São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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SEGURANÇA

No Estado, 7% dos investigados são punidos

Denúncia de corrupção afeta mais a polícia do Rio, afirma pesquisa

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Um estudo do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania) com base em dados das ouvidorias de cinco Estados mostra que a polícia do Rio é a mais denunciada por corrupção e a que menos pune os investigados.
Entre as Polícias Militares do Rio, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, a PM fluminense é a que mais mata: no Rio, a taxa de civis mortos pela PM era de 3,5 por 100 mil habitantes em 2001. Em São Paulo, era de 1,6. No Rio Grande do Sul, de 0,2.
Ao mesmo tempo, a PM fluminense sofre mais homicídios: enquanto em 2001 a taxa no Rio era de 27,3 por 10 mil policiais, em São Paulo era de 15,6, e de 1,6 no Rio Grande do Sul.
No total, o Cesec coletou dados do Rio, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Pará e em Minas, mas só os três primeiros traziam dados sobre mortes de PMs e praticadas por eles. Os números dizem respeito a períodos variados, de acordo com o tempo de existência de cada ouvidoria.
No Rio, as denúncias de corrupção representam 29,9% do total entre março de 1999 e março de 2002. A seguir, vêm denúncias de violência (24,3%). Em São Paulo, 25,6% das denúncias são de violência policial, seguidas de críticas à qualidade do policiamento. Em Minas, abuso de autoridade (55,8%) e violência (15,2%) são as queixas mais comuns.
"Essas denúncias variam de acordo com as tradições locais. No Pará, por exemplo, há um histórico de grupos de extermínio, de uma polícia mais violenta. No Rio, o jogo do bicho e o crime organizado fizeram surgir a corrupção", afirma a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores descobriram que, no geral, as denúncias encaminhadas pelas ouvidorias às corregedorias internas das polícias resultam em pequeno número de punições para os policiais.
Dessas denúncias, em São Paulo foi registrado o maior percentual de punições administrativas: 26%. O Rio teve a menor: 7,4%. As ouvidorias dizem não ter condições de acompanhar se o policial foi levado à Justiça.
A coordenadora da pesquisa, a socióloga Julita Lemgruber, é integrante da equipe de segurança do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela defendeu uma mudança na Constituição para que as ouvidorias possam investigar as denúncias, e não apenas recebê-las.

Governo
A governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), disse que a maior parte da polícia é honesta, mas que o Estado tem sido vítima da corrupção policial.
"Não podemos nos entregar à hipocrisia e fechar os olhos para as evidências que dão conta de corrupção em nosso aparato policial", afirmou.
Ela defendeu a ampliação dos controles externos da polícia e citou como exemplo a Corregedoria Geral Unificada, que investiga denúncias contra policiais.


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