São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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VIOLÊNCIA
Seis grupos de fazendeiros assinam termo para tentar conter conflitos que já duram aproximadamente 20 anos
Famílias rivais fazem acordo de paz em PE

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Membros de seis famílias em confronto há cerca de 20 anos no "polígono da maconha", em Pernambuco, assinam hoje em Recife acordo para tentar acabar com os conflitos que já mataram cerca de cem pessoas na região.
O termo de paz será assinado às 10h (11h em Brasília), no plenário da Assembléia Legislativa do Estado, pelos chefes dos clãs -a maior parte presidiários que cumprem pena por crimes ligados à guerra entre as famílias.
De um lado estarão os Araquan e os Gonçalves. Do outro, os Benvindo, os Nogueira, os Simões de Medeiros (conhecidos por "Russo") e os Gonçalves da Silva (chamados de "os Cláudio").
A solenidade terá a presença dos deputados da CPI do Narcotráfico e da Pistolagem, que há 90 dias tentam viabilizar o acordo, com auxílio da Igreja Católica de Floresta, do Ministério Público e do Poder Judiciário do Estado.
Segundo o presidente da CPI, deputado estadual Pedro Eurico (PSB), ao menos cinco foragidos envolvidos nos conflitos assinarão o documento, que será levado a eles em local a ser combinado.

O início
A guerra entre as famílias, donas de fazendas na região, começou com uma discussão entre adolescentes em uma boate de Belém do São Francisco, município que faz divisa com a Bahia.
Na briga morreu um Gonçalves, supostamente assassinado por um Benvindo. Dias depois, em tentativa de retaliação, um dos Araquan, que não estava no conflito anterior, morreu na rua atingido por uma bala perdida.
As mortes uniram Gonçalves e Araquan contra os Benvindo, que conseguiram, com o tempo, o apoio de outros clãs. A guerra se disseminou até a região entre Belém do São Francisco e Cabrobó.
"O sentimento de vingança só cresceu com o tempo", disse o funcionário público Rogério Carvalho Araquan. Para conseguir armas, os dois grupos passaram a praticar assaltos e a se envolver com o plantio de maconha.
Droga e dinheiro roubado são usados para comprar munição e armas. O crescimento da violência levou a polícia a recomendar aos motoristas que não dirigissem à noite na rodovia que dá acesso aos dois municípios.
Por dois anos, os ônibus só viajavam à noite em comboios, escoltados por camionetes da PM com metralhadoras em tripés sobre as carrocerias.
O clima de terror levou integrantes das famílias a fugir da cidade. Rogério Araquan foi um deles. Ameaçado, foi para outro município há um ano e meio. "Não ia ficar lá para morrer."
Para o deputado Pedro Eurico, o acordo é "uma mudança de paradigma". "Esperamos que sirva de exemplo para outras famílias em guerra no Estado, como os Ferraz e os Novaes, de Floresta", disse o presidente da CPI.
Esses clãs disputam há mais de 50 anos o poder político no município, também no "polígono da maconha". Dezenas de mortes já foram registradas dos dois lados.
A rivalidade é tão grande que a polícia proíbe rojões durante festas juninas para que não camuflem eventuais tiroteios.
O uso de capacetes por motoqueiros também é proibido na zona urbana de Floresta, sob alegação de que podem ser usados para esconder a identidade do assassino em um eventual atentado.
Nos últimos anos, os governos estadual e federal intensificaram operações de combate ao crime organizado na região.



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