São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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FOCO

Mesmo com carteira, paulista é presa ao dirigir nos EUA

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Mesmo alegando ter a documentação necessária para dirigir nos EUA, a estudante brasileira Julia Gottschalk, 19, acabou detida -e algemada- pela polícia do Estado da Geórgia sob a acusação de não ter as licenças válidas.
O caso, levado ao governo estadual, foi parar em TVs e jornais locais e motivou um debate sobre regras de condução para estrangeiros.
Participante de intercâmbio do tipo "au pair" (com atividade de babá) na cidade de Marietta (Geórgia), ela dirigia o carro da família para a qual trabalha. Tinha a carteira de motorista brasileira e também a carteira internacional, o que é confirmado pela polícia local.
Procurado pela Folha, o Departamento de Veículos da Geórgia disse que essa documentação é a necessária. O órgão afirma que a licença local só é exigida de quem tem "status" de residente nos EUA ou para quem ficará no país mais de um ano.
O caso aconteceu no dia 18 de agosto. A jovem, que é paulista, foi liberada depois de pagar fiança de US$ 780 (cerca de R$ 1.300) e ter o status migratório checado. Ela diz "ter certeza" de que foi "confundida com uma imigrante ilegal".
À Folha a polícia local diz que teve motivos para pensar que ela era residente no Estado. "Por ela estar trabalhando aqui e estar no Estado há mais de 30 dias, foi [correto] presumir que era residente", disse o sargento Dana Pierce, do departamento de polícia.
A jovem também é acusada de ultrapassar um sinal vermelho, o que nega. Será julgada no dia 30. Pela lei estadual, falta de licença adequada para dirigir pode render prisão de até um ano.

"HORROR"
"O policial me falou um monte de absurdos, disse que eu devo adorar morar aqui, pois é cheio de brasileiros", conta ela. "Fiquei em pânico. Me colocaram por horas em uma sala cheia de traficantes e ladrões."
O condado de Cobb, onde fica a cidade de Marietta, foi alvo no ano passado de um relatório do grupo de direitos civis americano ACLU por supostos abusos de policiais contra imigrantes.
A polícia local nega qualquer tipo de discriminação.
O Consulado-Geral do Brasil em Atlanta, que acompanha o caso, enviou carta formal para o promotor-geral da Geórgia e contatou a assessoria do governador do Estado.
Mas diplomatas dizem que os próprios advogados públicos divergem sobre a legalidade da prisão -a brasileira terá de convencer o juiz de que ficará menos de um ano no país e que, por isso, estava com as licenças certas.
A Folha consultou quatro empresas de aluguel de carros no Estado. Duas disseram que a carteira do Brasil era suficiente; outras duas, que eram necessárias a brasileira e a internacional. Ninguém perguntou se a repórter era turista ou residente.


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