São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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MARIA INÊS DOLCI

Gol contra


O que fazer: leitores, se puderem evitar, não viajem de avião. Para trajetos curtos, façam a viagem de ônibus

NUNCA PENSEI QUE , um dia, fosse me lembrar com saudade da frase "a única saída para o Brasil é o aeroporto". Viajar de avião, há quase um ano, é uma forma de sadomasoquismo neste país.
Por que voltar a um assunto tão batido, tão repisado em todo este período? Porque constatamos, mais recentemente, que as companhias aéreas também participam ativamente do caos aéreo.
Exemplos esclarecem mais do que teorias -então vamos lá. Um casal e sua filha programaram, com antecedência, sua viagem a Buenos Aires, destino favorito de milhares de brasileiros, principalmente neste inverno de 2007, o mais rigoroso dos últimos anos.
Compraram as passagens no site da Gol -companhia da qual são clientes há muitos anos- e lá também pesquisaram e reservaram hotel na capital portenha.
A passagem e a reserva de hotel foram feitas no final de março para uma viagem no feriadão paulista de 9 de julho. No começo de maio, chegou o primeiro alerta da Gol, com troca do vôo para horários totalmente incompatíveis com o que o casal e a filha planejaram. Explicação: "ajuste na malha aérea".
Como eles não aceitaram, houve um "ajuste" para os dias e horários inicialmente definidos. Tudo certo, então? Não. Os vôos de ida e volta seriam pela Varig, então, não havia localizador para segurança dos passageiros.
Em seguida, na semana que antecedeu a viagem, multiplicaram-se as ligações de um "setor de acomodação" para pressionar os viajantes a aceitar mudanças de itinerário, inclusive com alegações de que o vôo havia sido cancelado.
No dia da viagem, depois de extrair "a fórceps" o localizador, o casal e a filha chegaram muito mais cedo do que o necessário ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP). E enfrentaram um jogo de empurra entre a Gol (onde teriam de iniciar o check-in) e a Varig.
Somente a boa vontade de uma funcionária da Varig e a teimosia da passageira evitou que perdessem o vôo, como ocorreu com outros passageiros em situação semelhante.
Todo esse estresse, desrespeito e desconsideração não impediram que o trio se divertisse em Buenos Aires, e que desfrutasse, como bônus, da neve que se precipitou sobre a cidade, no último dia 9 de julho, após 89 anos de ausência.
Mas ficou um gosto amargo na boca, a certeza de que, no Brasil, as instituições funcionam mal. Afinal, as multas aplicadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) às companhias aéreas, desde a criação da agência, em 2006, até hoje, não chegam a R$ 90 mil.
O que fazer: leitores, se puderem evitar, não viajem de avião. Para trajetos curtos, prefiram ônibus. Se tiverem de enfrentar o caos aéreo, registrem tudo, guardem as notas e entrem na Justiça. Mas não esperem muito, pois as empresas aéreas aproveitam o total desinteresse das autoridades dos três Poderes pelo assunto para fazer overbooking, disfarçado em expressões como "ajuste da malha aérea". Um autêntico gol contra.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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