabalho" a morte do rapaz. "É um fato que eu classifico como acidente de trabalho e contra o qual o comando vai tomar todas as providências, não deixando passar impune", disse.
Em nota, o governador Roberto Requião (PMDB) disse não admitir "o distanciamento [da PM] da comunidade, principalmente quando esse distanciamento se converte em abusos, em crimes cometidos por quem tem a responsabilidade de proteger a população". Segundo o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, a declaração "denunciou erro de postura [atitude]".
As primeiras informações da necropsia feita no corpo de Silva pelo IML (Instituto Médico Legal) apontam que a morte foi causada por uma hemorragia no fígado.
A mãe dele, Sueli da Silva, e um amigo afirmaram que o rapaz apanhou até ser levado a um hospital. Ela afirma ainda que um policial teria quebrado um cassetete de madeira batendo em seu filho.
Segundo a mãe, o filho nem foi atendido no pronto-socorro, porque já teria chegado morto. Segundo ela, os policiais esconderam a informação da morte até a vinda de um carro do IML para retirar o corpo do veículo da PM.
Os 30 policiais afastados são do Batalhão de Choque e participaram da batida policial no bairro em que Silva morava. Eles atendiam a um chamado dos vizinhos, que reclamaram de barulho. Um IPM (Inquérito Policial Militar) foi aberto para apurar a participação dos envolvidos.
O coordenador da Promotoria de Investigações Criminais de Londrina, Leonir Batisti, disse que os dois agressores do rapaz devem responder a inquérito por homicídio doloso (com intenção de matar) se o promotor do IPM considerar que é caso para julgamento na Justiça comum.
Procurado pela Agência Folha, o major Cruz Neto não foi localizado depois da notícia da perda do comando.


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