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Jornalista da Rede Globo é vítima de atentado
Edson Ferraz trabalhava em reportagens sobre possíveis crimes cometidos por policiais civis na Grande São Paulo
Dois tiros foram disparados na direção do carro do jornalista, mas ele não se feriu; a Corregedoria da Polícia Civil investiga o crime
ANDRÉ CARAMANTE
LUÍS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O jornalista Edson Antonio
Ferraz, 25, da TV Diário de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), afiliada da Rede Globo, sofreu um atentado na noite de
anteontem. Ele retornava de
São Paulo após apurar informações para reportagens sobre
três casos em que policiais civis
são acusados de crimes como
lavagem de dinheiro, corrupção e roubo.
Sozinho, Ferraz trafegava pela avenida Lothar Waldemar
Hoehne, no bairro Rodeio,
quando a picape Montana
-com o logotipo da TV Diário- que ele dirigia foi fechada
por um Voyage, no qual estavam dois encapuzados. O motorista do Voyage, segundo o
jornalista, atirou duas vezes em
sua direção, mas os tiros não o
atingiram nem ao veículo.
Em nota oficial, a Rede Globo
afirmou que o atentado "foi um
ato de violência sórdida contra
a liberdade de imprensa.
O caso é investigado pela
Corregedoria da Polícia Civil,
que apura possíveis crimes cometidos por policiais civis. A
iniciativa de registrar o caso na
corregedoria partiu do repórter
e da emissora, por conta de sua
atuação profissional. À Corregedoria, Ferraz informou que,
cinco horas antes do crime, recebeu uma ligação alertando
sobre o risco de um atentado.
O repórter disse à Folha que
não sabe dizer quem teria interesse em atacá-lo. "Quando entrei na rotatória, um carro escuro, que parecia um Voyage,
veio por trás e me fechou. O
motorista desceu e fez dois disparos. Na hora não pensei em
nada, não sabia o que estava
acontecendo", disse.
Recado
De acordo com José Antônio
Ayres de Araújo, delegado da
corregedoria, até a noite de ontem as investigações apontavam que o atentado "foi um recado", "uma tentativa de intimidação contra ele".
Mesmo assim, o boletim de
ocorrência n.º 215/2008 sobre
o caso foi registrado como: 1º)
disparo de arma de fogo; 2º)
ameaça. "Foi um atentado, entre aspas", disse Araújo.
Sobre o local escolhido pelos
criminosos para o ataque, o delegado disse: "Indica que procuraram um local mais ermo
para poder cometer esse atentado entre aspas".
De acordo com Araújo, a corregedoria pedirá à Justiça a
quebra do sigilo telefônico de
Ferraz para descobrir quem foi
que ligou para o celular do jornalista e disse "para ele tomar
cuidado pois estavam armando
algo contra ele".
A Folha apurou que essa ligação, feita em tom de aviso,
segundo o próprio Ferraz, partiu de um policial civil de Mogi.
Uma fonte jornalística de Ferraz, que chegou a aparecer sem
identificação em uma reportagem dele, também foi pressionada na quinta-feira.
Segundo funcionários da TV
Diário, ainda na noite de quinta
a direção da empresa determinou que todos os profissionais
que estavam na rua a trabalho
voltassem para a emissora e reforçou a segurança da equipe. A
TV Diário não se manifestou.
Depois de registrar boletim
de ocorrência na corregedoria,
Ferraz e sua mulher deixaram
Mogi das Cruzes. Ele ficará em
outra cidade do Estado de São
Paulo até a direção da Rede
Globo decidir seu destino; sua
mulher deixou o Estado.
Ontem, a reportagem tentou
entrevistar o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e o delegado-geral da
Polícia Civil, Maurício José Lemos Freire, mas eles não se
manifestaram sobre o crime.
Chefe imediato dos policiais
denunciados em reportagens
de Ferraz, o delegado seccional
de Mogi das Cruzes, Carlos José Ramos da Silva, também não
quis se manifestar ontem.
Como parte das reportagens
feitas recentemente por Ferraz
apontava que donos de desmanches e de prostíbulos pagavam propina para policiais do
Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) de
Mogi das Cruzes, outro departamento especial da Polícia Civil, o Deic (setor especializado
em roubos e crime organizado), também apura o atentado.
Promotoria
As investigações sobre o
atentado contra Ferraz serão
acompanhadas por três promotores -José Mário Buck Marzagão Barbuto, Marcelo Alexandre de Oliveira e Silvio Loubeh- do Gaerco (Grupo de
Atuação Especial Regional de
Combate e Repressão ao Crime
Organizado), do Ministério Público de Guarulhos.
Segundo os promotores, nenhuma hipótese pode ser descartada na investigação.
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