São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Cidades se mobilizam para mudar traçado do trem-bala

Principais queixas dos municípios são em relação a impactos ambientais e urbanísticos

São José dos Campos é principal foco de resistência; UFRJ diz que trilhos cortam área que está reservada para a expansão do campus

Flavio Pereira/"Valeparaibano"
Banhado, área de preservação ambiental em São José dos Campos, onde deve passar o trem-bala que ligará SP e Rio

ALENCAR IZIDORO
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na vizinhança, a promessa de um trem-bala monopoliza as atenções. Alguns ansiosos para viajar a São Paulo ou ao Rio numa velocidade de 350 km/h. Outros com medo de ter suas casas isoladas pelo muro ou cercas do empreendimento -e longe de qualquer estação.
Com tanto bafafá, José Carlos Cescon resolveu vasculhar sozinho, na internet. "Você não imagina meu susto. A obra passa bem em cima do clube", afirma ele, gerente do Thermas do Vale, ponto de lazer com 8.000 associados em São José dos Campos (a 97 km de SP) e que está lá há mais de uma década.
A divulgação no site oficial www.tavbrasil.gov.br do traçado de referência do trem-bala para interligar Campinas, SP e Rio já mobiliza moradores e donos de terra que temem ser afetados no trajeto de 511 km.
Os questionamentos vão das desapropriações aos impactos ambientais e urbanísticos.
O projeto do governo federal é estimado em R$ 34,6 bilhões e prometido para 2014, ano de Copa do Mundo no Brasil.
Um dos principais focos de resistência é São José dos Campos, onde políticos adversários (do PSDB ao PT) se uniram num mesmo lobby: fazem questão da presença do TAV (Trem de Alta Velocidade, nome técnico do trem-bala) por lá, mas num traçado diferente.
Na última sexta, encaminharam um pedido oficial de mudança ao governo Lula (PT) -cujos técnicos ressalvam que a proposta divulgada não é a final, mas só uma referência.
A ressalva de maior apelo é a ambiental: a obra passa em cima de um cartão-postal conhecido como concha do Banhado, uma área de proteção. "O pulmão de São José dos Campos", diz Marcelo Guedes, dirigente da Associação de Engenheiros e Arquitetos do município.
O traçado também atinge imóveis de classe média e contorna condomínios de alto padrão, que temem ficar isolados.
No Rio, a maior reação partiu da UFRJ (Universidade Federal do Rio). Motivo: pela proposta, os trilhos passariam entre o Centro de Letras e Arte e o Centro de Tecnologia Mineral, no campus da ilha do Fundão, na zona norte da cidade.
O reitor Aloísio Teixeira afirma que o trem comprometeria os projetos de expansão previstos no Plano Diretor 2020, homologado pelo MEC.
No último dia 6, o Conselho Universitário aprovou uma moção desautorizando qualquer intervenção no campus.
Teixeira considerou exíguo o período de consulta popular (de 24 de julho até 17 de agosto de 2009). "A impressão que dá é que não se quis fazer uma discussão verdadeira."
O estudo do trem-bala (preparado por uma consultoria britânica antes da licitação, prevista para este semestre) estima que 90% do trajeto de superfície, de 312 km, seja bloqueado por cercas e arame farpado. O restante, com muro dentro da área urbana.
Os gastos para adquirir terras, indenizar e reassentar 618 famílias ultrapassam R$ 2,26 bilhões -suficiente para construir 10 km de metrô (tamanho da linha 2-verde em SP).
A previsão é que 18% do traçado total seja de túneis -que somam 31% do custo da obra.
Porém, a solicitação em lugares que são alvo do trajeto, como São José dos Campos e Campinas, é justamente para que a circulação seja subterrânea -o que deve encarecer ainda mais os custos.
"Queremos evitar a criação de uma barreira geográfica", diz Hélio de Oliveira Santos (PDT), prefeito de Campinas.


Colaborou a Sucursal do Rio


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