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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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MORTE NOS JARDINS

Rogério Fasano, dono do apartamento onde Andrea Carta estava, diz que ele ameaçou se jogar e perdeu o equilíbrio

Editor da "Vogue" morre ao cair do 5º andar

DA REPORTAGEM LOCAL

Andrea Carta, diretor da Carta Editorial, que publica a revista "Vogue", morreu na madrugada de ontem após queda do 5º andar de um prédio nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. Ele tinha 44 anos. Carta estava no apartamento de seu amigo de infância Rogério Fasano, 41, dono de um hotel recém-inaugurado e de dois restaurantes, o Gero e o Fasano -um dos mais famosos do país.
A delegada Ana Lúcia Junqueira, plantonista do 78º DP (Distrito Policial), disse que Fasano contou informalmente que Carta chegou embriagado ao seu apartamento, na rua Sarandi, e que começaram a discutir. Fasano disse que iria embora, e Carta ameaçou pular da janela. Desequilibrou-se, caiu, mas conseguiu se agarrar no aparelho de ar-condicionado. Fasano relatou à delegada que tentou resgatá-lo usando uma manta como corda, mas não conseguiu.
As discussões entre Carta e Fasano haviam começado horas antes, no bar do restaurante Fasano, um dos mais sofisticados de São Paulo. Continuaram no restaurante. Eles participavam de uma reunião de trabalho com o jornalista Nirlando Beirão e o diretor de arte Ehr Ray.
Fasano contou à delegada que Carta, já alcoolizado, reclamava que ele não lhe dava mais atenção depois da abertura do hotel, ocorrida há uma semana.
O empresário disse à delegada que decidiu ir para casa. Queria evitar que a discussão gerasse constrangimento no restaurante. Depois disso, Carta apareceu no apartamento do amigo.

Mais discussões
Pelo interfone, Fasano autorizou a sua subida. Começou uma segunda rodada de discussões, segundo a versão do empresário. Fasano disse que iria dormir no seu hotel caso Carta insistisse em ficar no apartamento.
Foi então que Carta ameaçou saltar do quinto andar, sempre segundo o relato informal de Fasano à delegada. O jornalista teria subido em um pufe, se apoiado no parapeito do lado de fora do prédio e perdido o equilíbrio. Carta caiu e morreu antes da chegada do resgate médico.
O porteiro da noite, José Gonçalves da Silva, 54, disse à Folha não ter ouvido a discussão entre os dois; só escutou o baque provocado pela queda do corpo.
A delegada disse que não havia sinais de briga no apartamento após a morte de Carta. "Não havia nenhum indício de violência que possa determinar outra teoria que não o suicídio", afirmou.
Para Junqueira, se é difícil apurar "objetivamente" o que teria provocado a queda de Carta, é praticamente certo que houve "descontrole": "A informação que a gente tem é que eles seriam amigos há muitos anos, e o distanciamento causado por motivos profissionais gerou um conflito por parte da vítima".
Bebida e "nervosismo excessivo" podem ter precipitado a queda, na interpretação da delegada.

Exames
O corpo do jornalista apresentava "politraumatismo", segundo a Folha apurou no IML (Instituto Médico Legal), mas não tinha sinais de violência.
Amostras de tecidos do estômago, do fígado e do intestino foram recolhidas para a realização de exames. Eles devem apontar se Carta havia tomado bebida alcoólica, consumido drogas ou ingerido medicamentos e se ele tinha algum problema de saúde.
Ontem, a delegada determinou que Fasano passasse por exame de corpo de delito no IML. A intenção era apurar se o empresário teria algum tipo de ferimento.
A delegada Elisabete Sato, titular do 78º DP e responsável pelo inquérito que apura a morte, não descarta nenhuma possibilidade. "Não posso afirmar que foi suicídio nem posso descartar a possibilidade de ter havido um homicídio", disse. Ela também avalia a hipótese de ter ocorrido uma queda acidental de Carta.
Todas as testemunhas dos encontros de ontem entre Carta e Fasano deverão ser ouvidas pela polícia. Ontem, apenas um porteiro do hotel prestou depoimento. Outros funcionários do estabelecimento eram esperados à tarde, mas não compareceram. Eles trabalham à noite e têm folga durante o dia.
As famílias Carta e Fasano divulgaram uma nota conjunta à imprensa em que lamentam a "fatalidade ocorrida".
O corpo de Andrea Carta foi enterrado ontem, por volta das 17h, no Cemitério São Paulo, em Pinheiros (zona oeste).


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