São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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NARCOTRÁFICO

Em conferência no Rio, governadora declara que Estado está vivendo "momento amargo", mas que não vai "recuar"

Benedita afirma sentir a força do crime

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Em meio à crise ocasionada pela rebelião com quatro mortos no presídio de Bangu 1 na semana passada, a governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), disse ontem, pela primeira vez, que seu governo está "pressionado pelo crime organizado".
"Não podemos prescindir da participação da sociedade nesse processo. Na esfera do governo do Estado do Rio de Janeiro, em poucos meses de um governo fortemente pressionado pelo crime organizado e pela violência, temos trabalhado nessa direção. São noites e mais noites indormidas no Estado do Rio de Janeiro", afirmou a governadora, enquanto defendia a instituição de mecanismos para garantir a transparência na área de segurança pública.
"Nós, no Estado do Rio de Janeiro, estamos vivendo momentos amargos", afirmou a governadora diante da platéia da 1ª Conferência Internacional de Controle Externo de Polícia, no Rio.
Benedita criticou o uso do episódio de Bangu como munição eleitoral e disse que o governo não recuará diante do crime. "Estamos reagindo, não vamos recuar, nossa estratégia está correta. combatendo e punindo os responsáveis", afirmou Benedita.

Desipe
O governo suspeita da conivência dos agentes penitenciários de Bangu 1 com a rebelião. Os amotinados, todos da facção criminosa CV (Comando Vermelho), conseguiram armas, álcool e chaves para abrir as celas dos rivais.
A governadora mudou a direção do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) e nomeou para o cargo o major da PM Hugo Freire, 40. Com isso o Desipe, embora administrativamente subordinado à Secretaria de Justiça, terá maior ingerência da Secretaria de Segurança e da Polícia Militar.
Freire disse que reativará a correição interna do órgão, encarregado de investigar denúncias contra os agentes. Ele chamou para cuidar do setor o tenente-coronel da PM Cid Souza Sá. Oficiais da PM dirigirão alguns presídios, afirmou o novo diretor.
Os agentes penitenciários ameaçaram fazer greve porque não aceitam ser afastados da guarda dos presídios. Ontem, a categoria fez assembléia, mas decidiu que não haverá paralisação.
O major Hugo Freire também afirmou que combaterá a corrupção nos presídios e aumentará o controle de benefícios dos detentos, como visitas.
Bangu 1, considerado de segurança máxima, não está mais sob o controle da administração do Desipe, e sim sob a guarda de policiais civis e militares. O mesmo deverá acontecer em Bangu 3.

Beira-Mar
O secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, disse ontem no Rio que não vê razões para que o traficante Fernandinho Beira-Mar seja considerado um preso federal.
Silva Filho afirmou que, embora tenha sido capturado na Colômbia e seja processado por tráfico internacional de drogas, Beira-Mar tem no Rio a maior parte dos processos em que é réu. "Bastaria um crime praticado no Rio como motivo para mantê-lo aqui", afirmou o secretário.


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