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VIOLÊNCIA
Seis grupos de fazendeiros assinam termo para tentar conter conflitos que já duram aproximadamente 20 anos
Famílias rivais fazem acordo de paz em PE
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Membros de seis famílias em
confronto há cerca de 20 anos no
"polígono da maconha", em Pernambuco, assinam hoje em Recife
acordo para tentar acabar com os
conflitos que já mataram cerca de
cem pessoas na região.
O termo de paz será assinado às
10h (11h em Brasília), no plenário
da Assembléia Legislativa do Estado, pelos chefes dos clãs -a
maior parte presidiários que
cumprem pena por crimes ligados à guerra entre as famílias.
De um lado estarão os Araquan
e os Gonçalves. Do outro, os Benvindo, os Nogueira, os Simões de
Medeiros (conhecidos por "Russo") e os Gonçalves da Silva (chamados de "os Cláudio").
A solenidade terá a presença
dos deputados da CPI do Narcotráfico e da Pistolagem, que há 90
dias tentam viabilizar o acordo,
com auxílio da Igreja Católica de
Floresta, do Ministério Público e
do Poder Judiciário do Estado.
Segundo o presidente da CPI,
deputado estadual Pedro Eurico
(PSB), ao menos cinco foragidos
envolvidos nos conflitos assinarão o documento, que será levado
a eles em local a ser combinado.
O início
A guerra entre as famílias, donas de fazendas na região, começou com uma discussão entre
adolescentes em uma boate de
Belém do São Francisco, município que faz divisa com a Bahia.
Na briga morreu um Gonçalves,
supostamente assassinado por
um Benvindo. Dias depois, em
tentativa de retaliação, um dos
Araquan, que não estava no conflito anterior, morreu na rua atingido por uma bala perdida.
As mortes uniram Gonçalves e
Araquan contra os Benvindo, que
conseguiram, com o tempo, o
apoio de outros clãs. A guerra se
disseminou até a região entre Belém do São Francisco e Cabrobó.
"O sentimento de vingança só
cresceu com o tempo", disse o
funcionário público Rogério Carvalho Araquan. Para conseguir
armas, os dois grupos passaram a
praticar assaltos e a se envolver
com o plantio de maconha.
Droga e dinheiro roubado são
usados para comprar munição e
armas. O crescimento da violência levou a polícia a recomendar
aos motoristas que não dirigissem
à noite na rodovia que dá acesso
aos dois municípios.
Por dois anos, os ônibus só viajavam à noite em comboios, escoltados por camionetes da PM
com metralhadoras em tripés sobre as carrocerias.
O clima de terror levou integrantes das famílias a fugir da cidade. Rogério Araquan foi um deles. Ameaçado, foi para outro município há um ano e meio. "Não ia
ficar lá para morrer."
Para o deputado Pedro Eurico,
o acordo é "uma mudança de paradigma". "Esperamos que sirva
de exemplo para outras famílias
em guerra no Estado, como os
Ferraz e os Novaes, de Floresta",
disse o presidente da CPI.
Esses clãs disputam há mais de
50 anos o poder político no município, também no "polígono da
maconha". Dezenas de mortes já
foram registradas dos dois lados.
A rivalidade é tão grande que a
polícia proíbe rojões durante festas juninas para que não camuflem eventuais tiroteios.
O uso de capacetes por motoqueiros também é proibido na zona urbana de Floresta, sob alegação de que podem ser usados para
esconder a identidade do assassino em um eventual atentado.
Nos últimos anos, os governos
estadual e federal intensificaram
operações de combate ao crime
organizado na região.
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