São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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Lula, Exército e senador são alvos de críticas em enterro

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

De emprego novo e com a perspectiva de fazer as pazes com a namorada, o auxiliar de pedreiro Wellington Gonzaga da Costa Ferreira, 19, esperava com ansiedade o início desta semana. "Hoje ia ser o dia mais feliz da vida dele", berrava ontem Lilian Gonzaga da Costa, inconformada, no velório do filho, conhecido como Negão.
Ferreira e os amigos Marcos Paulo Rodrigues Campos, 17, e David Wilson Florenço da Silva, 24, foram enterrados ontem à tarde no cemitério São João Batista, na zona sul do Rio.
Centenas de moradores do morro da Providência protestavam contra o presidente Lula, o Exército e o responsável pelo projeto de reforma das casas do morro, o senador e pré-candidato à prefeitura do Rio Marcelo Crivella (PRB).
Dos três jovens, dois tinham passagem pela polícia -Ferreira por associação para o tráfico, quando era menor de 18 anos, e Silva por porte de arma e corrupção de menores.
"Ele [Ferreira] foi levado para a delegacia para averiguação, quando era menor, e foi liberado. Ele não devia nada a ninguém, e ia começar a trabalhar na obra", disse sua mãe, sobre o projeto Cimento Social. Segundo ela, o jovem estava feliz com a contratação e esperava fazer as pazes com a namorada Tamires, que fez 16 anos ontem.
Na capela 9, a avó de Silva também ressaltava a boa índole do neto, que deixou uma filha de seis anos que mora com a mãe. O rapaz morava com a avó, Benedita Florenço Monteiro, 68, que o criou.
"Ele fazia tudo por mim, me levava no médico, no banco, no mercado", disse. Segundo ela, ele estava terminando o ensino médio e, assim como Ferreira, trabalharia nas obras da comunidade. O plano do rapaz, porém, era continuar estudando.
A poucos metros dali, na capela 7, outra avó chorava a perda do neto. Elenita Zacarias da Silva, 64, segurava entre as mãos um boné de Marcos Paulo Rodrigues Campos, que cursava a sexta série. "Ele era um garoto calmo, uma pessoa boa. A gente passa até mal [de ver o que fizeram com ele]."
Moradores do morro da Providência desde pequenos, os jovens costumavam jogar futebol no aterro do Flamengo ou na Vila Olímpica da Gamboa, nas proximidades da favela.


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