São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Butantan não tinha sistema anti-incêndio

Prédio do instituto que pegou fogo no sábado contava apenas com extintores, que deveriam ser acionados manualmente

Em dezembro, curadores enviaram à Fapesp projeto que pedia sistema de detecção de fumaça e combate automático a incêndio

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O prédio do Instituto Butantan que pegou fogo no sábado, onde ficavam os acervos de serpentes e artrópodes em formol e álcool, não tinha sistema automático de combate a incêndio. Projetado nos anos 1960, contava apenas com extintores, que deveriam ser acionados manualmente.
Em dezembro, um grupo de curadores encaminhou à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) um projeto de melhorias estruturais e administrativas nos acervos do Butantan orçado em cerca de R$ 1 milhão.
Um dos pontos destacados era a necessidade de instalação de sistemas de detecção de fumaça e combate automático a incêndio. Assim que o calor e a fumaça fossem detectados, um alarme seria disparado e gás seria liberado para apagar o fogo.
No sábado, o incêndio começou às 7h45. Não havia ninguém no prédio para acionar os extintores e grande parte do acervo foi destruída -o local abrigava a maior coleção de cobras do mundo.
Procurada pela Folha, a Fapesp não se pronunciou.
Um dia após o evento, o clima ontem entre os funcionários do Butantan era de desolação e indignação.
"É uma tragédia da proporção do incêndio da biblioteca de Alexandria", disse o curador da coleção de serpentes, Francisco Luís Franco.
Amanhã, quando o prédio interditado deve ser liberado para os funcionários, ele pretende fazer um levantamento mais exato da perda. "Só a coleção de serpentes tinha 85 mil exemplares. É possível que alguns não tenham sido queimados. Vamos fazer esse resgate."
Para esse trabalho, Franco vai contar com cientistas que viajaram de outros Estados para ajudar na reorganização dos acervos. É o caso do biólogo da UFRJ Paulo Passos, que veio do Rio logo que teve a notícia.
"Vim com um grupo de pesquisadores para tentar ajudar. Ficamos chocados com a notícia", disse Passos.
Entre os funcionários, a hipótese que se discute sobre a causa do incêndio é uma obra no gerador do prédio.
O equipamento teria sido desligado para revisão e, ao ser ligado novamente, teria sobrecarregado a rede elétrica e provocado um curto-circuito.
Em meio à grande quantidade de álcool no local, uma mera faísca pode ter provocado o estrago. "Temos que usar essa tragédia como bandeira para convencer a sociedade a estabelecer políticas de preservação dos acervos", disse Franco.

Improviso
Funcionário do instituto há 34 anos, o serpentista Antonio Carlos Barbosa teve que improvisar. Ele é responsável por receber e armazenar os animais levados ao instituto.
Com a interdição do prédio após o incêndio, teve que abrigar em sua casa os dez bichos entregues -incluindo um jabuti, que ficou livre no quintal, uma jararaca, guardada dentro de uma caixa, uma aranha e mais três cobras dormideiras, armazenadas em vidros.
As coleções de cobras e artrópodes perdidas no incêndio -o maior acervo do tipo no mundo- eram usadas em pesquisas científicas e ajudavam a estabelecer critérios para políticas de saúde. Decisões como o tipo de soro enviado para cada Estado eram tomadas levando em conta informações obtidas ali.
"Pesquisadores que estavam fazendo mestrado ou doutorado perderam o trabalho de anos com isso", disse o biólogo Rodrigo Gonzalez, 29, bolsista da Fudap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo).
Hoje, a Polícia Civil decidirá se instaura inquérito para investigar o incêndio. O laudo pericial só deve ser divulgado daqui a um mês.


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