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No Enade, 61% vieram da rede pública
Percentual de estudantes em alguns cursos já ultrapassa os 50% -exigência do projeto de cotas para universidades federais
Explicação está em parte das áreas analisadas ser de cursos de licenciatura, que, tradicionalmente, atraem alunos de renda menor
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Resultados do perfil socioeconômico de alunos que concluíram cursos de graduação
avaliados pelo Enade (Exame
Nacional de Desempenho de
Estudantes) 2005 mostram
que, em média, 60,6% fizeram
o ensino médio em escola pública. Além disso, 33,6% se declararam pretos ou pardos e
29% pertencem a famílias com
renda de até três salários mínimos por mês.
Em meio aos debates sobre a
adoção de cotas em universidades federais, os dados traduzem em números um argumento discutido no meio acadêmico. O projeto de cotas será praticamente nulo para alguns
cursos em que o percentual de
alunos egressos do ensino médio da rede pública já ultrapassa os 50% atualmente.
O perfil dos estudantes que
concluíram cursos em 12 áreas
avaliadas no ano passado pelo
Enade, exame que substituiu o
Provão, demonstra isso.
Desde 2002, quando as mesmas áreas foram analisadas, o
patamar de egressos da rede
pública entre formandos está
próximo de 60%.
Ou seja, essas áreas não precisam de cotas porque já atendem ao que está na proposta
que tramita no Congresso.
Projeto
O projeto -aguardando votação na Câmara- reserva a
metade das vagas de todos os
cursos de universidades federais para egressos do ensino
médio público. Entre elas, há
proporção para pretos e pardos
segundo a população do Estado
onde a instituição fica.
Uma das explicações para a
média das 12 áreas avaliadas no
ano passado ultrapassar o índice exigido é o fato de a maior
parte delas ser de cursos de licenciatura -história, letras,
matemática, pedagogia. Tradicionalmente, atraem estudantes de renda menor.
Quando o foco é a renda, nota-se um pequeno aumento no
percentual de formandos que
pertencem a famílias com até
três salários mínimos mensais.
Passou de 24,6% em 2002 para
29% no ano passado.
Tendência de alta
A tendência de crescimento é
verificada também entre os que
se declaram pretos e pardos.
Subiu de 28% para 33,6% no
mesmo período.
Apesar de não poder comparar diretamente, por se tratar
de outras áreas, o perfil dos alunos obtido no Enade 2004 ilustra a diferença no ensino superior. Naquele ano, quando cursos considerados de "elite", como medicina e odontologia, foram avaliados, 34,7% dos estudantes eram egressos da rede
pública. Só 20,7% se declararam pretos e pardos e 17,5% tinham renda familiar de até três
salários mínimos.
Para o diretor de Estatísticas
e Avaliação da Educação Superior, Dilvo Ristoff, esses resultados mostram que a política
educacional precisa combinar
aumento de vagas com políticas
afirmativas temporárias.
"Se a oportunidade é igual
para todos, a entrada de alunos
mais pobres e vindos da rede
pública no ensino superior vai
acontecer naturalmente", diz
Ristoff, que coordena no Inep
(Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais) a
área responsável pelo Enade.
O diretor lembra porém que
mesmo o índice de 60% de
egressos da rede pública ainda
fica aquém dos dados globais do
ensino médio, já que 88% das
matrículas nessa etapa estão
em escolas estaduais, municipais e federais.
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