São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003


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SAÚDE

Projeto do governo começa a ser implementado nesta semana; meninos e meninas entre 15 e 19 anos vão receber preservativos

Escola pública dará camisinha para aluno

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não estranhe se passar a encontrar entre os cadernos de sua filha exemplares de camisinha. É que, a partir desta semana, os ministérios da Educação e da Saúde iniciam um projeto de distribuição de preservativos masculinos nas escolas públicas -para meninos e meninas entre 15 e 19 anos.
Os protestos são esperados. "Vamos ter problemas, com certeza", diz Maria Cecília Carlini Macedo, coordenadora do projeto na Secretaria Municipal da Educação de São Paulo. Segundo ela, os pais preferem repassar o problema para a escola, mas "se recusam a pensar que o filho já se iniciou sexualmente" -especialmente quando se trata de filha.
O projeto será lançado na terça-feira, em Curitiba. Até o final deste mês, será iniciado em outras quatro cidades, Rio Branco e Xapuri, no Acre, São José do Rio Preto (SP) e São Paulo.
Até julho de 2004, 105 mil alunos da rede pública vão recebendo oito preservativos por mês, chegando a 2,5 milhões de alunos até 2006. Em três anos, estarão sendo oferecidas 235 milhões de unidades anualmente, a um custo de US$ 7 milhões.
Estima-se que existam no país 8,9 milhões de alunos no ensino fundamental entre 15 e 19 anos. Segundo Cecília Macedo, a iniciação sexual em São Paulo se dá em média aos 14,5 anos -30% dos jovens têm vida sexual ativa. "Não estamos promovendo a iniciação sexual. Estamos trabalhando com quem já se iniciou", diz.
Essa é uma das críticas esperadas, embora uma pesquisa da Unesco, feita em 14 capitais em 2001, mostre pais e alunos mais receptivos à idéia. Segundo a pesquisa, 84% dos pais que participaram de atividades de prevenção promovidas pela escola são favoráveis à distribuição de preservativos no colégio. Em média, 40% das escolas utilizam preservativos em atividades demonstrativas -90% dos alunos com vida sexual ativa mudaram comportamento "após intensa exposição" às atividades de prevenção.
A questão está justamente na qualidade dessas atividades, que exigem capacitação dos professores e continuidade. "Na rede municipal de São Paulo, já há um trabalho em andamento, mas não se pode dizer o mesmo de todo o país", diz Antonio Carlos Egypto, psicólogo e coordenador do projeto de orientação sexual nas escolas pelo GTPOS, uma ONG de pesquisa e orientação sexual.
Outra pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, com 2.186 escolas, mostra que 70% dos estabelecimentos desenvolvem atividades educacionais contra Aids e DSTs. No geral, cerca de 40% das escolas disseram ter professores capacitados para isso.
O outro lado dos números, no entanto, mostra que o projeto é necessário e que há muito por fazer. Em 36% das escolas ouvidas, ocorreram casos de gravidez entre menores de 18 anos. Segundo o Ministério da Saúde, 5.597 casos de Aids foram registrados entre 13 e 19 anos. Entre 1999 e abril deste ano, o SUS realizou 210.946 partos em meninas de 10 a 19 anos e atendeu 219.834 casos de curetagem por aborto.
A educadora Maria Luisa Eluf defende a iniciativa do governo. Diretora da Semina Educativa, ela já produziu 260 mil kits para a rede municipal de ensino, com preservativo e material educativo. Agora, 10 mil kits estão sendo usados pelo Programa Saúde da Família. "É uma forma de atrair os jovens aos postos de saúde."


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