São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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Delegado é acusado de cobrar bancos por investigação

Ofícios enviados ao BB e ao Bradesco relatam prisão de suspeitos de clonar cartões

Cada documento, assinado pelo policial, termina com o pedido de R$ 20 mil, relativos ao gasto com a investigação que resultou nas prisões

Caio Guatelli-14.jun.07/Folha Imagem
Policial durante a operação Strike, na qual a Polícia Civil de São Paulo prendeu acusados de integrar uma quadrilha que clonava cartões magnéticos

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado Ricardo Guanaes Domingues, de Osasco (Grande São Paulo), é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil sob suspeita de ter pedido R$ 40 mil para dois bancos para cobrir supostos gastos de uma investigação que culminou com a prisão de quatro suspeitos de clonar cartões bancários.
O pedido de investigação do crime de corrupção passiva e de falta administrativa contra o delegado foi feito pela promotoria da 2ª Vara Criminal de Sorocaba (100 km de SP).
Domingues é responsável pela delegacia do Meio Ambiente e pelo setor de inteligência em Osasco. Em 2003, ele investigou o assassinato do juiz-corregedor de Presidente Prudente (565 km de SP) Antônio José Machado Dias e, em 2002, as mortes de Manfred e Marísia von Richthofen.
As prisões das quatro pessoas que desencadearam a investigação contra o delegado Domingues ocorreram em 14 de junho, quando a Polícia Civil de São Paulo realizou a megaoperação Strike e deteve 2.532 pessoas em todo o Estado. A equipe de Domingues fez as prisões em Sorocaba.
Como a lei determina que o processo corra no município onde foi feita a prisão, o inquérito iniciado em Osasco foi enviado a Sorocaba.
Ao receber os documentos, a Promotoria de Sorocaba achou, entre os papéis, os dois ofícios assinados pelo delegado com o pedido de dinheiro.
Os ofícios estavam em papel com o timbre do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), órgão que coordena a Polícia Civil na Grande São Paulo.

"Grandioso evento"
Um deles era endereçado ao "ilustríssimo senhor gerente do departamento Dia e Noite", do Bradesco, e o outro era para o "gerente do núcleo de Segurança" do Banco do Brasil.
Nos ofícios, após narrar os supostos crimes contra os dois bancos e citar nominalmente os quatro presos em Sorocaba, consta a seguinte frase: "Diante do exposto, solicito dessa ilustre gerência o destino de verba de R$ 20.000,00, montante este que foi gasto durante todo o período da investigação, com relação ao (sic) colaboradores desse grandioso evento".
A Promotoria de Sorocaba, então, informou a Justiça da existência dos dois ofícios com os indícios do pedido de dinheiro aos bancos para custear a investigação policial.
Solicitou, ainda, que a investigação sobre a suposta quadrilha de clonadores de cartões bancários saísse das mãos de Domingues e ficasse com a polícia de Sorocaba.
Segundo Domingues, os dois ofícios, apesar de anexados ao inquérito sobre a suposta quadrilha de clonadores de cartões e enviados à Promotoria de Sorocaba, "nunca foram entregues aos dois bancos" (leia texto na pág. C3).
No dia 29 de junho, os quatro acusados foram soltos, mas o inquérito policial ainda continua, pois a Promotoria pediu uma nova série de investigações sobre o caso.


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