São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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SAÚDE

Nova técnica evita sessões no pós-operatório e já foi utilizada por 51 mulheres que tiraram tumor na mama

Radioterapia é feita durante cirurgia

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova técnica cirúrgica permite que a mulher com diagnóstico de câncer da mama receba toda a radioterapia necessária em uma única sessão durante a cirurgia de retirada do tumor. Isso evita as seis semanas de radioterapia pós-operatória preconizadas na terapia convencional.
Chamada de "radioterapia intra-operatória", a técnica é indicada a mulheres com tumores de até 3 cm, em que é possível retirar o câncer e preservar a mama. No Brasil, já foi usada em 51 mulheres nos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês (SP) e no hospital da PUC do Rio Grande do Sul.
Em tese, esse método poderia hoje ser utilizado em 30% dos casos de câncer da mama registrados no país-percentual dos que têm diagnóstico precoce. Mas não há previsão de quando ele poderá ser implantado no SUS. O câncer mamário é o que mais mata as brasileiras -por ano são cerca de 41 mil casos e 9.000 óbitos.
A mesma técnica pode ser utilizada para outros tipos de tumor, mas, em geral, são necessárias doses adicionais de quimioterapia para um resultado seguro.
No caso do câncer da mama, além de encurtar o tempo de tratamento radioterápico, o método protege a pele, o tórax, o pulmão, o coração e o restante de tecido glandular sadio, locais que podem ser atingidos com a radioterapia externa. Há também menor risco de queimaduras e cicatrizes na pele, segundo o mastologista Alfredo Barros, do Sírio Libanês.
A expectativa é que a nova técnica também diminua o índice de recidiva do tumor-que ocorre entre 5 e 10% dos casos no tratamento conservador. Porém, pesquisas disponíveis não mostram diferenças nesse aspecto em relação à técnica convencional.
O mastologista Silvio Bromberg, do hospital Albert Einstein, afirma que os casos tratados até agora mostram que a técnica é muito promissora: em uma só dose substitui as 35 sessões de radioterapia tradicional, em que as doses precisam ser fracionadas para evitar a toxicidade local.
Segundo o médico Antonio Frasson, diretor de relações internacionais da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos pioneiros no uso da técnica no Brasil, para que o procedimento fosse possível em dose única de radioterapia, foi preciso estabelecer um cálculo de equivalência de doses-entre a dose total fracionada e a dose única diretamente no tecido. A técnica é considerada experimental.
Para Alfredo Barros, o método vai ajudar especialmente moradoras de outras cidades que procuram um serviço de referência em grandes centros urbanos para fazer a cirurgia da mama e que não podem esperar pelas cinco ou seis semanas da radioterapia.
Além disso, segundo Barros, no método convencional é necessária uma criteriosa análise do momento em que o tratamento deve começar para não interferir com a quimioterapia. "É comum primeiro se priorizar a quimio para depois indicar a radioterapia. Isso pode levar seis, sete meses", diz Barros. Já a aplicação da radioterapia intra-operatória permite o início imediato da quimioterapia. "Do ponto de vista terapêutico, é mais eficaz", diz o médico.
A aposentada Alayde Rodrigues, 64, foi uma das mulheres que utilizou a radioterapia intra-operatória, depois da retirada de um tumor de 2 cm na mama. O câncer havia sido diagnosticado em uma mamografia de rotina. "Tinha hábito de fazer o auto-exame, mas não sentia nada", conta. Moradora em São Caetano do Sul, ela diz que o fato de ter recebido a radioterapia já no ato cirúrgico facilitou a vida. "Seria complicado o deslocamento", afirma. Neste mês, ela completa a quinta sessão de quiomioterapia.


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