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"Pobres devem ter o direito de andar armados"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
No momento em que o Brasil
discute o aumento do controle de
armamentos, nos Estados Unidos
faz sucesso o livro do economista
John R. Lott, que defende as armas e do direito de usá-las.
Lott, um ex-professor das universidades de Stanford e Chicago,
é autor do best-seller "More
Guns, Less Crimes" (mais armas,
menos crimes), que se tornou, a
partir de 1998, uma espécie de bíblia dos defensores de leis pró-armas nos Estados Unidos.
Em entrevista à Folha, Lott defendeu que as pessoas mais pobres no Brasil ganhem o direito legal de andar armados.
"Tenho certeza de que muitos
políticos e os ricos no Brasil andam com seguranças armados.
Eles entendem os benefícios das
armas, não? O que vocês fazem,
no entanto, para proteger as pessoas que não tem dinheiro para
pagar um segurança ou um carro
blindado?", questiona.
Lott é um radical pró-armas. Ele
faz parte do American Enterprise
Institute (AEI), um conceituado e
polêmico "think-tank" de Washington. Ligado ao Partido Republicano, o AEI reúne especialistas
de várias áreas de interesse dos
conservadores.
Seu novo livro, "The Bias
Against Guns" (o preconceito
contra as armas), investiga, a partir de pesquisas e estatísticas, o
papel da mídia americana no que
ele chama de "campanha sistemática contra o direito que as pessoas têm de se defender". Leia a
seguir trechos da entrevista:
Folha - Não é natural que exista
um preconceito na sociedade contra as armas de fogo?
John R. Lott - As informações
que as pessoas obtêm sobre armas
vêm da mídia ou do governo. Nenhum dos dois está dando à sociedade uma perspectiva muito balanceada sobre os custos e benefícios das armas. Armas contribuem para para que muitas coisas
ruins aconteçam, mas também fazem com que seja mais fácil às
pessoas se defenderem.
A mídia constantemente destaca apenas as coisas ruins que
acontecem quando há armas envolvidas. As estatísticas mostram,
no entanto, que as pessoas usam
até 4,5 vezes mais armas para se
defender do que para cometer crimes que resultam em mortes.
Folha - Se existem mais armas em
uma sociedade, é muito mais fácil
às pessoas, com boas ou más intenções, acabarem conseguindo um
revólver. Isso é obvio, não?
Lott - Vamos imaginar o seguinte: amanhã todas as armas devem
ser banidas nos Estados Unidos.
Quem você acha que vai entregar
suas armas para as autoridades?
Só as pessoas mais honestas, não
os criminosos. Tenho certeza de
que haveria um aumento nos crimes violentos, pois os criminosos
teriam, de um dia para o outro,
menos com que se preocupar.
Folha - Países como o Reino Unido têm leis extremamente restritivas e pouquíssimos crimes relacionados a armas de fogo. Como o sr.
explica isso?
Lott - Os ingleses sempre tiveram uma taxa de crimes com armas de fogo muito baixa, mesmo
antes do banimento no país.
Atualmente, o Reino Unido tem
uma taxa de assassinatos muito
menor do que nos EUA, mas essa
diferença vem diminuindo.
Folha - No Brasil, há uma grande
polêmica entre os que defendem a
proibição total das armas, o porte
em alguns casos e a liberalização
geral. Segundo dados da ONU, 89%
dos assassinatos no país ocorrem
pelo uso de armas de fogo.
Lott - Tenho certeza de que muitos políticos e pessoas ricas no
Brasil andam com seguranças armados. Eles entendem os benefícios das armas, não? O que vocês
fazem, no entanto, para proteger
as pessoas que não tem dinheiro
para pagar um segurança armado
ou um carro blindado?
Na minha opinião, as pessoas
que mais se beneficiariam de uma
liberalização seriam justamente
as que vivem em áreas mais pobres nas grandes cidades e que
não contam com a ajuda da polícia para se defender.
Eu já estive no Brasil. Estive em
São Paulo e achei muito estranho
o fato de vocês terem carros de
polícia parados no meio da rua,
em zonas ricas e movimentadas,
com as luzes ligadas como se quisessem dizer: ""Ei, nós estamos
aqui". Mas, não muito longe dali,
crimes estão acontecendo, especialmente nas zonas mais pobres.
Parece-me óbvio que, especialmente em um país pobre como o
Brasil, a polícia não tenha condições de lidar com todos os crimes.
Por isso acredito que as pessoas
deveriam poder se defender por
elas mesmas.
Folha - O sr. tem uma arma? Já
usou uma para se defender?
Lott - Comprei uma há alguns
anos. Não precisei usá-la até hoje.
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