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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Gravações indicam que policiais mantinham criminosos em cárcere privado e vendiam cargas roubadas

Escutas revelam rede de corrupção em DP

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
O investigador Ivan Raymondi Barbosa e o delegado Nicola Romanini em depoimento à CPI da Pirataria; ambos negaram crimes


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Escutas telefônicas e investigações do Ministério Público Federal sobre o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, conhecido como Lobão, revelaram muito mais do que um esquema de proteção policial a cargas contrabandeadas ou roubadas. Também flagraram casos crônicos de corrupção, como o do 33º DP (Pirituba), transformado em um balcão de negócios ilegais, segundo a CPI da Pirataria e a Procuradoria da República de Brasília.
O investigador Ivan Raymondi Barbosa e o delegado Nicola Romanini, que atuavam no 33º DP no ano passado e que tiveram a prisão temporária decretada anteontem, apareceram nos grampos feitos pela Procuradoria não só como os autores de uma fracassada tentativa de extorquir dinheiro de Lobão.
Segundo a CPI, transcrições de escutas telefônicas mostram que eles pediram ao contrabandista US$ 40 mil para liberar dois caminhões com cigarros, mas acabaram remanejados para outros distritos, fato que pessoas envolvidas na investigação interpretam como uma mostra da influência de Lobão na polícia paulista.
Escutas revelaram também esquema que envolvia extorsão a outros criminosos e escolta a caminhões com cargas ilegais, entre outros crimes, e que abrangia, além da capital, Jundiaí e Santos.
Criminosos eram mantidos em cárcere privado até aceitarem pagar para ser soltos. Cargas apreendidas eram revendidas. Segundo a Procuradoria, pessoas ligadas aos policiais se aproximavam de caminhoneiros para convencê-los a registrar falso boletim de ocorrência sobre roubo ou furto. Com ajuda dos policiais, diz a Procuradoria, a carga era desviada.
De acordo com os grampos e investigações do Ministério Público Federal, policiais do 33º DP contavam com pelo menos dois informantes para apontar criminosos a serem extorquidos.
Escutas telefônicas mostram um caso ocorrido em janeiro passado. Um informante apontou uma pessoa que tinha de 300 a 400 frascos de lança-perfume. Policiais prenderam o portador dos frascos e apreenderam o material, que foi logo repassado para uma pessoa ligada aos policiais.
Em depoimento à CPI ontem, Barbosa e Romanini negaram conhecer o contrabandista de cigarros. Também negaram envolvimento com extorsão e cargas contrabandeadas ou roubadas.


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