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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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URBANIDADE

Alta-costura

MUSEU LASAR SEGALL Museus manifestam a presença das forças destruidoras do tempo e dos homens: se o mundo se empenhasse unânime em sua própria conservação, jamais teria surgido um museu. Antes ainda de ver as obras, o espírito do visitante mergulha numa espécie de euforia contemplativa: sente que seu desejo de ordem e de resistência terá a chance de se traduzir em experiência. (VINCENZO SCARPELLINI)

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Guilherme Guimarães não usa celular, não tem e-mail, não navega na internet e não dirige automóvel -nem sente falta de nada disso, prefere simplificar a vida. Por isso quis fazer de São Paulo uma província, com ares de cidade interiorana, adaptada a quem, como ele, não quer morar cercado num condomínio de luxo, detesta dirigir automóvel e gosta de resolver seus problemas a pé.
Um dos primeiros costureiros brasileiros a fazerem sucesso no eixo Nova York-Paris, Guilherme aprendeu que as melhores cidades são aquelas que cuidam dos pedestres. Sua idéia de cidade moderna e civilizada o deixará, na próxima segunda-feira, no topo de um movimento de vanguarda.
Será lançada naquele dia a campanha "A cidade sem meu carro". Motoristas serão convidados a deixar o carro em casa e a sair a pé, de bicicleta ou de ônibus. Numa reação ao império destrutivo do automóvel, esse movimento se espalhou por mil cidades européias e ganhou adeptos em 12 capitais brasileiras, entre as quais Curitiba, Florianópolis e Goiás. O protesto não mudará o cotidiano de Guilherme Guimarães.
"O trânsito é insuportável. Não gosto de dirigir. Apenas quando não tenho alternativa, pego um táxi", diz Guilherme. Mudou-se para um apartamento em prédio tombado da avenida São Luís e montou, no mesmo espaço, seu ateliê e sua residência. "Aqui tudo é perto. Não preciso de carro para ir comprar seja lá o que for."
Chegaram a prever que Guilherme iria afastar a clientela, formada de socialites, cujas fronteiras se situam entre o Morumbi e o bairro de Higienópolis. Mas, oferecendo uma volta ao tempo, seu ateliê virou mais uma atração. "Muitos dizem que nunca viveriam aqui, mas, quando conhecem o lugar onde moro, eles adoram. Como tenho o hobby de fuçar apartamentos vazios, sempre dou dicas de imóveis grandes e baratos."
Está cada vez mais difícil dar essas dicas. Guilherme faz parte do grupo de pioneiros -entre os quais o artista plástico Emanoel Araújo, o designer gráfico Vincenzo Scarpellini (parceiro nesta coluna) e o dramaturgo Walcir Carrasco- que estão redescobrindo e alardeando os encantos da avenida São Luís, moda entre descolados. E fazendo escassear os imóveis desocupados.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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