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URBANIDADE
Alta-costura
MUSEU LASAR SEGALL Museus manifestam a presença das forças destruidoras do tempo e dos homens: se o mundo se empenhasse unânime em sua própria conservação, jamais teria surgido um museu. Antes ainda de ver as obras, o espírito do visitante mergulha numa espécie de euforia contemplativa: sente que seu desejo de ordem e de resistência terá a chance de se traduzir em experiência. (VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Guilherme Guimarães não usa celular, não
tem e-mail, não navega na internet e não dirige automóvel
-nem sente falta de nada disso,
prefere simplificar a vida. Por isso quis fazer de São Paulo uma
província, com ares de cidade interiorana, adaptada a quem, como ele, não quer morar cercado
num condomínio de luxo, detesta dirigir automóvel e gosta de
resolver seus problemas a pé.
Um dos primeiros costureiros
brasileiros a fazerem sucesso no
eixo Nova York-Paris, Guilherme aprendeu que as melhores cidades são aquelas que cuidam
dos pedestres. Sua idéia de cidade moderna e civilizada o deixará, na próxima segunda-feira,
no topo de um movimento de
vanguarda.
Será lançada naquele dia a
campanha "A cidade sem meu
carro". Motoristas serão convidados a deixar o carro em casa e
a sair a pé, de bicicleta ou de ônibus. Numa reação ao império
destrutivo do automóvel, esse
movimento se espalhou por mil
cidades européias e ganhou
adeptos em 12 capitais brasileiras, entre as quais Curitiba, Florianópolis e Goiás. O protesto
não mudará o cotidiano de Guilherme Guimarães.
"O trânsito é insuportável. Não
gosto de dirigir. Apenas quando
não tenho alternativa, pego um
táxi", diz Guilherme. Mudou-se
para um apartamento em prédio tombado da avenida São
Luís e montou, no mesmo espaço, seu ateliê e sua residência.
"Aqui tudo é perto. Não preciso
de carro para ir comprar seja lá
o que for."
Chegaram a prever que Guilherme iria afastar a clientela,
formada de socialites, cujas fronteiras se situam entre o Morumbi e o bairro de Higienópolis.
Mas, oferecendo uma volta ao
tempo, seu ateliê virou mais
uma atração. "Muitos dizem
que nunca viveriam aqui, mas,
quando conhecem o lugar onde
moro, eles adoram. Como tenho
o hobby de fuçar apartamentos
vazios, sempre dou dicas de imóveis grandes e baratos."
Está cada vez mais difícil dar
essas dicas. Guilherme faz parte
do grupo de pioneiros -entre os
quais o artista plástico Emanoel
Araújo, o designer gráfico Vincenzo Scarpellini (parceiro nesta
coluna) e o dramaturgo Walcir
Carrasco- que estão redescobrindo e alardeando os encantos
da avenida São Luís, moda entre
descolados. E fazendo escassear
os imóveis desocupados.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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