São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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Especialistas criticam privilégio

DA SUCURSAL DO RIO

Especialistas ouvidos pela Folha criticaram o privilégio da zona sul carioca na distribuição do policiamento. Para eles, os bairros nobres têm mais policiais do que as regiões mais carentes por razões políticas.
Para o coronel da PM José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública do governo FHC, a distribuição do policiamento deve levar em conta a população da área e os índices criminais. "Isso é um fundamento primário, do século 19", disse.
Silva Filho disse acreditar que o favorecimento da zona sul é por questões políticas e por culpa da própria mídia.
"O que acontece nas áreas mais carentes é considerado mera estatística. Os pobres da periferia não têm expressão. A zona sul repercute mais por causa da mídia. As pessoas de lá têm relação com o chefe de polícia, com o governo e tudo mais", afirmou.
O oficial, que é paulista, disse que o fenômeno que ocorre no Rio não se repete em São Paulo. Segundo ele, pelo menos nos últimos três anos, a polícia paulista tem feito ajustes para acabar com discrepâncias entre as zonas sul e leste, as mais problemáticas, e as norte e oeste, menos violentas.
O pesquisador da Universidade Cândido Mendes, Gláucio Soares, disse que a distribuição do policiamento tem que ser de acordo com a taxa de homicídio da área.
Para Soares, essa discrepância só será resolvida se as autoridades pararem de misturar segurança pública com política.
O sociólogo Cláudio Beato, do Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade) da Universidade Federal de Minas Gerais, disse que o privilégio dado a zona sul acaba transformando as áreas mais pobres, como a Baixada Fluminense, em "guetos".
"Você tem mais polícia para cuidar dos ricos, e deixam as regiões mais pobres deteriorarem, virarem cordões sanitários onde o pau pode quebrar", disse. (MHM)


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