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Shopping dá R$ 40 mil para morador de favela se mudar
Terreno será incorporado à área verde de um condomínio de R$ 1,5 bilhão
Custo da desocupação da
favela do Jardim Panorama é
de R$ 2,8 milhões; morador
só recebe cheque quando
casa começa a ser demolida
João Wainer/Folha Imagem
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Muro divide novo empreendimento bilionário de casas pobres vizinhas; prefeitura foi à Justiça para reaver terreno |
JOÃO WAINER
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
A construtura JHSF está distribuindo cheques de R$ 40 mil
para retirar cada uma das 70 famílias invasoras de um terreno
que será parte do projeto de um
shopping-condomínio orçado
em R$ 1,5 bilhão, que terá apartamentos de até R$ 18 milhões.
As casas formam parte da favela do Jardim Panorama, na
zona sul de São Paulo.
O custo total da desocupação,
cujo acordo foi assinado após
reuniões das partes para que a
ação de despejo não seja levada
adiante, é de R$ 2,8 milhões -a
construtora não confirma valores, mas a Folha teve acesso a
comprovantes de depósito.
No terreno, a construtora estenderá a área verde do condomínio, que será cercada por um
muro. Do lado de lá, a favela
continua, em área da prefeitura, que tenta judicialmente o
despejo dos barracos.
Na última quarta-feira, uma
fila de caminhões de mudança
aportou na favela. Era preciso
que a casa começasse a ser demolida para o morador receber
o cheque -a maioria acertou
pagar o valor da compra da moradia nova no dia da mudança.
Com os R$ 40 mil, é possível
comprar, por exemplo, uma casa de um quarto na Pedreira
(divisa com Diadema, a cerca
de 15 km da favela).
O empreendimento, batizado de Parque Cidade Jardim,
terá shopping, spa e 13 torres,
entre residenciais e comerciais.
O morador poderá trabalhar,
comprar e ir ao médico sem ultrapassar os muros do local.
Lambaris e preás
Maria Gomes, 66, conta que
chegou lá nos anos 1960. "Meu
marido pescava lambari para o
nosso almoço no rio Pinheiros.
Essa rua toda era uma horta
que eu cuidava, até que as pessoas foram chegando do Norte
passando por dificuldades."
Os moradores estão divididos sobre a mudança. A desempregada Leila Aparecida Suzano, 29, é favorável.
"Saio de um barraco de madeira com dinheiro na mão para comprar
uma casa num bairro longe,
mas no meu nome. Vou finalmente ter algo para deixar para
meus filhos", diz ela, que irá para o Jardim Guarujá (zona sul).
Já a empregada doméstica
Marluce Gomes de Lima, 44,
que trabalha no Itaim, lamenta
a remoção. "Comprei uma casa
em Vargem Grande Paulista e
agora, em vez de levar 20 minutos até meu trabalho, vou levar
duas horas e meia para ir e o
mesmo tempo para voltar. Rico
não gosta de pobre mesmo, eles
querem nos ver longe" reclama.
Álvaro Puntoni, professor da
FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da USP), critica o acordo. "Sei que o terreno é
particular e que, se eu fosse favelado, adoraria ganhar os
R$ 40 mil, mas a lógica é um
pouco perversa. A elite blinda o
carro para resolver o problema
da segurança. Nesse caso da
construtora, poderia se pensar
em uma solução com poder público para abrigar a população
no espaço onde ela já vive."
Colaborou VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
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