|
Próximo Texto | Índice
Bolsa Família segura criança na escola, mas não o jovem
Em todas as faixas etárias, índice de freqüência escolar é maior entre os que têm o benefício
Dados mostram que, mesmo com a ajuda da União, famílias têm dificuldade para manter os filhos a partir dos 13 anos na escola
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Em todas as faixas etárias de
6 a 20 anos, crianças e jovens de
famílias atendidas pelo Bolsa
Família freqüentam mais a escola do que aquelas que não recebem nenhum benefício. No
entanto, uma análise mais minuciosa desses dados mostra
que, mesmo recebendo ajuda
do governo federal, muitas famílias estão tendo problemas
para manter os filhos a partir
dos 13 anos na escola.
Essa é uma das conclusões de
um estudo da pesquisadora Sônia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade,
que será apresentado hoje no
seminário Educação, Pobreza e
Desigualdade no Brasil, realizado pelo instituto no Rio.
Rocha comparou, a partir da
Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios do IBGE de
2004, o percentual de crianças
e jovens que não freqüentavam
a escola em cada idade. Os dados mostram que, em famílias
que recebem Bolsa Família ou
Bolsa Escola, a proporção dos
que não estudavam variava
pouco de 7 a 13 anos.
Aos 14 e 15 anos, idades em
que as famílias ainda têm que
cumprir a condicionalidade de
manter os filhos estudando, o
percentual dobra mesmo entre
os beneficiados, o que sugere
que nessa idade o programa
não é eficiente para um patamar significativo de adolescentes. Após os 15 anos, quando
não fazem mais parte do programa, essas taxas aumentam
em ritmo ainda mais acelerado.
Aos sete anos, o percentual
de crianças fora da escola nas
famílias beneficiadas é de apenas 3,9%. Esse percentual atinge seu menor patamar aos 11
anos (com apenas 1% de crianças fora da escola) e, aos 13, é
ainda baixo (3%). O problema
detectado por Rocha é que, a
partir daí, as taxas crescem em
ritmo acelerado. Aumentam
para 7,1% aos 14 anos, passam
para 12,7% aos 15, e continuam
aumentando muito até chegar
ao patamar de 78,6% aos 20.
No caso das famílias que não
recebiam o benefício, o resultado é parecido (aumento principalmente a partir dos 13), mas
em patamares ainda maiores.
Esses dados apontam uma
dificuldade, reconhecida pelo
Ministério do Desenvolvimento Social, de manter os jovens
na escola a partir dos 13 anos,
mesmo em famílias que recebem o benefício.
O Bolsa Família é destinado a
famílias com renda mensal por
pessoa de até R$ 120. Uma das
condições para receber o benefício (no caso das famílias com
renda por pessoa entre R$ 60 e
R$ 120) é ter crianças ou adolescentes entre 0 a 15 anos.
Muitos jovens de 16 a 20, no entanto, vêm de famílias que recebem o benefício porque têm irmãos em idade menor.
"A partir dos 13 anos, muitas
crianças apresentam um atraso
escolar muito grande, o que
contribui para a evasão. Além
disso, começam também a sair
para o mercado de trabalho. A
partir daí, uma contrapartida
de R$ 15 ou mesmo de R$ 45
para a família passa a ser irrelevante para manter a criança na
escola", diz Rocha.
A secretária interina do Bolsa
Família, Lúcia Modesto, concorda que há uma dificuldade
maior de manter a criança na
escola após os 13 anos: "A partir
dos 14, o custo para a criança de
ficar na escola não compensa o
que ela poderá ganhar no mercado de trabalho." Ela cita estudo feito pelo governo que mostra que a evasão entre os beneficiados está muito concentrada nessa faixa etária principalmente por causa do trabalho
infantil e da gravidez precoce.
O sociólogo Simon Schwartzman, organizador do seminário
e autor de estudos sobre o impacto dos programas de transferência de renda na freqüência
à escola, defende, porém, que a
razão para a evasão dos jovens
está principalmente na escola.
"Se formos olhar quanto essas crianças ganham no mercado de trabalho, vamos perceber
que não é significativo para aumentar a renda da família. Elas
estão saindo da escola porque
não estão aprendendo. Isso pode ser comprovado pelos resultados muito ruins que as crianças mais pobres têm em exames como o Saeb [que avalia a
qualidade da educação]."
Próximo Texto: Frase Índice
|