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MARIA INÊS DOLCI
Gol contra
O que fazer: leitores, se puderem evitar, não viajem de avião. Para trajetos curtos, façam a viagem de ônibus
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NUNCA PENSEI QUE , um dia,
fosse me lembrar com saudade da frase "a única saída
para o Brasil é o aeroporto".
Viajar de avião, há quase um ano, é
uma forma de sadomasoquismo
neste país.
Por que voltar a um assunto tão
batido, tão repisado em todo este
período? Porque constatamos,
mais recentemente, que as companhias aéreas também participam
ativamente do caos aéreo.
Exemplos esclarecem mais do
que teorias -então vamos lá. Um
casal e sua filha programaram, com
antecedência, sua viagem a Buenos
Aires, destino favorito de milhares
de brasileiros, principalmente neste inverno de 2007, o mais rigoroso
dos últimos anos.
Compraram as passagens no site
da Gol -companhia da qual são
clientes há muitos anos- e lá também pesquisaram e reservaram hotel na capital portenha.
A passagem e a reserva de hotel
foram feitas no final de março para
uma viagem no feriadão paulista de
9 de julho. No começo de maio, chegou o primeiro alerta da Gol, com
troca do vôo para horários totalmente incompatíveis com o que o
casal e a filha planejaram. Explicação: "ajuste na malha aérea".
Como eles não aceitaram, houve
um "ajuste" para os dias e horários
inicialmente definidos. Tudo certo,
então? Não. Os vôos de ida e volta
seriam pela Varig, então, não havia
localizador para segurança dos
passageiros.
Em seguida, na semana que antecedeu a viagem, multiplicaram-se
as ligações de um "setor de acomodação" para pressionar os viajantes
a aceitar mudanças de itinerário,
inclusive com alegações de que o
vôo havia sido cancelado.
No dia da viagem, depois de extrair "a fórceps" o localizador, o casal e a filha chegaram muito mais
cedo do que o necessário ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos
(Grande SP). E enfrentaram um jogo de empurra entre a Gol (onde teriam de iniciar o check-in) e a Varig.
Somente a boa vontade de uma
funcionária da Varig e a teimosia da
passageira evitou que perdessem o
vôo, como ocorreu com outros passageiros em situação semelhante.
Todo esse estresse, desrespeito e
desconsideração não impediram
que o trio se divertisse em Buenos
Aires, e que desfrutasse, como bônus, da neve que se precipitou sobre
a cidade, no último dia 9 de julho,
após 89 anos de ausência.
Mas ficou um gosto amargo na
boca, a certeza de que, no Brasil, as
instituições funcionam mal. Afinal,
as multas aplicadas pela Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil)
às companhias aéreas, desde a criação da agência, em 2006, até hoje,
não chegam a R$ 90 mil.
O que fazer: leitores, se puderem
evitar, não viajem de avião. Para trajetos curtos, prefiram ônibus. Se tiverem de enfrentar o caos aéreo, registrem tudo, guardem as notas e
entrem na Justiça. Mas não esperem muito, pois as empresas aéreas
aproveitam o total desinteresse das
autoridades dos três Poderes pelo
assunto para fazer overbooking, disfarçado em expressões como "ajuste
da malha aérea". Um autêntico gol
contra.
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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