São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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Jornalista da Rede Globo é vítima de atentado

Edson Ferraz trabalhava em reportagens sobre possíveis crimes cometidos por policiais civis na Grande São Paulo

Dois tiros foram disparados na direção do carro do jornalista, mas ele não se feriu; a Corregedoria da Polícia Civil investiga o crime

ANDRÉ CARAMANTE
LUÍS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Edson Antonio Ferraz, 25, da TV Diário de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), afiliada da Rede Globo, sofreu um atentado na noite de anteontem. Ele retornava de São Paulo após apurar informações para reportagens sobre três casos em que policiais civis são acusados de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e roubo.
Sozinho, Ferraz trafegava pela avenida Lothar Waldemar Hoehne, no bairro Rodeio, quando a picape Montana -com o logotipo da TV Diário- que ele dirigia foi fechada por um Voyage, no qual estavam dois encapuzados. O motorista do Voyage, segundo o jornalista, atirou duas vezes em sua direção, mas os tiros não o atingiram nem ao veículo.
Em nota oficial, a Rede Globo afirmou que o atentado "foi um ato de violência sórdida contra a liberdade de imprensa.
O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil, que apura possíveis crimes cometidos por policiais civis. A iniciativa de registrar o caso na corregedoria partiu do repórter e da emissora, por conta de sua atuação profissional. À Corregedoria, Ferraz informou que, cinco horas antes do crime, recebeu uma ligação alertando sobre o risco de um atentado.
O repórter disse à Folha que não sabe dizer quem teria interesse em atacá-lo. "Quando entrei na rotatória, um carro escuro, que parecia um Voyage, veio por trás e me fechou. O motorista desceu e fez dois disparos. Na hora não pensei em nada, não sabia o que estava acontecendo", disse.

Recado
De acordo com José Antônio Ayres de Araújo, delegado da corregedoria, até a noite de ontem as investigações apontavam que o atentado "foi um recado", "uma tentativa de intimidação contra ele".
Mesmo assim, o boletim de ocorrência n.º 215/2008 sobre o caso foi registrado como: 1º) disparo de arma de fogo; 2º) ameaça. "Foi um atentado, entre aspas", disse Araújo.
Sobre o local escolhido pelos criminosos para o ataque, o delegado disse: "Indica que procuraram um local mais ermo para poder cometer esse atentado entre aspas".
De acordo com Araújo, a corregedoria pedirá à Justiça a quebra do sigilo telefônico de Ferraz para descobrir quem foi que ligou para o celular do jornalista e disse "para ele tomar cuidado pois estavam armando algo contra ele".
A Folha apurou que essa ligação, feita em tom de aviso, segundo o próprio Ferraz, partiu de um policial civil de Mogi. Uma fonte jornalística de Ferraz, que chegou a aparecer sem identificação em uma reportagem dele, também foi pressionada na quinta-feira.
Segundo funcionários da TV Diário, ainda na noite de quinta a direção da empresa determinou que todos os profissionais que estavam na rua a trabalho voltassem para a emissora e reforçou a segurança da equipe. A TV Diário não se manifestou.
Depois de registrar boletim de ocorrência na corregedoria, Ferraz e sua mulher deixaram Mogi das Cruzes. Ele ficará em outra cidade do Estado de São Paulo até a direção da Rede Globo decidir seu destino; sua mulher deixou o Estado.
Ontem, a reportagem tentou entrevistar o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício José Lemos Freire, mas eles não se manifestaram sobre o crime.
Chefe imediato dos policiais denunciados em reportagens de Ferraz, o delegado seccional de Mogi das Cruzes, Carlos José Ramos da Silva, também não quis se manifestar ontem.
Como parte das reportagens feitas recentemente por Ferraz apontava que donos de desmanches e de prostíbulos pagavam propina para policiais do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) de Mogi das Cruzes, outro departamento especial da Polícia Civil, o Deic (setor especializado em roubos e crime organizado), também apura o atentado.

Promotoria
As investigações sobre o atentado contra Ferraz serão acompanhadas por três promotores -José Mário Buck Marzagão Barbuto, Marcelo Alexandre de Oliveira e Silvio Loubeh- do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Guarulhos.
Segundo os promotores, nenhuma hipótese pode ser descartada na investigação.


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