São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2011

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São Paulo libera grafites patrocinados

Empresa que pagar por obra artística poderá ter sua marca exposta de forma discreta nos paredões dos edifícios

Nova regra vale para prédios públicos e particulares de toda a cidade; agora painéis podem ser permanentes


VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

Laterais de edifícios paulistanos que, antes da Lei Cidade Limpa, de 2007, abrigavam anúncios publicitários gigantes, estão sendo agora liberadas pela prefeitura para grafiteiros e muralistas.
A fim de tentar viabilizar economicamente os trabalhos, a cidade abrirá uma brecha na legislação que baniu outdoors e regulou a publicidade externa: a empresa que pagar por uma obra poderá ter a marca exposta de forma discreta no prédio.
Há outra possibilidade de propaganda: o painel poderá fazer menção indireta ao produto do patrocinador, mas não pode ser o tema da obra.
Artistas dizem que um mural de grandes dimensões custa de R$ 20 mil a R$ 70 mil em tintas e equipamentos.

EXPERIÊNCIA
O projeto-piloto foi feito com um grafite de Osgemeos em um edifício do vale do Anhangabaú, no centro.
A obra, patrocinada pelo Sesc, foi aprovada em 2009 em caráter provisório. Por fim, decidiu-se que ela poderia continuar no local até a demolição do prédio, que deve ocorrer ainda neste ano.
A partir dessa experiência, a SPUrbanismo, da prefeitura, decidiu que as obras poderão ser aprovadas em caráter permanente. Duas já podem ser vistas nas avenidas Tiradentes e Prestes Maia, também na região central.
A primeira é um mural de Eduardo Kobra, em preto e branco, que retrata uma cena antiga da cidade. O trabalho foi patrocinado pelo Senac.
O outro mural, em estilo pop art, é de Daniel Melim. Foi patrocinado pela KLM. A empresa aérea, inclusive, abriu mão do direito de colocar publicidade no local. Preferiu usar imagens do painel para associá-lo à sua marca em redes sociais da internet.
"O ideal é que a empresa perceba que não precisa ter o nome no painel. A associação com a marca pode ser feita de outro jeito", diz Regina Monteiro, diretora de paisagem urbana da SPUrbanismo.
As intervenções terão que ser aprovadas caso a caso, mas a meta é "desburocratizar" ao máximo o processo, que deve levar dois dias.
Se a empresa quiser ter o nome na obra -o limite da propaganda é de 60 cm por 40 cm-, a autorização deverá sair em um mês, pois é preciso aval da Comissão de Proteção da Paisagem Urbana.

ESPAÇO PARA TODOS
Segundo Regina, a prefeitura não julgará o mérito do trabalhos. "A ideia é que todas as manifestações tenham espaço na cidade."
A única restrição, segundo ela, é para obras "pesadas", com motivos "tristes", a fim de que não influenciem negativamente na paisagem.
Ana Cláudia Mei Alves de Oliveira, professora da PUC e especialista em semiótica do espaço urbano, critica a autorização para marcas colocarem seus nomes nos murais. Isso vai interferir negativamente na percepção dos painéis, afirma a professora.
Para ela, se houver excesso de murais, "uma expressão particular da sociedade pode virar poluição visual".
O grafiteiro Mundano comemorou a iniciativa da prefeitura. Um dos maiores entraves, agora que o grafite foi liberado nesses locais, é conseguir os patrocínios, diz ele.
"A tinta a gente até consegue. O mais caro são as plataformas" afirma o artista. Além disso, diz Mundano, há os condomínios, "que estavam acostumados a ganhar fortunas alugando os espaços para publicidade e chegam a pedir até R$ 10 mil".


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